Despertar para mais um dia, após uma boa noite de sono, tornou-se uma conquista. É bem verdade que pouca gente dá atenção e valor para o fato. Sou um deles. Adoro acordar um pouco antes que o sol se levante. Observar de um lugar qualquer as primeiras luzes da manhã é uma necessidade.
Nessa época do ano, tem aquela brisa da manhã gelada e poética, que convida dali instantes para um café bem quentinho. Sim, faço minhas preces. Pra muita gente, as quais eu compreendo, é meio descabido um intelectual cristão. Parece que são coisas que não casam perfeitamente.
Desculpe-me a sinceridade, leitor, mas, pouco me importa o que algumas pessoas acham a respeito da questão. Virtude ou defeito, não sei, o tempo dirá, mas creio sinceramente em cada palavra daquele sujeito de olhar manso, cabelos à moda nazareno e amigão da turma, do melhor ao pior de nós, que falava com todos, de boa, e tratava a todos com respeito e cordialidade. Suas palavras me esclarecem e me confortam.
E que bom que seja assim, porque nesses tempos vividos, o que mais precisamos é de conforto e esclarecimento. Bom, apesar disso tudo, continuo lendo meus livros, aqueles que conseguem contar boas histórias. Geralmente, chego aos livros, a partir de seus autores. Por vezes, leio alguma crítica, uma materiazinha a respeito desse ou daquele escritor, que me chama a atenção, e aí vou fuçar atrás de informações sobre a vida literária dele.
Normalmente, as surpresas são boas, e então, me apaixono, pelo escritor e por sua obra. Foi assim com o poeta português Herberto Hélder, ao qual me rendo, e me fascino lendo seus poemas, aos quais tenho acesso na internet, porque Herberto, apesar de toda sua importância e talento, é um autor ainda pouco publicado no Brasil.
Continuo escrevendo também. Menos do que fazia anteriormente, mesmo assim, escrever ainda é uma necessidade. Quando deixar de ser, eu paro. Mas acho que esse dia não chegará. Há ocasiões que acordo com o texto pronto na cabeça e, se não, recorro logo ao lápis e papel, sempre à mão, a ideia se perde, e não consigo mais encontrá-la. Acontece também, de boas ideias surgirem em horas inapropriadas, quando, por exemplo, estou a viver, o meu momento de realeza matinal, sentado confortavelmente no trono, do banheiro lá de casa, se é que se pode chamar aquilo de casa.
Ok, tá valendo, chefia. Foi o que se pode arrumar. Nada a reclamar, quando se tem tanta gente a dormir na rua, nesta cidade. Todos os dias me deparo com a cena. Basta dar uma andada pelas ruas do centro de Rio Claro, é triste e deprimente. Há pessoas que ali se encontram por vontade própria, se bem que desconfio dessa afirmação, porque, certamente, essa vontade é, geralmente, resultante da decepção, da mágoa ou da revolta, ou da incapacidade mesmo, de enfrentar as adversidades e vencê-las. Com apoio já é difícil, sem ele, é quase impossível.
Não julgo e não condeno aqueles que sucumbem ao vício, seja qual for. Eu mesmo, não tivesse a educação que tive de meus pais, não tivesse uma orientação religiosa cristã, se bem me conheço, em algum momento da minha juventude, teria chutado o balde e me entregado de corpo e alma ao maldito vício da bebida ou da droga ilícita. Passei raspando nessa prova da vida. Que bom!
Toda minha indignação, revolta, mágoa, incompreensão quanto a algumas coisas, toda essa energia negativa, eu canalizei para a escrita. Escrevendo, salvei-me e curei-me. Pra alguma coisa serviria essa habilidade, a única que tenho.
Pois bem, leitor, sei que o papo está bom, mas o trem já parte. O major José David já deve ter subido até a estação pra pegar sua remessa de jornais e publicações diversas vindas da capital. Posso vê-lo descendo a avenida 1, o andar apressado, dirigindo-se à redação do jornal Diário, este mesmo que acaba de chegar às minhas mãos. Vou lê-lo, página por página, enquanto tomo um café bem quentinho. Servido, leitor? Ok, nos vemos mais adiante. Aquele abraço! E uma ótima sexta-feira pra você!