Mais de 2 mil jovens, de 115 países, participaram, entre os dias 19 e 21, do encontro internacional “Economia de Francisco”, atendendo ao convite do Papa para pensar ações de reconfiguração da economia global. Dentre os participantes, está a rio-clarense Flávia Mengardo Gouvêa, que é graduada em Relações Internacionais e mestre em História, pela UNESP-Franca, além de MBA em Gestão de Negócios pela USP, com experiência em pesquisa e orientação de estudantes nas áreas de História, Cultura e Economia.
Em entrevista ao Diário do Rio Claro, Flávia explicou a finalidade do evento e quais as propostas da Economia de Francisco. A carta final com as propostas e ideias apresentadas aos prefeitos da região pode ser acessada no link bemdobrasil.com.br, onde também é possível assinar a carta e apoiar a iniciativa, que se define como um movimento suprapartidário, ecumênico e aberto ao diálogo, com muita vontade de propor e contribuir na construção de uma sociedade mais justa.
Diário do Rio Claro: Como foi poder participar deste evento, que faz a juventude pensar uma nova proposição para o mundo?
Flávia Mengardo Gouvêa: A sensação foi de pertencimento a uma ação mundial: pessoas do mundo todo, unidas, pensando e colocando em práticas ações para repensar a economia mundial. Me sinto grata em poder contribuir de alguma maneira com esse processo, seja com meus estudos na área, seja divulgando as ações, seja disseminando as ideias encabeçadas pelo Papa Francisco e os economistas do mundo. Somos cerca de 2000 jovens do mundo todo convocados pelo Papa Francisco a esse chamado: estudantes, pesquisadores, “change makers”, além de todos os “seniors” envolvidos, pois mudança somente é possível com o envolvimento de todas e todos. Os 3 dias do evento online estão disponíveis no site do evento (francescoeconomy.com) e também com tradução simultânea, no canal do youtube, para 5 idiomas.
Diário do Rio Claro: Qual a importância de discutir a economia no mundo atual?
Flávia Mengardo Gouvêa: As relações econômicas estão presentes em todas as esferas de nossa vida: nosso trabalho, a manutenção da casa, nossa subsistência. Sendo assim, é necessário e urgente falar e reorganizar as relações econômicas mundiais. No contexto que vivemos atualmente, de grande crise na saúde devido a Pandemia da Covid-19 se torna ainda mais urgente, visto que, além de estarmos perdendo muitas vidas nessa batalha, as barreiras para enfrentamento à pandemia estão colocando ainda mais pessoas em situações de desemprego, extrema pobreza e dificuldades financeiras enormes. Sendo assim, se a economia não for repensada de uma maneira mais humana, que “congrega e não mata”, que “solidariza e não reprime”, que inclui e não exclui, nosso planeta não suportará toda a exploração e a população mundial não terá condições de subsistência mínima. No nosso núcleo de estudos e ações da Economia de Francisco da região da Piracicaba (siga-nos pelo facebook), estamos com duas frentes: uma de estudos econômicos e divulgação da economia de Francisco a todos e a todas, e outra de formação de um banco comunitário na cidade: há passos bem pequenos que podem ser tomados, visando o bem comum da localidade, e alinhados a proposta da economia de Francisco. Todos nós somos chamados a agir!
Diário do Rio Claro: Qual o principal diferencial da Economia de Francisco, comparada ao que vivemos hoje?
Flávia Mengardo Gouvêa: Vivemos em um mundo de economia liberal, com um sistema econômico capitalista, voltado único e exclusivamente ao lucro. Ou seja, se uma ação ou atividade não dá o lucro financeiro esperado, a mesma precisa ser repensada ou remodelada, a fim de gerar mais lucro. Para a Economia de Francisco o lucro não é a finalidade última e única do capitalismo: este pode ser repensado, ou melhor, ajustado, pensando na inclusão de todos, com menos desigualdade social, e pensando no bem comum, visto que, todos nós habitamos a casa comum (planeta terra). Não podemos ter pouquíssimas pessoas com acesso incalculável aos bens materiais e outras muitas pessoas sem acesso a praticamente nenhum recurso para viver: devemos pensar o mundo de maneira mais fraterna (fratelli tutti, como nos mostra a nova encíclica recém lançada do Papa Francisco – todos irmãos, numa tradução literal).
Diário do Rio Claro: Você acredita que a proposta é viável e aplicável aos nossos municípios?
Flávia Mengardo Gouvêa: Sim, com certeza! Agora em dezembro o Papa Francisco lançou um livro chamado Vamos sonhar juntos – o caminho para o futuro melhor, com o intuito de nos impulsionar nesse chamado: como se dá a mudança história, ou seja, como nós acolhemos ou rejeitamos esse processo. Estamos vivendo esse momento de mudanças e crises muitos intensas, e o método ver, escolher (julgar) e agir (método esse utilizado pelo Papa para ensinar, conversar, debater). Assim, precisamos sim contemplar o que estamos vivendo, discernir qual é o melhor caminho a escolher e, depois, propor mudanças, ações etc. E por isso, nós, como Núcleo da Economia de Francisco aqui na região da Diocese de Piracicaba, propomos uma carta aberta, disponível na plataforma bemdobrasil.com.br, onde todos podem ter acesso às intenções que propomos para as cidades da nossa região. O intuito dessa carta aberta que todos a ratifiquem, colocando sua assinatura nela, para que possamos fazer a entrega da mesma aos prefeitos que tomarão posse agora em janeiro nos municípios, e também ao novo bispo que chega na Diocese de Piracicaba-SP, também em janeiro. O intuito é nos tornarmos presentes nessa ação nos municípios e propormos ações concretas.
Foto: Facebook/Igreja Matriz S. João Batista