Rafael Cervone, vice-presidente da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP/CIESP), afirma ser fundamental o fortalecimento do setor para que o Brasil reverta a década perdida.
A perda de competitividade da indústria e a queda de sua participação relativa na riqueza nacional são uma das principais causas de o País ter caído oito posições, na década 2011/2020, no ranking do PIB per capita divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), ressalta Cervone. Para ele, “não há como aumentar e distribuir a renda nacional quando o setor que paga os melhores salários, é gerador intensivo de postos de trabalho e responsável pelos produtos de maior valor agregado é o mais prejudicado pelos problemas internos que têm afetado a economia brasileira nas últimas décadas”.
O dirigente da FIESP/CIESP reconhece que o fim de um de ciclo de commodities, mais um impeachment de presidente da República, a crise fiscal, a recessão subsequente e o fechamento da década com a pandemia da Covid-19, fatores apontados pelos especialistas, são fortes razões para que o Brasil tenha caído do 77º para o 85º lugar no ranking mundial do PIB per capita (US$ 15.394 ante US$ 14.140). “Entretanto, se nosso país não promover uma eficaz política industrial, demoraremos pelo menos mais duas décadas para recuperar as posições perdidas”, alerta.
Cervone, candidato a presidente do CIESP pela Chapa 2, nas eleições de 5 de julho próximo, explica que a indústria é o setor mais atingido pelos ônus do Custo Brasil e demais problemas que emperram o crescimento da economia nacional. “Prova disso é o estudo do Movimento Brasil Competitivo (MBC) que revelou nossa disparidade em relação a outras nações: fabricar aqui implica R$ 1,5 trilhão anual a mais, cerca de 22% de nosso PIB, do que na média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)”. Além disso, há um desequilíbrio no pagamento dos impostos no brasil. A indústria que representa 11,5% do PIB paga 27% dos impostos, o que onera demais o setor e reduz sua competitividade.
Esses dados, para Cervone, explicam em muito a queda do PIB per capita, pois a indústria é o setor que mais contribui para os melhores indicadores socioeconômicos, de distribuição de renda e de educação, como se observa em algumas regiões do próprio Brasil. “Mas, poderia fazer muito mais se não enfrentasse a competição desigual de concorrentes de países onde há menos impostos, maior disponibilidade de crédito a juros reais mais baixos, mais segurança jurídica e leis trabalhistas mais flexíveis”, pondera.
Apesar de todos os problemas, o setor tem mostrado sua capacidade de superação. Embora represente 21,4% do PIB, responde por mais da metade das exportações de bens, 69,2% do investimento empresarial em P&D, 33% da arrecadação de tributos federais e 31,2% da previdenciária patronal. Emprega 20,4% de todos os trabalhadores brasileiros, paga os melhores salários, é a atividade que mais gera impactos em cadeia, mais recolhe impostos e mais promove a difusão de tecnologia e produtividade, segundo dados do IBGE.
“Imaginem, então, o que a indústria faria se tivesse melhores condições de impostos, financiamento, segurança jurídica e melhor ambiente interno de negócios”, argumenta Cervone, concluindo: “Nosso objetivo é mobilizar a rede de quase oito mil associados do CIESP, a maior do setor no Ocidente, para construirmos uma proposta consistente de política industrial e lutarmos por sua implementação”.
A indústria da Cidade Azul
Por Rafael Cervone*
Nos sete municípios abrangidos pela Diretoria Regional do CIESP de Rio Claro, as 1.280 empresas do setor nessa importante área do território paulista comemoram o Dia da Indústria, 25 de maio, apesar de todas as dificuldades e impactos da crise da Covid-19. A atividade tem um parque local diversificado, desenvolvido e com grande potencial exportador, importante para a economia, qualidade da vida e empregabilidade dos 400 mil habitantes da Cidade Azul, Araras, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Leme e Santa Gertrudes.
Na Região de Governo de Rio Claro, a indústria é responsável por 35,55% dos empregos formais, paga salário médio de R$ 3.361,54, o mais alto dentre todos os setores, e contribui com 40% do Valor Adicionado, conforme informações da Fundação Seade – Sistema Estadual de Análise de Dados. As estatísticas corroboram o perfil peculiar da atividade, que desenvolve tecnologia e inovação, fabrica produtos e bens de alto valor agregado e é geradora intensiva de empregos. Por isso, precisamos trabalhar muito para seu fomento na região, no Estado de São Paulo e no Brasil.
A agenda de fortalecimento e resgate da competitividade da indústria é muito relevante para o País, pois as nações que conseguiram dobrar sua renda média num período de apenas 15 anos foram aquelas que elevaram a participação do setor a um patamar acima de 20% do PIB. Por isso, precisamos vencer as barreiras que continuam dificultando seu avanço, como o atraso do marco legal, insegurança jurídica, burocracia, impostos exagerados, baixa disponibilidade de crédito e todos os fatores referentes ao chamado “Custo Brasil”.
Não podemos mais perder tempo. Na década recém-terminada, de 2011 a 2020, o mundo cresceu 30% e o Brasil, apenas 3%. Por isso, teremos de realizar em plena crise da Covid-19 o que negligenciamos há muitos anos, a começar pelas reformas estruturais, principalmente a tributária e administrativa, e adoção de uma eficaz política industrial, para que o setor tracione o desenvolvimento nacional.
Os números são incontestáveis quanto ao significado da indústria: apesar de representar 11% do PIB, responde por mais da metade das exportações de bens, 69,2% do investimento empresarial em P&D, 33% da arrecadação de tributos federais, 25% do total nacional de impostos e 31,2% da arrecadação previdenciária patronal; emprega 20,4% dos trabalhadores brasileiros; e é a atividade que mais promove a difusão de tecnologia e produtividade, segundo dados do IBGE.
Porém, o setor enfrenta grave perda de competitividade. Estudo do Movimento Brasil Competitivo (MBC) revelou que produzir no Brasil custa anualmente R$ 1,5 trilhão a mais, cerca de 22% de nosso PIB, do que na média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Precisamos reagir de imediato, inclusive mobilizando as empresas, por meio de nossas entidades de classe no Estado de São Paulo – o CIESP e a FIESP –, para influenciar a modernização das leis que regem a economia e a adoção de uma política industrial eficaz e duradoura. Isso é decisivo para o Brasil crescer de modo sustentável, promover aumento e melhor distribuição da renda e alcançar um patamar mais elevado de desenvolvimento.
Também é fundamental capacitar os recursos humanos atuais e as futuras gerações para as mudanças em curso e o advento da inteligência artificial, internet das coisas, robotização, machine learning e digitalização da economia, cujo advento foi acelerado pela pandemia.
Nesse aspecto, a educação, ainda precária no Brasil, tem missão relevante, fator que demonstra o significado do Sesi-SP e do Senai-SP, vinculados à FIESP, exemplos de excelência no ensino, que prestam serviços inestimáveis aos industriários, suas famílias e a toda a sociedade.
Os desafios são muitos. Porém, como se observa em Rio Claro, Araras, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Leme e Santa Gertrudes, os empresários do setor são resilientes, capazes de superar adversidades e têm demonstrado muita competência para manter suas empresas vivas e gerar empregos em cenários desfavoráveis. Por isso, apesar das dificuldades atuais e da grave crise relativa à pandemia, celebramos este Dia da Indústria com esperança e a certeza de que o setor será protagonista de um novo e próspero Brasil.
*Rafael Cervone é vice-presidente da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
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