O mês de janeiro é marcado pela campanha Janeiro Branco, dedicada à promoção da saúde mental e emocional. Criada em 2014, a mobilização busca sensibilizar a população brasileira sobre a importância do bem-estar psicológico e incentivar a busca por cuidado especializado quando necessário.
Por que Janeiro Branco? Porque o primeiro mês do ano simboliza recomeço e novos projetos. A expressão remete a uma folha em branco, incentivando as pessoas a reescreverem suas histórias, priorizando a saúde mental. A preocupação faz sentido. O Brasil é o país com maior prevalência de depressão na América Latina e a taxa de suicídio entre jovens no país cresce a um alarmante ritmo de 6% ao ano.
A saúde mental não se restringe apenas ao aspecto individual. É resultado de uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Vai além do bem-estar pessoal, envolvendo condições fundamentais como saúde física, apoio social e condições de vida. Entender a saúde mental como uma construção que engloba o corpo, as emoções e as interações sociais nos faz perceber que é um processo coletivo.
Porém, o caminho para o bem-estar é mais longo para negros e pardos, ou seja, para quase 56% da população brasileira de acordo com o Censo de 2022. Na economia, por exemplo, o rendimento mensal médio de um brasileiro é de R$ 3.099 para brancos, R$ 1.814 para pardos e R$ 1.764 para negros.
Dados do Ministério da Saúde revelam que o índice de suicídio entre adolescentes e jovens negros no Brasil é 45% maior do que entre brancos. A faixa etária mais afetada é de 10 a 29 anos, especialmente entre os homens negros, que apresentam uma chance 50% maior de tirar a própria vida em comparação aos brancos da mesma idade. Além disso, jovens negros têm 45% mais chances de desenvolver depressão do que jovens brancos.
Os números mostram a necessidade de abordar a desigualdade racial como fator de desequilíbrio para a saúde mental. Esta é uma causa que exige o comprometimento de todos. Ao entendermos que a saúde mental é influenciada pelo ambiente e pelas estruturas sociais, podemos trabalhar juntos para criar uma sociedade mais justa, empática e saudável.
Daniela Tafner é doutora em enfermagem, especialista em direitos humanos e professora convidada no Instituto de Pesquisa Afro-Latino-Americana (Alari) da Universidade de Harvard.
Por Daniela Tafner / Foto: Divulgação