Há filmes que são melhores que os livros no qual se baseiam. É o caso de “As Relações Perigosas” de Chordelos De Laclos, um francês pedante, militar de carreira, metido a intelectual cuja maior façanha foi ter imaginado que bastaria revelar segredos de alcova para tornar-se escritor e ganhar status de gênio. De Laclos, por sinal, é mais um daqueles autores superestimados pelo establishment cultural vigente à época. Daí, sua fama. Aliás, na Literatura, em qualquer época, tem muita porcaria tida como genial, que, ao crivo da razão, não mereceria nem menção.
Eu duvido, é meu direito, da veracidade de engenheiros, médicos e doutores, enfim, que surgem de repente, com habilidades literárias jamais vistas. Sempre houveram pessoas muito talentosas que se sujeitam em troca de alguns trocados, atuarem como escritores fantasmas. Alguns enchem as burras, inclusive, escrevendo discursos para políticos incompetentes e semianalfabetos. Outros, escrevem sob pseudônimo peças publicitárias e roteiros de filmes. E, em se tratando de filmes, Hollywood, em seus tempos áureos, estava infestada desses ratos da máquina de escrever e do papel em branco.
Tais indivíduos, não são escritores, ainda que pudessem ser. Porque escritores de verdade, são aqueles como Charles Bukowski, que suou sangue e lágrimas e incontáveis miligramas de whisky e vinho e pústulas de gonorreia para produzir sua muito digna e verdadeira literatura.
Um autor muito bajulado sobre o qual, até agora, não me convenci, é Dostoievski. Tentei algumas vezes atravessar a Crime e Castigo. Mas, não passei da parte tediosa em que o queridinho dos intelectuais brasileiros afeitos à literatura descreve a troca de missivas longas e sonolentas do seu alter-ego Raskolnikov com a distinta senhora sua mãe. Pobre, mãe!
No tempo em que não se tinha coisa muito melhor para se fazer do que passar as noites lendo à luz de velas, tudo bem, tudo certo, eu até entendo. Dostoievski, por sinal, escapou do pelotão de fuzilamento. Quem e porque lhe concedeu essa honraria, deve ter se arrependido eternamente.
Essa triste realidade mentirosa que permeia a literatura em nível mundial, afeta também o Brasil. Muitos escritores, pouco ou jamais lidos senão pelos catedráticos no assunto, ganharam a fama de gênios. A começar de Raul Pompéia e seu chatérrimo o Ateneu, que até começa muito bem, mas, depois, como a maioria dos livros de autores que falam de si mesmo, descamba para uma ladainha sem fim que causa angústia ao leitor mais persistente.
O tema aqui abordado é excitante e muito abrangente, mas o espaço e a paciência do nosso atencioso leitor é bem limitada. E entendemos isso perfeitamente. Por isso e por ora, nos despedimos, sem exigir a concordância em relação às colocações e opiniões aqui expressadas sem nenhum outro interesse que não seja fomentar uma discussão, por mínima que seja, embora saudável, sobre Literatura. Esse meio fascinante, embora restrito a poucos, de que o ser humano possui para expressar suas ideias, sentimentos e fantasias, não se furtando do dever e do direito, que assume perante o leitor, de criar outras, a partir da realidade que observa e vivencia.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Reprodução da internet