As mulheres são maioria no Brasil, sendo 52,6% da população. Atualmente, elas estão conquistando papéis de destaque com cada vez mais frequência, sendo em empresas, na política e também na ciência.
No Brasil, a carreira científica ainda é vista com relutância por grande parcela da população, sobretudo para as mulheres. Segundo dados da UNESCO, no Brasil, apenas 33% das bolsas CAPES de nível superior são destinadas a elas. E o número é ainda menor quando tratamos das ciências exatas e suas ramificações, sendo que 75% das bolsas de pesquisas em exatas são destinadas a homens, tornando uma área quase inteira masculina.
De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mulheres constituem 43,7% das pesquisadoras, apesar de a proporção relativa diminuir com o aumento da faixa etária: 45,9% a 41,5% no grupo de 35 a 54 anos e ao redor de 30% entre 55 e 64 anos. Segundo essa projeção, o número de mulheres vai superar o de homens até o final da década.
Durante a pandemia do novo coronavírus, várias mulheres se destacaram em todos os âmbitos, mas foi no campo científico que elas mais tomaram voz. O destaque feminino foi tanto que, no ENEM PPL de 2021, o tema da redação foi “O Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil”.
Os exemplos nacionais mais conhecidos são: a Dra. Ester Sabino, médica imunologista da USP que foi responsável por sequenciar, junto com sua equipe, o genoma do coronavírus em apenas 48 horas, após o primeiro caso confirmado na América Latina; e também a Dra. Natalia Pasternak, microbiologista que trabalha constantemente contra a desinformação e disseminação de falsas notícias contra a Covid-19.
RIO CLARO E SUAS CIENTISTAS.
Em Rio Claro, as mulheres conquistam cada vez mais espaço na carreira acadêmica. A Unesp de Rio Claro tem em seu corpo docente, um grande número de mulheres que se dedica a pesquisar e difundir os conhecimentos científicos.
O Diário do Rio Claro conversou a professora doutora Renata Zotin de Oliveira, formada em Matemática pela Unicamp e doutora em Matemática Aplicada pela mesma instituição. Atualmente, é coordenadora do curso de graduação em Matemática, na Unesp RC.
Para a Dra. Renata, as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço no mundo científico e estão abrindo portas para as meninas que sonham com uma carreira acadêmica. “As mulheres cada vez mais vêm se destacando nas diversas áreas do conhecimento científico, como foi possível perceber mais claramente em tempos de pandemia. Recentemente tem sido divulgado alguns programas que visam aumentar a participação das meninas/mulheres na ciência, o que é bastante positivo.”
LUGAR DE MULHER É NO CAMPO CIENTÍFICO QUE ELA QUISER
Ainda existe certa discriminação quanto às mulheres que entram no campo das Exatas, que é quase totalmente dominado pelo público masculino. Desde o início da vida escolar, as meninas sempre são incentivadas às áreas humanas. Tal falta de incentivo pode fazer com que as meninas acreditem que essa área não é para elas.
A professora Renata menciona seu relato pessoal ao ser mulher no campo das exatas. “Fiz minha graduação em Matemática e mestrado/doutorado em Matemática Aplicada. Felizmente, nunca encontrei nenhuma resistência por ser mulher, tanto ao longo dos meus anos de estudo, como em meu trabalho”.
Ela continua: “No entanto, o registro da produção científica no Currículo Lattes era o mesmo para homens e mulheres, independentemente de períodos de licença-maternidade. Apenas em 2021 o Lattes incluiu um campo específico para que as pesquisadoras pudessem incluir os períodos gestacionais, justificando pausas e diminuições nas produções científicas”.
GESTAÇÃO E PESQUISA CIENTÍFICA
Para contribuir nesse sentido, foi aprovado pela Unesp um auxílio de 6 meses para pesquisadoras grávidas. Segundo dados, o número de mulheres que abandonam o Mestrado e/ou Doutorado é alto, e com a atual ajuda proporcionada pela Unesp, espera-se que o incentivo faça com que os cérebros femininos permaneçam e ocupem seu espaço.
Além de pesquisadora, a Professora Renata também é mãe de três filhos, sendo que em uma gestação teve gêmeos, e sabe dos desafios impostos pela maternidade. Segundo ela, conciliar a maternidade e a vida acadêmica não é fácil, porém, é possível.
“São fases que passamos e se tivermos o apoio da família e no trabalho, conseguimos continuar na carreira. Sempre tive muito apoio de colegas de trabalho em momentos mais delicados e isso ajuda bastante.”
A professora continua: “Eu diria para as mulheres fazerem o possível para não abandonarem mestrado/doutorado pois as duas coisas são importantes: filhos são bênçãos na vida da gente e o estudo que nos leva ao conhecimento/crescimento como pesquisadora. Conversem com os(as) orientadores para que juntos possam analisar a situação e encontrar uma maneira de conciliar. É assim que procuro fazer com minhas orientandas.”
Ao ser questionada sobre qual mensagem gostaria de passar para as meninas – futuras mulheres da nação – a professora diz: “A minha mensagem é que corram atrás dos sonhos, se informem, conversem com pessoas das áreas que elas têm interesse e sejam resilientes! Nada é fácil, mas com estudo e dedicação certamente irão atingir os objetivos. Acredito que falta divulgação das pesquisas que são realizadas no campo das Exatas para que não sintam ‘medo’ da Matemática, Física e Química, como acontece no Ensino Médio. As mulheres devem ser determinadas em seus estudos. Participem de projetos extracurriculares, ou até mesmo trabalhos voluntários. O despertar pelo conhecimento científico precisa acontecer na Educação Básica através de ações simples, porém, desafiadoras”.
Por Giovanna Rubin / Foto: Divulgação