Carioca de nascimento e rio-clarense por opção, José Rosa Garcia fez história no Diário do Rio Claro. O jornalista chegou na cidade no segundo semestre de 1982 para chefiar a redação do ‘Jornal de Rio Claro’ (hoje extinto). Um ano antes, logo que se formou em jornalismo, fez estágio na assessoria de imprensa da secretaria de administração do Rio de Janeiro e trabalhou na empresa Dinâmica Comunicação.
Sua vinda para a cidade está atrelada a uma viagem do então chefe da assessoria de administração do Rio, que veio para Rio Claro no intuito de realizar um convênio e ficou sabendo que um jornal seria montado. Quando retornou à Cidade Maravilhosa avisou Garcia da intentona. Depois de uma negociação com os diretores do então novo periódico, o jornalista se mudou para a cidade e permaneceu a frente da publicação por três meses.
Em conversa descontraída, contou aos jornalistas do Diário do Rio Claro, Vivian Guilherme, Odair Favari, Ludmar Gonzalez e Lourenço Favari diversas histórias acerca de personagens da imprensa local e frisou o convite que recebeu do diretor do Número 1, Geraldo Zanello, para integrar a equipe do jornal mais importante do município. “Um senhor bateu na minha porta, era Geraldo Zanello, que me convidou para trabalhar com uma proposta irrecusável. Fui contratado no dia 22 de dezembro e comecei a trabalhar no dia 2 de janeiro de 1983”, lembrou entre uma piada e alguns quitutes.
Considerado um dos primeiros profissionais de comunicação diplomados a atuar na área, Garcia trouxe a visão técnica e objetividade para o jornalismo da década de 1980. Permaneceu até 1985 no Centenário, quando assumiu o posto na sucursal do Estadão em Campinas e fez grandes coberturas, entre elas a vinda do Papa ao Brasil em 1991. Sua carreira profissional inclui ainda o trabalho de diretor executivo do Diário do Povo, em Campinas, além da criação de uma empresa de comunicação. Em 1990 retornou para o Grupo Estado, onde permaneceu até o ano de 1993. Neste ano recebeu convite do então prefeito Nevoeiro Jr. para assumir a assessoria de comunicação da prefeitura e ficou até 1995 quando começou a trabalhar com o deputado Aldo Demarchi. Teve uma segunda passagem pelo Número 1 de 1994 a 1996.
Bem humorado, o jornalista de 58 anos, que também é um sambista de primeira linha, deixou transparecer o motivo de ser tão querido pelos colegas de imprensa da Cidade Azul. Confira trechos da entrevista:
O que mudou no jornalismo? Você percebe conflito entre a antiga e a nova geração de profissionais da área?
Acredito que tem a ver com os novos meios. Antes você tinha três meios de comunicação, que eram a rádio, tevê e jornal. E o jornal tinha maior credibilidade dos três. Por incrível que pareça, com todas as dificuldades tecnológicas, naquele período fazíamos muito mais reportagens e tínhamos muito mais espaço para preencher. Importante dizer quem não existia recurso técnico para o acesso a informação. Hoje era para o jornal valorizar mais a reportagem. Atualmente, todo mundo faz jornalismo com a facilidade das redes, logo os jornais já saem vencidos. Para enfrentar esse quadro, o jornal impresso tem que sair do factual, tentar ir além. Isso que vocês estão fazendo é o que dará alguma sobrevida ao impresso. Eu passo 24 horas por dia atrás de informação, mesmo quando eu não tenho o que fazer com ela, eu passo para os outros. Eu não imagino que alguém entre na internet para ver o que o político fez de bom. Por isso acredito que o impresso terá uma sobrevida, já que ele vai até o leitor. A notícia comum já tem. O diferencial é se aproximar das pessoas e voltar a fazer o que era feito.
Como você avalia as fake news?
