Seu texto era tão enigmático quanto o seu olhar da foto mais conhecida. Em um nome diminuto não seria possível conter toda a grandeza de sua literatura.
Há 100 anos, o mundo se despedia de Franz Kafka mesmo antes de saber quem ele era. Antes de partir, aos 40 anos, mal vividos, vítima de tuberculose, deixara ordens expressas para que seu único e bom amigo Max Brod destruísse todos os seus originais. Bendita desobediência Herr Brod! O mundo lhe será eternamente grato.
Kafka é daqueles autores muito imitado e nunca igualado. Em uma análise superficial de sua obra, imagina-se que o autor faz da sua escrita um confessionário. Mais um, dentre tantos por aí, fadados ao enfado e ao esquecimento.
Eis a armadilha. Kafka se coloca como objeto da ação para falar de outra coisa que não se sabe exatamente o que seja. Impossível saber se se trata de alguém ou alguma coisa. E o que seria então, uma coisa e outra?
Eis a grandeza de uma literatura incomparável. Sugerir sem afirmar. Mostrar insinuando. Esconder o significado das coisas nas próprias palavras. Nada de entregar tudo mastigadinho ao leitor preguiçoso. Antes, é necessário tecer a teia de aranha e envolver o leitor, atraí-lo para a armadilha e detê-lo em uma prisão que, certamente não terminará no derradeiro ponto final de um texto.
Kafka transcende a tudo o que se faz, o que se imagina e o que se pretende fazer com a palavra que se usa para escrever ficção. Mas onde começa a ficção na obra de Kafka? Se começa. E onde, a realidade? A realidade que não é palpável, mas existe, se faz presente, está diluída em um emaranhado de sentimentos e possibilidades escondidas em cada frase.
O autor não queria ver os seus textos publicados. É o que sugere a recomendação deixada para seu amigo Max. E por que? Por que não havia atingido a plenitude de suas pretensões enquanto escritor? Por que já não vislumbrava mais a mínima possibilidade de alcançar esse objetivo, devido seu estado de saúde e a todas as contrariedades e a má vontade que encontrara diante de si e para consigo?
Perguntas. Perguntas para as quais não há respostas definitivas. Jamais haverá. Mas, o que é definitivo em uma obra literária como a de Kafka, passível de tantas interpretações?
O leitor ao abrir um livro de Kafka, é como o aventureiro que está a um passo de embrenhar-se em uma mata fechada. Ou do pescador que põe sua embarcação, ainda que modesta e pequena, em alto mar.
Franz Kafka é único. A Literatura, por tudo que representa à humanidade, merecia mesmo ter o seu maior e mais digno representante.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Wikimedia Commons.