A prática é milenar, mas nos últimos dias os olhares de pessoas leigas também se voltaram para a meditação. Isso porque foi citada como sendo determinante para o controle dos 12 adolescentes e o treinador da Tailândia que ficaram 17 dias presos em uma caverna.
A Professora – Doutora Silvia Deutsch da Universidade Paulista Júlio Mesquita Filho (Unesp) ministra aulas em grupo na linha do Heartfulness, que é um dos tipos de meditação e explica o que realmente consiste a atividade. “A prática meditativa consiste em sentar-se em uma postura que ofereça estabilidade e conforto, fechar os olhos, em silêncio e permanecer em contato com você mesmo. Sentar pode ser: no chão com as pernas cruzadas (posição de lótus/como índio), em uma cadeira, em um banquinho, em almofadas, em uma poltrona, ou seja, onde você se sentir estável e confortável”, esclarece.
Ela diz ainda que de maneira geral meditar é “não pensar em nada”, porém, isso não é verdade e é praticamente impossível. “Meditar na realidade é um treino mental, onde aprendemos a manter nossa atenção sustentada em algum foco. Esse treinamento está relacionado a relaxamento, redução de estresse e do desenvolvimento da habilidade de não deixar nossa mente ser arrastada por pensamentos, como devaneios e preocupações. Devagar vamos conseguindo permanecer mais focados no momento presente, sem deixarmos que pensamentos aleatórios e ruminações nos distraiam”, explica.
Para os interessados não é difícil citar que os benefícios são inúmeros. De acordo com a especialista, a prática impacta primeiramente na saúde mental. Em sequência vêm outros resultados positivos como melhora na qualidade do sono, na redução de sintomas de ansiedade e depressão. E vão muito além. Existem relatos de melhora na concentração e criatividade e ainda de melhora nas relações sociais, tornando os praticantes observadores, pacientes e mais muito mais tranquilos. “Estudos na área de neurociências na década de 70 mostraram que em pessoas praticantes de meditação ocorreram alterações no sistema nervoso autônomo e cardiovascular. Concluiu-se que pessoas que meditam apresentam maior espessura em áreas importantes do cérebro que atuam no processamento cognitivo, sensorial e emocional como o córtex pré-frontal e insula anterior direita”, afirma a professora.
É importante destacar que a atividade é acessível a maioria das pessoas desde que se tenha vontade e disponibilidade de seguir uma disciplina, com regularidade no dia-a-dia.
Os tipos de meditação são inúmeros. Podem se dividir entre Meditação Budista, Hindu, Chinesa, Cristã e meditações guiadas. Historicamente o oriente apresenta uma maior e mais antiga variedade dessas práticas. A maioria das meditações costuma se utilizar de um único objeto como foco principal, que pode ser a respiração, mantra, visualização, atenção em alguma parte do corpo ou objeto externo ou ainda alguma emoção específica como suporte.
Duas práticas em evidência são explicadas pela professora. Uma, atualmente muito divulgada é a do Mindfulness que vem do budismo. É um programa extremamente positivo e eficaz. É também humanístico em seu cerne. Ele defende a força interior, o equilíbrio e a compaixão para criar um estado harmonioso e eficaz de existência, individualmente e consequentemente, coletivamente. Mindfulness está relacionada a aproveitar e melhorar o poder da mente.
Outra prática existente é o Heartfulness que vem do raja yoga, ele é centrado no coração e é para todos, independentemente de religiões e crenças religiosas. O coração é o centro do sentimento. “Enquanto Heartfulness incorpora todos os benefícios de Mindfulness, ele nos leva ainda mais fundo para o centro de nossa existência humana – o Coração que é o que mantém as coisas unidas. É o que mantém as pessoas juntas. Está na beleza de tudo. Está na efetividade e na simplicidade do nosso trabalho, dos nossos relacionamentos e dos nossos movimentos. É o que faz você parar, pensar, sentir, e amar o que você faz e como você o faz. Está no cuidado que você tem com as pessoas, as coisas e a natureza ao seu redor. É o que faz você amar e cuidar de si mesmo”, destaca Silvia.
O tempo pode ser definido pelo praticante. Existem práticas de 1, 5, 15 minutos, porém, segundo a professora Silvia Deutsch a prática começa a mostrar um melhor resultado quando ultrapassa os 15 minutos. Ela recomenda. “Eu sigo uma prática que sugere permanecer meditando durante aproximadamente uma hora no início do dia (preferencialmente iniciando antes do nascer do sol) e 30 minutos ao final do dia (ao encerrar as tarefas diárias)”, destaca.
A vida acelerada com a correria do dia a dia pode ser uma das maiores dificuldades para quem decide meditar e se programar para o tempo que será dedicado para o bem estar da própria pessoa. “Nossa mente é como um músculo qualquer. Precisa de disciplina e treinamento. Quanto mais praticamos mais fácil vai ficando a permanência na prática. Isso não significa que a qualidade se torne melhor ou pior. A qualidade de nossa prática é um reflexo do nosso estado mental”, frisa a especialista.
A Instrutora de Yoga e Pilates Caroliny Cavalli se entregou também à prática da meditação e conta que do Pilates foi para o Yoga por orientação de um professor, mas com o tempo aderiu o estilo de vida. Ela explica que a filosofia do yoga é muito mais profunda e qual a ligação com a prática de meditar. “O Yoga (a prática das posturas) é uma preparação do corpo para conseguir ficar sentado meditando, porque parece simples, mas quando senta e medita, começa a perceber que se você não tem quadril solto, ou alongamento de coluna, você não consegue ficar na postura ereta, deixar seus chacras alinhados para meditar. A Meditação é o caminho para iluminação e exige uma disciplina diária, condutas de pensamento, de atitude e de ação com você mesma, o ambiente e a sociedade”, esclarece.
Ela completa que a meditação não é separada do yoga. “Os dois se complementam e caminham juntos, um preparando a mente e o outro preparando o corpo (o psicofísico) ambos atuando na energia, trazendo mais autoconhecimento e consciência para o indivíduo, isso dentro da filosofia Hindu”, finaliza.
Aulas na Unesp
As aulas de prática de Meditação em grupo na linha do Heartfulness acontecem às segundas-feiras das 18h15 às 19h15, no anfiteatro II do bloco didático do Instituto de Biociências da Unesp da Bela Vista. São abertas ao público interessado.
Excelente texto. Muito próprio para o momento. Parabéns a todos. Gostaria apenas de deixar que Yoga não é prática de posturas. Uma das linhas do Yoga, o Hatha Yoga faz uso das posturas para preparar corpo e mente para objetivo final que é a meditação. Yoga significa religação. Procura a volta do ser humano ao seu estado primordial, estado divino, o reencontro com Deus. Yoga é uma filosofia, uma cadeia complexa de práticas e conhecimentos para a evolução do ser.