O grupo De Paula através do projeto social está com inscrições abertas para homens que tem interesse em ingressar na dança clássica. Serão 15 vagas masculinas (juvenil e adulto), totalmente gratuitas para aulas de ballet e jazz. Ao Diário do Rio Claro, o coreógrafo Rafael De Paula contou um pouco sobre seu início na dança, as barreiras que os homens enfrentam para viver desta arte e também o objetivo de criar esse projeto voltado ao público masculino.
O objetivo da abertura das vagas é um incentivo para o cenário ter mais bailarinos na ativa como referência, expondo o desejo em relação à dança, que isso possa se ampliar cada vez mais, conforme destacou Rafael. “Pelo fato de mesmo hoje em dia as coisas terem melhorado muito, não ter tanto tabu, mas principalmente em cidades do interior não existem referências masculinas que demonstrem essa naturalidade, hoje ainda é um pouco restrito ver homem dançando ballet, essas danças mais técnicas, a gente vê muito em bailes, em shows, mas assumir realmente uma identidade que gosta de fazer ballet ou jazz, ou ‘eu quero ser um bailarino’, por mais que tenha vontade ainda é uma coisa velada dentro das pessoas, por uma questão social, de como vão ser vistos, como isso vai influenciar até mesmo dentro da sua própria visão”, avalia.
TRAJETÓRIA
O coreógrafo Rafael De Paula descobriu a sua paixão pela dança ainda muito cedo, quando criança, e enfrentou muitas barreiras para atingir seus objetivos. “Comecei a fazer ballet clássico com 11 anos, acredito ter sido o primeiro menino a assumir a dança clássica numa escola de dança na cidade e até mesmo na região. Foi há 28 anos, então as dificuldades que eu enfrentei para me manter dentro da dança, eu precisei gostar muito, para me manter firme nela e conseguir ir para São Paulo fazer uma carreira, hoje ter uma escola”, destaca.
E teve que passar por cima do preconceito. “As pessoas me agrediam muito com palavras, eu era excluído, passei por diversas situações preconceituosas. Por exemplo, por um bom tempo eu chegava na escola, entrava, ia direto para a classe porque abriam corredores para eu entrar e nesse corredor as pessoas me isolavam e falavam palavras muito ofensivas. Por um bom período enfrentei coisas que eu não sei onde encontrei estrutura para aguentar, eu acho que realmente era a paixão e o amor que eu tinha, a certeza que eu queria aquilo e eu ia conseguir, conquistar. Fui para São Paulo depois de um tempo, depois que as pessoas começaram a me ver dançar isso mudou completamente, então, por ser também a primeira referência passei a ser o menino que era chacota para o menino admirado, pelo talento, coragem, pela sua determinação”, conta.
Com 17 anos, Rafael foi fazer um curso de férias em São Paulo e acabou recebendo uma proposta de trabalho para ficar lá e foi onde começou a carreira profissional. “Foi aí que tive a oportunidade de passar pelos maiores professores e maestros da época, tendo a oportunidade de dançar nos maiores festivais do Brasil, com premiações, na maioria deles, como primeiro lugar, como medalha de ouro, tendo a oportunidade de conhecer o Brasil com a dança”, relembra.
Mesmo morando na capital, sempre teve a visão de que os meninos eram a minoria na dança. “Isso me chamava atenção, diferente de outros países, Europa, EUA, que é muito natural para o homem, isso é uma coisa que o Brasil ainda traz como tabu. Essa minha ideia de ter um grupo masculino, trabalhar e direcionar o trabalho para o corpo masculino que é diferenciado de um trabalho para a mulher, sempre foi uma vontade e hoje tendo oportunidade em mãos, porque não. Eu tendo um projeto, eu tendo um lugar onde posso acolher, onde posso trazer essas pessoas e desenvolver um trabalho direcionado em conjunto com o trabalho da escola, vou fazer. Hoje em dia embora as coisas estejam mais fáceis, vieram outros meninos, eu comecei na escola Cadência Ballet que me deu a primeira oportunidade, me deu uma bolsa. Dentro desta situação de preconceito a minha família também era bem resistente em relação a isso, mas eu fiz tudo para chegar a essa escola e conseguir uma bolsa que me deu início, onde tudo começou através da Selma Andrade, hoje as coisas são mais fáceis, estão mais abertas, mesmo assim existe um lado de crítica. Para mim não mais, porque me conhecem desde lá atrás, mas e aqueles que hoje pensam em fazer, mas até por si mesmo existe uma certa barreira. E acredito que hoje existindo um grupo masculino onde tenha referência que homens dançam sim e que não afeta no sentido sexualidade que é o lado que mais pega, traria um grande resultado, quebraria muitas coisas em relação a esse preconceito”, acredita.
APOIO
Sua persistência, dedicação e talento fizeram as pessoas terem um olhar diferente para a arte e para o seu trabalho, foi aí que começou a ter apoio e a ser incentivado. “Depois que meu pai, mãe e tia me viram dançar eles mudaram, passaram a acreditar no meu desejo, no meu sonho, passaram a me apoiar. Esse tipo de apoio me traz num lugar de privilégio dentro desta situação que, às vezes, é muito opressora, eu decidi também ser um caminho para que esses meninos possam se manifestar, sintam-se acolhidos, num ambiente onde eles façam parte e realmente se identifiquem, então decidi abrir essas vagas, que na verdade é só o começo, pretendo fazer um projeto “Homens que Dançam”, desenvolver isso e levar para frente.”
INSCRIÇÕES
As inscrições podem ser feitas pelo o Whatsapp (19) 98858-5092. As aulas serão ministradas na sede do Grupo De Paula com turmas e horários a serem definidos. Os alunos passaram por um entrevista para compreender melhor a proposta.
Por Janaina Moro / Fotos: Divulgação