Entre 2014 e 2016, passamos por uma recessão muito profunda, da qual está difícil ver recuperação consistente. O desastre econômico vai deixar a “década perdida” de 1980 no chinelo. Foram muitos os erros cometidos, apesar de todos os alertas. Mas simplificar a análise vai tornar a recuperação ainda mais lenta e improvável.
Olhar no retrovisor é importante para reconhecer erros e acertos, mas o foco é o futuro, no curto, médio e longo prazos. As manifestações iniciadas em 2013 foram o estopim para a derrubada da presidente Dilma. De fato, muitos processos, operações e prisões mostraram o quanto foi subtraído, retirado, furtado ou sangrado do povo brasileiro. Mas a má notícia é que não bastou tirar a Dilma. A realidade nos diz que tivemos a sorte de ter havido tanto desvio. Explico: a maior perda para o país não é o desvio de verbas públicas, mas a nossa incompetência em fazer as boas escolhas.
Mas dizer que tivemos sorte pelos desvios parece um incentivo à criminalidade? Não! Aconteceu e deve haver punição exemplar dentro dos parâmetros legais e institucionais. Imagine agora se houvesse a continuidade da política econômica, das intervenções heterodoxas nas estatais, das pautas contrárias às reformas estruturantes, do empenho no agigantamento do aparato estatal etc e tal. Com recessão e elevada taxa de inflação, estaríamos vendo nossa desigualdade social disparando, o desemprego se transformando em regra e os mercados se desorganizando, pedindo incentivos, desonerações e tudo o mais de errado que já fomos capazes de fazer, como a “Nova Matriz Econômica”. Um horror.
Este é o ponto em que a análise sem paixão deve prevalecer. Para o lançamento de seu novo livro, “Por que é difícil fazer reformas econômicas no Brasil” (Grupo GEN/Editora Atlas), no Insper, no próximo dia 25/09, o economista Marcos Mendes afirma que “para voltar a crescer e diminuir a desigualdade de renda, o Brasil precisa fazer um amplo conjunto de reformas econômicas: previdência, tributos, mercado de crédito, ambiente de negócios, segurança jurídica, abertura comercial, privatização, políticas sociais e educação.” Ouso acrescentar a necessária Reforma Administrativa que cuidará das carreiras de estado, já em análise prévia na Câmara dos Deputados. Talvez possamos nos apaixonar pelas realizações alcançadas.
Para que isso seja possível, os esforços devem estar concentrados. As informações sobre a economia mundial mostram que devemos fazer a lição de casa com presteza. Afora os conflitos no Oriente Médio e os embates mais que comerciais entre EUA e China, só a crise na Argentina pode nos tirar, segundo pesquisadoras do IBRE/FGV, até 0,5% do nosso PIB em 2019, depois de ter tirado 0,2% em 2018. Não é pouco, visto que há previsões de crescimento do PIB brasileiro de 0,8% para este ano.
Como disse um Procurador da República amigo meu, “viveremos vários anos sob instabilidade institucional”. Sem pessimismo, faz a leitura correta, sem a qual não podemos avançar.