A história se conta com lembranças e registros, assim pensa o fotógrafo rio-clarense Iuri Tolosa Capretz, que já atingiu a marca das 30 mil imagens do Carnaval da cidade, desde registros das festas promovidas ao longo do ano nas quadras das escolas para marcar datas importantes, como aniversários, escolha de samba-enredo, festas juninas ou projetos sociais mantidos pelas agremiações. Contudo, o orgulho – orgulho mesmo- do profissional são os registros dos ensaios técnicos, apurações e, claro, dos desfiles oficiais.
“São 13 anos desde que voltei a morar no Brasil e comecei a fotografar o trabalho da Samuca, escola em que passei parte da minha adolescência. Até hoje, como samuqueiro, participo das atividades da escola, mas amo o Carnaval, o samba e tenho enorme respeito por todas as escolas e seus integrantes”, diz Capretz.
Ao longo desse período fez registros icônicos de celebridades convidadas para participarem do Carnaval de rua de Rio Claro e, talvez o mais importante, criou uma linha história imagética da comunidade do samba.
Desde crianças enquanto ainda estavam no ventre de sua mãe, como Guilherme Lunardi que nem tinha nascido, mas já estava na avenida. A mãe dele, Deborah Nuvens Lunardi, porta-bandeira da Samuca, e o marido e mestre-sala Luiz Gustavo Lunardi, mal tinham cruzado a linha de chegada do desfile de 2014, quando Deborah desmaiou. A confusão foi geral e ninguém sabia o que tinha acontecido. Ela ficou 15 minutos desacordada.
“Ela estava passando mal e foi firme até cruzar a linha de chegada. Lembro de bater com a câmera nas pessoas para abrir caminho para a Deborah ser socorrida. Ela e o Gustavo foram para o hospital e, mais tarde, todos ficaram sabendo que ela estava grávida”, lembra Iuri.
Atualmente, aos 8 anos, Guilherme desfila na bateria Ritmo Envolvente, enquanto o irmão Pedro segue os passos no pai como mestre-sala. “Eu acompanhei o desespero de carros quebrados, da chuva, dos problemas técnicos e as alegrias, o espírito de comunidade e tive a chance de registrar muita gente que já se foi, mas deixou um legado de alegria, cultura e arte para nossa cidade”, disse o fotógrafo.
Carnaval, para ele, é a reunião de muitas famílias de sangue e outras de princípios que entendem que o desfile é a apoteose do samba, mas as escolas funcionam o ano todo para fazer essa grande festa popular. “Muita gente diz que tem bagunça, mas a escola de samba é uma organização muito coesa, trabalhadora e protetora da família. São famílias que fazem o carnaval e essas famílias abrem espaço para todo tipo de pessoas, com muito respeito”, diz.
Carnaval em P&B
Apesar de toda luz e das cores da festa carnavalesca, Iuri Capretz fez uma cobertura de Carnaval em preto e branco, o que transformou o resultado do trabalho valorizando as nuanças entre o preto e o branco e conferindo ao registro um aspecto de época.
Neste ano, antes mesmo do desfile, já foram mais de cinco mil imagens registradas, que são guardadas com cuidado para um dia se transformarem em livros, exposições e outras formas de arte, memória e reflexão. “Nesse período, eu respiro, como, durmo e sou Carnaval. É assim que quero ser lembrado, como o fotógrafo do Carnaval de Rio Claro”.
Coisa de família
Vindo de uma família de fotógrafos, Iuri Capretz destaca sua história aprendendo a fotografar ao lado de seu primo, Marcelo Zanelatto, na antiga Foto Santa Cruz, que era de propriedade de seu tio Ovídio Zanelatto e do sócio Paulo Melo. O pai dele, Eduardo Capretz, também foi fotógrafo, apesar de se dedicar também à contabilidade, além do primo Fábio Capretz, que se especializou em fotografar espetáculos de balé e dança.
Foto: Divulgação/Iuri Capretz