Inimigo invisível
► Olá, eu sou a Sofia Ferri Uehara, tenho 13 anos e estou no 8° do fundamental, mês passado foi me solicitado a escrita de um conto em que o personagem principal seria a Covid-19… Diante de tudo o que passei e estamos passando nesses últimos tempos, não achei um tema muito legal, e acabei escrevendo um breve resumo sobre o que aconteceu, talvez um desabafo… Confira:
► Era uma segunda-feira, 01 de fevereiro, meu pai havia caído de cama, na semana anterior já não estava muito bem…
► Na terça havia sido iniciado o tratamento para Covid-19. Na sexta, testou positivo…
► Estava confirmado, mais um caso…
► Para as pessoas só mais um número que aparece na TV no final da tarde, no jornal local…
► Alguns dias depois, dia 8 do mesmo mês, para ser mais exata, meu pai e minha mãe foram ao hospital, não me lembro ao certo o “porquê”, naquele mesmo dia ele foi internado com 75% do pulmão comprometido.
► Nove dias depois, no dia 17, ele voltou para casa. Bem? Você me pergunta, bem… não, ele estava péssimo, cilindros de oxigênio, medidor de pressão, oxímetro, caixas e caixas de remédios, tudo isso espalhado pela casa. Ele não conseguia andar, comer, ir ao banheiro, tomar banho, faltava ar em seus pulmões, só conseguia respirar com máscaras de oxigênio.
► E assim seguiu até o dia 20…
► Meu pai estava muito mal, minha mãe chamou um enfermeiro que mora no condomínio, ele falou para chamarmos uma ambulância para levá-lo ao hospital e novamente foi internado. Dessa vez estava na UTI, segundo os médicos, só estava fazendo um tratamento, com baixa chance de ser intubado. Foi o que ele disse, mas não foi bem o que aconteceu…
► Dia 22, meu pai passou mal e foi intubado, a noite teve uma parada cardíaca e não resistiu. No dia 22 de fevereiro de 2021, às 22h15, meu pai faleceu das consequências da COVID-19.
► Depois de tudo isso, eu te questiono, por que o Covid-19 deveria ser o protagonista dessa história? Diante de tantos protagonistas, de tantas histórias lindas que ele viveu, por que eu deveria por como protagonista o pior antagonista que já participou da minha história?
► Diante desse cenário e de tudo que estamos passando, escrever sobre coisas boas, e não sobre tragédias, vidas perdidas.
► Meu pai passou por tudo isso em um hospital particular, imagina em um público? Eu não escreveria um conto com um final feliz com esse tema, nesse ambiente e com esses personagens…
► Quantas vidas acabaram com finais tristes em hospitais públicos e particulares sem nem ao menos se despedirem de nossos entes queridos.
► Carpe Diem é escrita pela aluna Sofia Ferri Uehara, do 8º do Ensino Fundamental e colunista do Jornal do Camões. O projeto tem fins pedagógicos.