Era 20 de agosto, por volta das 6 horas, quando um jovem, de 20 anos, invadiu um ônibus e manteve reféns 39 passageiros na Ponte Rio-Niterói. Após mais de três horas de sequestro e negociações, foi baleado por um atirador de elite do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e morreu.
Após o fato, especialistas avaliaram o comportamento do sequestrador e indicaram que ele sofria de doença mental. Por apresentar comportamento de alucinação e delírio, psiquiatras apontaram que ele teria esquizofrenia.
Mas, afinal, o que é a esquizofrenia? Pode ser classificada como um distúrbio mental, marcado por surtos e crises em que a pessoa sai da realidade e apresenta outros comportamentos, podendo chegar à agressividade com ela mesma ou com o próximo. É um transtorno mental com as principais manifestações sintomatológicas compostas por delírios, alucinações e embotamento afetivo (que é a dificuldade de se expressar). “O que caracteriza o esquizofrênico são delírios e alucinações, mas tem uma série de comportamentos também.
Acabam sendo pessoas que não se comunicam, não têm envolvimento, relacionamento interpessoal, ficam excluídas, mas é uma atitude delas”, esclareceu a psicóloga Valderez Guilherme Marques, que atuou durante 15 anos no Hospital Bezerra de Menezes junto a psicóticos, drogadição e alcoolistas.
A profissional acrescenta que acabam tendo comportamentos e ações que podem se machucar, ou aos demais, por acreditarem em algumas coisas que não condizem com a realidade. “Eles podem ser tornar bravos ou agressivos. O esquizofrênico escuta vozes, alucinações, vê coisas que a maioria não vê, se enxerga em alguma história que, para ele, é verdade.
Pensa que aconteceu alguma coisa e acredita nisso. Pode dizer que alguma pessoa o persegue e muda toda a conduta com medo que a determinada pessoa vai agredi-lo”, explicou a psicóloga sobre algumas atitudes apresentadas por portadores de esquizofrenia.
Uma das dificuldades é que dificilmente aceitam o problema. “Eles não aceitam tratamentos, porque não se veem doentes. O tratamento é medicamentoso, se estiver em crise, pois precisa ser amenizado. A grande dificuldade é entender e aceitar”, observou Valderez.
A profissional esclarece ainda que não existe uma forma ideal, cada paciente reage de um jeito, é preciso observar como lidar com cada um para que seja dado o cuidado necessário. Um dos pontos que pode contribuir é o esquizofrênico entender, aceitar a medicação, tudo isso pode amenizar a situação.
Para um melhor resultado e estabilidade, uma ação conjunta é apontada. “Familiares e pessoas especializadas são importantes para conter as crises.
Mas, às vezes, mesmo fazendo uso de medicação prescrita, qualquer evento pode vir a disparar alguma crise. Isso precisa ser investigado e buscar amenizar ou regularizar a medicação”, avaliou.
Em contato com o Diário do Rio Claro, alguns familiares declararam situações vividas com parentes que sofrem de esquizofrenia. Muitos vivem também com receio devido às alterações do paciente e discordam com as formas de tratamentos disponíveis. “O Estado simplesmente estabiliza e devolve a pessoa doente para a família. Sabe–se que são pessoas que oferecem riscos”, alegou um entrevistado que preferiu não se identificar.
A psicóloga esclarece que as famílias deveriam ser tratadas junto ao paciente para auxiliarem no tratamento. “Muitas vezes não entendem o problema, pensam que o paciente irá voltar a ser como antes de adoecer, achando que os serviços de cuidados devem ‘entregar’ o paciente normalizado.
Os familiares também precisam ser atendidos por equipe multiprofissional, oferecida pelo Caps, formada por psiquiatra, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional. Sob o olhar dessa equipe é que se avalia a necessidade de internação em hospital psiquiátrico”, salientou.
ATENDIMENTOS
De acordo com informações fornecidas pela prefeitura ao Diário, a rede pública atende aproximadamente 600 usuários com esquizofrenia.
O atendimento especializado é feito no CAPS III e é construído a partir da elaboração caso a caso de um Projeto Terapêutico Singular (PTS), que envolve a equipe médica de referência, o usuário e a família. Quando os pacientes estão estabilizados, retornam para o atendimento na rede de Atenção Básica.
O setor também ressaltou que uma crise nunca é igual à anterior. O usuário em crise deve ser acolhido pelo serviço de saúde para ter suporte médico e para que sejam verificados os procedimentos mais indicados para cada caso.
O Centro de Atenção Psicossocial “18 de Maio” (CAPS III) é uma unidade da rede de atenção psicossocial que atende pessoas com transtornos mentais severos. Possui equipe interdisciplinar e quatro leitos de retaguarda à crise e internações de curta duração.
Através de uma clínica ampliada, busca promover a reinserção social de seus usuários, o acompanhamento de seus familiares e o acesso ao lazer e ao trabalho, seguindo as diretrizes da Reforma Psiquiátrica. O cuidado é sempre realizado através de Projetos Terapêuticos Singulares.