► Desde muito as coisas estão envolvidas com interesses, nós temos os nossos interesses, arrisco em dizer, inclusive, que somos movidos por interesses – sejam eles bons ou ruins. Minha missão aqui é falar sobre gentrificação; eu acredito que para aprendermos sobre algo é preciso que isso nos comova, que mexa com a gente, portanto, tentarei contextualizar gentrificação com alguns acontecimentos da nossa pátria amada Brasil.
► A gentrificação podemos dizer que é o aburguesamento de algum local que antes era habitado por um certo grupo social, mas foram quase que obrigados a se retirar por conta da elite que passou a, digamos que, “colonizar” esse território. É como se a elite tomasse posse do local, passando a elitizar o território.
► Pode-se dizer que nisso é feita uma limpeza social, onde o povo local é excluído por alguma razão. Repare que sempre são grupos de maior vulnerabilidade social que são marginalizados pela classe de maior capital. Mas ainda há diferenças entre gentrificação e limpeza social, a gentrificação é uma forma forçada de limpeza social que envolve morte, enquanto a limpeza social não envolve morte, mas pode envolver coisas como as conhecidas arquiteturas hostis, que são construções sem nenhuma utilidade em lugares vazios, como debaixo de uma ponte, feitas para que mendigos e outros não passem a dominar o local.
► As arquiteturas hostis são implantadas realmente sem nenhum motivo, simplesmente para que ninguém se abrigue no local, há lugares em que são colocadas grades com pontas de ferro para que ninguém durma no local, há países em que são feitos bancos públicos pensados e arquitetados de forma que ninguém possa dormir neles. Isso tudo é um absurdo! Isso acontece geralmente em bairros nobres de elite, onde não querem ver ninguém dormindo em praças públicas, nem tão pouco gente pedindo dinheiro, pois o bairro passaria a ser mal visto. Perceba o absurdo!
► Agora eu trago, para concluir o assunto, o caso do Massacre da Candelária, no Rio de Janeiro, em 1933, onde foram mortas oito crianças por milicianos que em uma noite chegaram atirando nas crianças que dormiam na praça em frente à igreja da Candelária. Muitas crianças, naquele tempo, dormiam lá pelo chafariz de água, onde podiam tomar banho e se abrigar. Tempos depois a praça foi cercada com acesso em horários restritos.
► Realmente são coisas para se pensar, os absurdos que a sociedade comete dizendo ser para o bem local, mas que na verdade marginaliza os de vulnerabilidade social, ato esse que causa novos problemas sociais, alguns cometidos pelas próprias vítimas desse sistema sujo e interesseiro.
► *Sabinadas é escrita por Kauhan Sabino, poeta e idealizador do Jornal Quincas Borba da escola Marciano de Toledo Piza, participante da Rede Camões desde 2020.
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