O futebol, essa paixão mundial, já foi mais interessante. Desde o apogeu do futebol arte, com a seleção brasileira de 1970, tricampeã do mundo no México, o que se tem observado, mas jamais admitido, é a valorização do aspecto tático e físico do futebol em detrimento do aspecto técnico.
O jogador de futebol tornou-se atleta. Logo, o nível técnico dos jogos, caiu bastante. Corre-se demais em campo, e joga-se de menos. Bons jogadores, apenas bons, são guindados à condição de craques, por uma imprensa especializada sedenta por ídolos que contribuam para que seja mantido o interesse do grande público para com o produto que ela divulga e vende.
Até as dimensões do campo de jogo foram reduzidas, o que diminuiu os espaços e fez aumentar o contato físico entre os jogadores. Quem mais sofreu com isso foram naturalmente os jogadores sulamericanos, via de regra, mais técnicos e mais habilidosos que os europeus.
Concepções táticas que valorizaram a defesa em detrimento do ataque, foram introduzidas a partir da Europa e, pior, foram assimiladas pelos treinadores sulamericanos. A consequência disso, é que o futebol vistoso, vertical, em direção ao gol, com objetivo de fazer mais gols que o adversário desapareceu.
O futebol que, desde sua origem, fez a pessoa comum se apaixonar por ele e escolher um time pra torcer, transformou-se no jogo cujo objetivo deixou de ser marcar mais gols que o adversário, e passou a ser não sofrer gols. Nenhum, se possível.
Uma medida eficaz que poderia trazer o futebol de volta às suas origens, seria não pontuar as equipes que empatassem seus jogos. Zero ponto, para ambas equipes, em caso de empate. E três pontos para o vencedor. Isso obrigaria a uma revolução nos conceitos táticos do futebol.
Outra medida oportuna, seria premiar com um ponto a mais na tabela de classificação, as equipes que vencessem seus jogos por 3 ou mais gols de diferença. Além dos 3 pontos da vitória, mais 1 ponto, de modo a premiar a equipe que praticou a essência do futebol que é fazer gols para vencer.
Ainda como sugestão, limitar o número de faltas, a 3 faltas permitidas para cada equipe, cometer em cada período de jogo. A partir da quarta falta cometida, a equipe seria penalizada com um pênalti contra si. Isso exigiria que os jogadores desenvolvessem a admirável habilidade de tomar a bola do adversário sem cometer a famigerada falta.
E finalmente, que o impedimento fosse considerado apenas dentro da área, a grande e a pequena. Isso também exigiria uma revolução na conceituação tática do futebol, pois a zona morta, entre a área e o pau do escanteio poderia ser utilizada pelos atacantes, o que obrigaria a um novo posicionamento dos defensores.
Mas voltando a falar especificamente do futebol brasileiro, em nome de conquistar uma Copa do Mundo, depois de tê-la ganhando três vezes, jogando um futebol genuinamente nacional, o futebol brasileiro rendeu-se às teorias e práticas europeias e perdeu sua originalidade e seu encanto.
Ainda assim, durante mais duas décadas, surgiram jogadores extraordinários que foram decisivos para continuar levando torcedores aos estádios ou fazê-los parar à frente da tevê e do rádio. Ganhou-se mais duas copas do mundo, e tais feitos, serviram de pretexto para empurrar as escolhas erradas para debaixo do tapete. Pensou-se numa competição que se disputa a cada 4 anos, a Copa do Mundo. E esqueceu-se de cuidar e preservar o futebol que se joga todos os dias neste Brasil imenso de dimensões continentais.
Em 2002, acabaram os craques, verdadeiramente craques, e vencedores. Chupamos a laranja até a última gota do suco. Ficamos com o bagaço.