Mesmo quem não entende de futebol, sabe que o jogo entre dois times acontece de acordo com regras pré-estabelecidas, com os torcedores apoiando ou vaiando e que um árbitro está ali para fazer com que tudo transcorra segundo o combinado. Até aí, sem novidade.
Muito comum algumas decisões do árbitro, o popular juiz, provocar a insatisfação de jogadores, torcedores e analistas esportivos. Mas a torcida beneficiada costuma não reclamar. E o ovo da serpente começa a ser chocado neste exato momento.
O beneficiado de hoje, poderá ser o prejudicado de amanhã e isso é péssimo para o espetáculo e para a manutenção do esporte como algo prazeroso, saudável e popular. É preciso acreditar que o resultado foi conquistado pela capacidade técnica do time e não por algum arranjo extracampo.
Não se trata, por óbvio, apenas de futebol ou outra modalidade esportiva qualquer. Estamos falando de marco civilizatório, da possibilidade de vivermos em sociedade, construindo nossas relações com base nas leis, escritas ou não. Deixamos de resolver nossas diferenças pelo uso da força e cada vez mais buscamos assumir a riqueza que existe em nossa multiplicidade de gostos, interesses, habilidades e vocações.
No entanto, foi desenvolvido o conforto do radicalismo na sociedade, exacerbado na política. Cada extremo escolhe seus inimigos e transfere a estes a culpa por todos os males existentes, ficando com as virtudes. A extrema esquerda culpa, por exemplo, o império estadunidense, as corporações empresariais, os militares, a imprensa, os traidores do movimento e os moderados.
A extrema direita, por seu turno, pode culpar os sindicatos, o Foro de São Paulo, as minorias, a imprensa, o Clero intrometido, os desarmamentistas e claro, os moderados. (Veja na internet o vídeo do grupo Monty Python – Vantagens de ser extremista).
Muito mais fácil, portanto, é direcionar os ataques aos inimigos, animando e unindo a tropa. Sentar-se com pessoas que pensam diferente, com o propósito de alcançar boas soluções para problemas comuns, ou seja, fazer a verdadeira política, foi criminalizado. E convenhamos, é muito trabalhoso, exigindo paciência e poder de convencimento.
Exemplo prático disso é o caso da grande quantidade de encarcerados no Brasil. Um extremo culpa a sociedade perversa e quer o fim do encarceramento em massa. O outro extremo quer mais é que todos apodreçam nos presídios. Apenas discursos para alimentar seguidores, passando longe da solução do real problema.
Mas o jogo está sendo disputado e, como sabemos, a vida de um juiz não é nada fácil. Ele deve se preparar muito bem, técnica, física e emocionalmente, exigindo respeito às regras, correndo o campo todo e aguentando as menções elogiosas à sua progenitora. Muito mais confortável é a vida do torcedor, radicalizando nas ruas e arquibancadas.
O juiz competente e imparcial é exigência da vida em sociedade ou dentro de campo. Deve zelar pela devida aplicação das leis sem pleitear ou aceitar protagonismo. Diferente disso, prejudica o jogo.