“Oi, meu bem! Estava com saudade de você”. Essa era a frase habitual de saudação que a professora Jacira Russo Zanello, falecida nessa quinta-feira (10), aos 88 anos, costumava dizer aos amigos próximos e familiares sempre que os encontrava. Viúva do empresário Geraldo Leonardo Zanello, deixa a filha Adriana, casada com Edison Guilhermon Cortez Filho, as irmãs Célia Aparecida Russo Wehmuth e Maria de Lourdes Russo Turolla, sobrinhos e uma legião de pessoas que guardarão para sempre as boas lembranças deixadas por essa mulher notável, guerreira e sorridente.
Falar da “tia Jacira” – como todos da família a tratam carinhosamente – é falar, sobretudo, de bondade e doação. Mas é falar também de determinação, luta, trabalho e muito sacrifício para vencer as adversidades que sempre se interpuseram em seu caminho, em função de uma família de poucos recursos e que ela abraçou e cuidou feito uma leoa.
Nadando contra a correnteza, a tia Jacira desde sua mocidade não se deu por vencida ante as dificuldades. Pelo contrário, enfrentou todos os obstáculos com disposição e otimismo até ser chamada pelo Pai Eterno.
Desde a juventude, abraçou o trabalho como sacerdócio. Durante muitos anos estudou, lecionou, viajou, dormiu tarde e acordou cedo, com certeza passou madrugadas de incertezas e cansaço, mas enfrentou com coragem e força a tarefa árdua de cuidar não apenas de si, mas de toda a família que em grande parte dependia de seus esforços para sobreviver. Uma família composta não apenas por pai, mãe, irmãos, esposo e filha. Mas uma grande família feita também de muitos sobrinhos aos quais a “tia Jacira” acolheu e cuidou como se fossem seus próprios filhos, dando a cada um o alimento, a roupa e sobretudo garantindo estudos àqueles que demonstravam a boa vontade em aprender e crescer.
Para cuidar de tanta gente não havia dinheiro que chegasse. Mas ela parecia receber o dom de Jesus de “multiplicar os pães” e se desdobrar para que com os poucos recursos não faltasse o pão de cada dia. Pão de cada dia que se traduzia na compra de sacos inteiros de batata, sacos inteiros de arroz que o “cerealista” entregava na porta da humilde casa da Rua 3 com Avenida 8 e 10 – a casa da Vó Adelaide (sua mãe) – com a qual morava, juntamente com a irmã viúva, Célia, e seus três filhos.
Casa simples, mas muito bem cuidada e que ganhava um movimento ainda mais especial aos domingos, quando a irmã, Lourdes, chegava para o tradicional almoço, junto com o marido e também seus três filhos. Era um movimento ruidoso, mas que a tia Jacira e a Vó Adelaide encaravam com alegria e satisfação. E foi a esses sobrinhos todos que a tia Jacira somou seus cuidados, dando a cada um sem distinção o que precisava, na medida de suas possibilidades. E lá estava ela, comprando peças inteiras de flanela no antigo “Bazar Paulista”, que funcionava na Rua 3 com Avenida 10, para fazer em sua própria máquina de costura (deixando de lado os poucos momentos de folga e descanso) o pijama pra toda a criançada. E era também o material escolar, a roupa, o calçado – tudo a tia Jacira ajudava a “patrocinar” aos sobrinhos.
Esse cuidado se manteve mesmo depois de casada com o saudoso empresário Geraldo Leonardo Zanello, seu companheiro e grande amor durante cinco décadas. Aí começou uma outra história de lutas, abnegação e vitórias. Desde a pequena oficina mecânica, passando pelas concessionárias de automóveis até o Diário do Rio Claro, tia Jacira sempre esteve ao lado do esposo e, mesmo quando chegaram ao ápice da prosperidade financeira, ela jamais perdeu a humildade e o carinho pelos parentes e agregados.
Nos últimos anos, apesar da saúde frágil, fazia questão de participar de aniversários, festas de fim de ano e qualquer reunião familiar onde pudesse distribuir carinho e estar em comunhão. Chegou, porém, o dia de cumprir a trajetória terrena e juntar-se aos seus entes queridos que partiram antes para o mundo espiritual. A nós, que ficamos, resta a tristeza, mas a quantidade de bons momentos e doces recordações é infinitamente maior.
Por Walesca Wehmuth / Fotos: Divulgação