Nas últimas semanas, dois nomes do esporte brasileiro circularam nas redes sociais, em tons e intensidades diferentes: Oscar e Neymar. O primeiro, por conta de diversas declarações sobre vários assuntos no programa “Grande Círculo”, do canal SporTV; o segundo, por conta das acusações de uma brasileira, que afirmou ter sido violentada sexual e fisicamente por ele.
Muitos vídeos no WhatsApp: de Oscar, o trecho da entrevista em que é perguntado sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro, e a resposta contundente de que está otimista e o apoia; de Neymar, declarações do próprio acompanhadas de uma série de print screens com conversas com sua acusadora.
Com o perdão do trocadilho, Oscar no centro do Grande Círculo, Neymar sob os holofotes de um Grande Circo.
Ainda que a comparação que estou fazendo neste texto possa parecer arbitrária, entre os dois personagens há algumas semelhanças: além do fato de serem atletas brasileiros e seus nomes rimarem, são ambos nascidos em Fevereiro (Neymar, dia 5; Oscar, 16), atua(ra)m no Brasil e na Europa, tiveram várias conquistas importantes com a camisa nacional, mas sem a glória maior: no futebol, a Copa do Mundo; no Basquete, a Olimpíada.
Há também muitas diferenças. Para muitos, a maior delas está na própria seleção, já que Oscar teria recusado a NBA para seguir atuando pelo time nacional, ao passo que Neymar, entre lesões, suspensões e pedidos de dispensa, várias vezes deixou a camisa amarela no armário (em Copa América, não atua desde a fase de grupos de 2015).
Perguntado sobre como gostaria de ser lembrado daqui a 50 anos, Oscar disse: “como o cara que mais treinou nesse planeta. Não dá tempo de treinar o que eu treinei. E eu tenho um orgulho danado disso”. Talvez aí esteja um ponto chave, mas ainda não é tudo.
Um dos momentos mais importantes da entrevista de Oscar no “Grande círculo” teve a imagem de ídolos do esporte brasileiro projetadas ao fundo, e o questionamento ao craque do Basquete sobre sua opinião acerca de cada um deles, eventualmente. Nesta sequência, apareceram: Pelé, Senna, Cielo, Giba, Paula e Neymar. Para os 5 primeiros, Oscar foi só elogios.
Quando chegou a vez do craque do PSG, ele mudou o tom. Inclusive, virou-lhe as costas.
As palavras foram duras: “Ele não sabe o que faz. (…) Você não é qualquer um, cara, você é o Neymar, o melhor jogador de futebol do Brasil. Você tem que saber que as pessoas estão te olhando, você não pode fazer nenhuma besteira. E essa é uma das coisas que o público olha muito em um ídolo”.
O que distancia Neymar de Oscar enquanto ídolos nacionais é a mesma coisa que separou Ronaldinho Gaúcho de Ayrton Senna, para também citar dois praticantes de esportes diferentes e com aniversários próximos (no caso deles, o mesmo 21 de Março): talentos verdadeiramente raros, um optou por sacrificar todas as glórias que poderia obter em troca dos prazeres que sua profissão lhe proporcionou, enquanto o outro literalmente deu sua vida por aquilo que fazia.
Neymar foi, certamente, vítima nessa história do estupro. As evidências todas apontam para uma fraude, muito mal arquitetada, por sinal. Mas essa também é uma consequência quase inevitável no curso da vida de alguém que é chamado de “menino” mesmo aos 27 anos.
A primeira pergunta dirigida a Oscar foi: “Você foi apelidado de ‘Mão Santa’. Você é santo também?”. A resposta do ex-número 14 da seleção foi: “se isso significa nunca trair a minha mulher, eu sou. Sempre tive só ela mesmo, e tô feliz assim”.
Obviamente, isso não significa santidade. Mas é, no fim, o que separa os meninos dos homens.