Numa pequena cidade americana, o xerife, o herói que prendeu os principais bandidos da região, está se casando e, em seguida, viajará em lua de mel.
Soube-se então que o pior dos bandidos foi solto e chegará em pouco mais de uma hora, com mais três de seu bando, para matar o xerife. Imediatamente, o herói da cidade é abandonado: ninguém está disposto a ajudá-lo no duelo mortal. No máximo, seus melhores amigos e aliados lhe sugerem que fuja. Ele não foge – e até sua noiva o abandona naquela hora.
É um dos maiores filmes da história do cinema: Matar ou Morrer, com Gary Cooper e Grace Kelly, direção de Fred Zinneman. À medida que o tempo passa, Cooper vai ficando mais só, diante dos quatro bandidos. Ele os enfrenta; e, claro (é o mocinho), vence. Quando o último bandido é morto, a cidade volta a festejar seu herói. Então é ele que decide ir embora.
O que o filme mostra com mais clareza é que, na hora da festa, todos se juntam. Na hora da tristeza, é cada um por si. Tivesse o bandido sido vitorioso, a vida na cidade continuaria igual, sob nova direção.
Cid Gomes disse aos petistas que Haddad, seu aliado, vai perder feio. Ciro Gomes foi passear na Europa. A senadora Ana Amélia, vice de Alckmin, optou por Bolsonaro. Euclides Scalco, respeitado fundador do PSDB, disse que o importante é derrotar o PT. Não dá para dizer quem vai ganhar a eleição. O que se sabe é que quem está ficando sozinho é Haddad.
Vale a pena ver de novo
O filme ganhou quatro Oscars, lançou Grace Kelly como atriz, sua trilha sonora é excelente. Pode ser visto no Google, na íntegra, e vale a pena. É cultura popular na veia: se os ratos vão embora, o navio está afundando.
Chuchuzão
Haddad, quem diria, tem suas semelhanças com Alckmin. Ambos levam jeitão de tucano. Alckmin nunca soube como deveria ser chamado, Geraldo ou Alckmin; Haddad não sabe se ainda é Lula ou se Lula não é mais, se é vermelho ou verde-amarelo, se é católico de ir à missa ou se isso é o ópio do povo. Em comum, ambos têm aquele charme eleitoral de dar inveja ao Chama o Meirelles. Haddad, aliás, extrapola: para quem acha picante demais o Picolé de Chuchu original, ele é o Picolé de Chuchu light.
Muy amigo
Quando pediu o apoio de Ciro Gomes (e de seu irmão, Cid), o PT não se lembrou de um pequeno detalhe: na ausência de Lula, preso e inelegível, Ciro propôs uma chapa única dos partidos que apoiaram Dilma, tendo-o como candidato à Presidência e Fernando Haddad (ou Jaques Wagner) na vice. Lula vetou a ideia, por dois motivos: primeiro, porque queria fazer o papel de perseguido político, tentando sem êxito, diante da pressão da burguesia e duzianqui, sair como presidente; segundo, porque dar a Ciro a cabeça de chapa equivaleria a colocá-lo no comando geral da esquerda. Lula sabotou Ciro ao máximo. Desistiu até de seu candidato ao Governo de Pernambuco para apoiar o socialista Paulo Câmara, para evitar o apoio do PSB a Ciro. No fim de tudo, pediu o apoio dos Gomes a Haddad. Conseguiu. Mas Ciro viajou e Cid é que vai aos comícios do PT. Horror!
O aliado
Algumas frases de Cid aos petistas: “Fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos do país. E o Brasil não aceita ter dono…” Diante dos petistas que cantavam “olê, olá, Lula, Lula”: “Lula o que? O Lula está preso, babacas! O Lula está preso e vai fazer o que? Deixa de ser babaca, rapaz, tu já perdeu a eleição”.
Bolsonaro tem um vice que adora falar, seja o que for, seja sobre o que for, mas que repercussão isso tem diante dos aliados de seu adversário?
Paga e não bufa
Neste momento, faltando menos de 15 dias para o segundo turno, as campanhas custaram R$ 3,3 bilhões (dinheiro público, ou melhor, nosso). Os candidatos puseram algum dinheiro deles, mas nada excessivo: no total, uns R$ 700 milhões. MDB, PT e PSDB foram os maiores beneficiários de dinheiro público: R$ 616,5 milhões, no total. E tomaram uma surra de criar bicho. Quem gastou mais dinheiro privado foi o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles: R$ 54 milhões. E tomou uma surra de criar bicho.
E, por falar em bicho
O macaco Kaio, filho de pais recolhidos por sofrer acidente, vivia há seis anos numa família humana. O Governo decidiu que, sendo silvestre, deveria ser tirado da família e enjaulado em Florianópolis. Está lá há um ano: não pode receber visitas de pessoas (porque seria violar a lei) nem de macacos (que o matariam por não ser do bando). Kaio nunca será de outro bando, só o de sua família humana. Portanto, a menos que a Justiça se manifeste, ficará enjaulado até a morte. Maltratar os animais não é o espírito da lei – então, por que não devolvê-lo à sua família humana?
Por Carlos Brickmann
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