Olhar para o céu estrelado à noite e tentar acompanhar os avanços da física e da astronomia são excelentes lições de humildade, do quanto somos pequenos, insignificantes diante da vastidão do espaço e do tempo.
E ao mesmo tempo dá aquele sentimento de maravilhamento de sermos capazes de conhecer tanto, apesar dessa nossa insignificância.
Vamos então a uma breve descrição do universo. Vivemos na Terra, a terceira “rocha” de uma estrela indistinta localizada nos arredores de uma galáxia muito comum. Esta galáxia, a via láctea, é apenas a segunda maior em um agrupamento independente de galáxias chamado “grupo local”, na periferia de um “superaglomerado local” de galáxias. Além disso, as galáxias mais distantes, com seus bilhões de estrelas cada uma, e a luz que observamos delas não tem uma direção preferencial.
Ou seja, ao que parece nós humanos somos especiais e é no mínimo razoável assumirmos que o universo não tem um centro.
Isso sem contar que as observações de sistemas distantes, tem nos mostrado uma infinidade de planetas orbitando estrelas semelhantes ao Sol, a uma distância na chamada zona habitável, a qual em tese poderia ser suscetível de abrigar vida. O que nos dirá o futuro dessas pesquisas e observações dos exoplanetas?
Dizem que a humanidade sofreu duros golpes em sua ideia de se achar especial no universo. Primeiro, com Galileu e Copérnico, descobrimos que nosso planeta é só mais um entre tantos a orbitar uma estrela média, o Sol. Fomos tirados do centro do universo. Segundo, sem me ater tanto à cronologia dos fatos, as descobertas de Darwin mostraram evidências irrefutáveis de nossa descendência de um ancestral comum. Aí veio Freud, e notou que muitas das nossas ações ditas “racionais” são na verdade governadas pelo nosso inconsciente. “Algo pensa em mim”, como dizia Nietzsche.
Não controlamos totalmente nosso destino, nem nossos pensamentos em última análise. Assim como todos os outros animais, somos aglomerados de genes interagindo, combinando e se recombinando uns com os outros e como seus ambientes em permanente mudança.
Não há possibilidade viável de controle de muitos processos. Há os que preveem grandes avanços para controlar o envelhecimento, para viver mais. Mas há um longo caminho científico a se trilhar até lá.
Há em nossa sociedade notadamente científica, a ideia de que ao final a ciência irá nos salvar. De fato, não é uma esperança vazia. Na ciência e na tecnologia os progressos são reais, palpáveis, porém só aumentam o poder e o conhecimento do ser humano. O fato é que esse conhecimento e poder que advém dela, podem ser usados tanto para objetivos benignos quanto para os mais devastadores.
Hoje, com todo avanço científico-tecnológico e mesmo os avanços do diálogo e debate entre as religiões ocidentais podemos encontrar novos caminhos nos quais seja possível renunciarmos a nossa soberba, nossa crença infundada de que somos especiais.
Só seremos especiais de fato quando tivermos a capacidade, científica e moral, de consertarmos o que estragamos nesse planeta. E isso passa necessariamente pela construção de uma nova humildade, aquela em que reconhecemos que somos como os outros animais, que dependemos da Terra para viver e que o poder que temos sobre o meio ambiente não nos dá o controle sobre ele. Ou vai ver nem somos tão inteligentes assim. Em toda vastidão do espaço e do tempo, é essa pedrinha chamada Terra a única casa que temos.