Loucos por uma sexta-feira
► A ferrugem volta a corroer a massa trabalhadora, mas nos jornais buscam o conforto econômico. Sem reciprocidade – ainda assim demonstrando coragem – o povo segue, lançado, marcado e encurralado, escravizado pelo trabalho.
► Desde pequenos nos apresentam o trabalho como uma forma de punição, algo penoso e árduo; não é à toa, a palavra “trabalho” evoluiu de um antigo instrumento de tortura chamado “tripalium”, portanto, é sempre relacionado a algo que produz agonia. Na escola a gente aprende a separar o prazer do trabalho e aprendizado, separam de uma forma em que: trabalho é trabalho, prazer é prazer.
► Agora, é preciso diferenciar duas coisas que as pessoas tomam como sinônimos entre si: emprego e trabalho. O emprego é uma fonte de renda, que você faz para sobreviver economicamente; enquanto trabalho é uma forma de ter sentido na vida; gosto de colocar como sinônimo de trabalho o sentido de “poiesis” em grego, que tem a ideia de “obra”, de onde saiu a palavra poesia.
► Há pessoas que encontram sua obra, seu propósito de vida, no seu emprego assalariado. Já outras pessoas vivem agoniadas de segunda à sexta-feira, não se encontrando no que fazem, mas necessitando do emprego. Não é à toa que as pessoas estão cada vez mais loucas para que chegue às 18 horas de sexta-feira, e depressivas segunda às 8 horas.
► Num emprego, nem sempre fazemos aquilo que gostamos; mas já em nossa poiesis, a gente se encontra no que fazemos, aquilo se torna parte de nós, mesmo que canse. Diferencio aqui cansaço e estresse; a intensidade de uma atividade faz com que fiquemos cansados, e a falta de sentido numa atividade nos estressa. Portanto, uma vida em que se tenha um propósito no que fazemos vai muito além da atividade realizada em si.
► Mas, como bons brasileiros, seguem parte do rebanho projetado, carrascos e vítimas do próprio preconceito que desveneraram; todos os dias voltam para casa, a ligar seus televisores e cuidar das feridas causadas pelo laço midiático.
► *Sabinadas é escrita por Kauhan Sabino, poeta e escritor idealizador do Jornal Quincas Borba, que produz no seu blog pessoal. Acesse <https://kauhansabino.wordpress.com/>
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