Época do Ginásio: a classe repleta de adolescentes. Começavam as aulas. Os alunos tomavam suas posições. Muita alegria. Aos poucos, os nomes deles passavam a ser gravados na memória dos colegas. Naturalmente, alguns se destacavam conforme seus dotes ou defeitos. No meio deles, se soube que os pais de um aluno abriram uma pensão que hospedava pessoal de fora. Justamente o filho dos proprietários apresentava sinais do mal curável de mucosa nasal, ozena, ou seja, rinite atrófica.
Logo outros colegas também perceberam o caso e surgiu o apelido fatal: “bafo de jibóia”. Decorrido algum tempo, o apelido simplificou por apenas “Bafo”. Assim permaneceu tal quadro por algum tempo. Soubemos que os pais ficaram muito tristes. Mais alguns meses e tal estabelecimento foi fechado. A família foi-se embora de nossa cidade.
Nunca mais vimos aquele menino tristonho. Mas, antes disto acontecer, o convidamos a ir à nossa casa e conhecer nossa família. Ali foi ele. Almoçou conosco em nossa casa e passamos uma tarde passeando de bicicleta. Nunca nos esquecemos que ele ficou emocionado e grato por este acontecimento.
Fomos à sua casa e ele nos apresentou aos pais, que ficaram alegres e não poupavam palavras de agradecimentos. Andamos juntos de bicicleta como bons amigos. Passado mais um tempo, recebemos uma carta de Bafo, de outra cidade, nos agradecendo por aquele dia que, para ele, foi o mais feliz de sua vida.
Passado mais tempo ainda, ele se comunicou conosco, dizendo de suas melhoras no tratamento de saúde. Cartas estas em que passamos a trocar ideias para nosso próprio aperfeiçoamento na redação de jornais e revistas. Percebemos, assim, que nunca podemos desprezar algum gesto de carinho, seja de nossa parte, seja da parte de outras pessoas. A amizade é uma boa árvore que plantamos neste mundo complicado de solos estéreis e férteis, mas produzem sempre seus bons frutos.
Na verdade, parte desta história que acabamos de contar não aconteceu. O que soubemos mesmo é que a família de Bafo foi-se embora daqui sem se despedir dos possíveis amigos. Tudo passou sem deixar lembranças. Assim, muita gente continua sofrendo por aí dolorosas discriminações e sem história! Enquanto a vida real for assim, triste e fria, em que tudo fica por isto mesmo, só resta o sonho de cada um e mais nada.
Por Augusto Hofling