Creio que por mais que tivéssemos nos veículos tradicionais a possibilidade de manipulação ainda existia e existe alguém que filtra a informação. Se coloco algo no jornal que sei que é inverídico estou ciente que posso ser processado. Hoje as redes viraram uma guerra de torcida. Se não tiver os veículos tradicionais para mediarem, isso não funciona!
Você sente falta das redações? Ou se adaptou a assessoria de imprensa?
Na verdade eu comecei pela assessoria de imprensa, fiz estagio na secretaria de administração do Rio e em uma agência. Depois vim para o jornalismo. Por um lado sinto falta porque tem mais visibilidade, enquanto está no jornalismo mantém o contato com as pessoas. Agora estou do outro lado do balcão. É claro que eu sinto falta, mas uma coisa que eu não sinto falta é trabalhar durante a noite no plantão noturno e aos fins de semana.
A transparência, seja nos serviços públicos ou nas instituições privadas, é um fator positivo para o jornalismo e a sociedade?
Creio que sim. Nós vivemos a era do dia. Nada mais fica oculto. Quem não adotar isso como regra está morto. Sempre tem alguém com celular gravando, não há como evitar. É como diz aquela frase do Jorge Ben Jor, quando ainda era só Jorge Ben: Se o malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem. Porque contar mentira é um problema, cada vez que se conta uma você só quer melhorar a história! Portanto, a transparência é obrigatória, já que não tem como esconder as coisas.
Rio Claro é uma cidade conservadora?
Acho que Rio Claro foi uma cidade moderna em vários aspectos, tanto culturalmente quanto em avanços tecnológicos, já que foi uma das primeiras a ter energia elétrica, para citar apenas um exemplo. Mas nossa região é conservadora. Tem muito a ver até com a formação. Teve uma mudança com a migração nordestina e paranaense, tanto que a Arena sempre ganhou na cidade. Teve uma virada em 1982, quando elegeu o MDB, o que mostra neste caso que é conservadora, já que quem ganhou era uma dissidência da Arena. Quase todas as cidades tem o mesmo perfil. Se pegar Rio Claro e a microrregião é histórico! Rio Claro é uma das principais cidades do Integralismo!
No período em que trabalhou como jornalista no jornal existia essa atuação investigativa acerca dos políticos?
Não tinha. Hoje a pressão social é muito maior porque as redes permitiram isso. Antigamente se tivesse conhecimento com a direção de um grande grupo de comunicação era possível neutralizar algumas coisas. Hoje não há essa possibilidade. A tecnologia aumentou a pressão tanto sobre os políticos quanto sobre as autoridades. Vivemos um momento muito bom em termos de transparecia, mas poderíamos avançar um pouco mais. Ter 30 partidos é um absurdo. E achar que é você quem escolhe em quem está votando é ainda mais absurdo.
Teria que avançar para ter candidatura avulsa, sem partido. Um dos problemas, além do excesso de partidos, é o controle, ou seja, alguém dizer que terá que ter legenda.
Como avalia a classe política local apoiando candidatos de fora?
Obviamente teria que priorizar candidaturas locais, mas dificilmente alcançamos um consenso. Na verdade são pelo menos 750 nomes que obtiveram votos em Rio Claro muitos dos quais talvez nem consigam localizar Rio Claro no mapa de São Paulo. Mas é uma tendência e, em algumas cidades, tem um pouco mais. Desta forma, Rio Claro sozinha não teria votos para eleger mais de um deputado.
RÁPIDAS
Voto útil ou de protesto? Voto útil
Mudaria de calçada ao cruzar com: A injustiça
Não merece o meu respeito: A vitória a qualquer preço
A política é: Necessária
Não simpatizo, mas respeito: CR Flamengo
Não respeito, mas simpatizo: É difícil simpatizar com quem a gente não respeita
Um ídolo: Paulinho da Viola
Um sonho possível: Construir um País melhor
Um sonho impossível: Ver o Vasco Campeão Brasileiro. Porque do jeito que está…
Por Lourenço Favari