Quando da última sexta-feira (31), um ciclo de 58 anos foi encerrado no comércio rio-clarense. A tradicional loja Clarice, situada no bairro Cidade Nova, após quase seis décadas, concluiu suas atividades na Cidade Azul. Um verdadeiro marco na história do município, o estabelecimento já habita o subconsciente da sociedade local.
Histórico
José Djalma Schio, um dos filhos da empreendedora Clarice Demarchi Schio – que, juntamente com os irmãos Carlos e Paulo, esteve ao lado de sua progenitora nesta trajetória –, falou à reportagem do Centenário e fez um breve relato acerca do histórico da loja, que foi fundada em maio de 1961.
Tudo teve início no mesmo local onde, até a última sexta-feira (31), a loja Clarice prestou seus serviços: Rua 4-B, onde existia a residência da idealizadora e seu esposo, Vitório.
De acordo com ele, antes disso sua mãe já confeccionava bordados manualmente. Djalma Schio relata que nos anos 60 e 70, a produção de bordados foi muito importante, pois as mulheres conseguiam trabalhar em suas casas com essa atividade. “Esses bordados eram vendidos em quase todo o Brasil”, recorda-se.
Segundo ele, com a produção de bordados, teve início a revenda de produtos. No final dos anos 70, o estabelecimento já era um grande magazine. “Foi crescendo em vendas e diversificando seus produtos”, rememora. Na década de 90, as vendas voltaram-se para os consumidores do estabelecimento. Ao longo dos anos, a edificação passou por quatro ampliações, objetivando o melhor atendimento.
A decisão
Djalma Schio, à reportagem, garante que a decisão de encerrar as atividades se deve ao fato de achar que a missão foi cumprida e, agora, cada filho procurará novos caminhos. “O importante é que encerramos a empresa muito felizes, porque sentimos o quanto éramos importantes para tantas pessoas que gostavam da Loja Clarice, principalmente pela qualidade de produtos, atendimento diferenciado e da equipe Clarice com colaboradores muito eficientes. Agradecemos a todos que sempre nos prestigiaram. Obrigado mesmo!”, pondera.
Louçadada
A Loja Clarice foi a última a colocar um ponto final em sua história, no entanto, houve outros fechamentos anteriores de comércios que até hoje são lembrados pelos rio-clarenses. Um deles, a Louçadada, que ficava na Avenida 4, entre ruas 2 e 3, fundada no longínquo ano de 1948 pelos irmãos Pedro e Ruy Kleiner, já falecidos. Rui M.
Kleiner, que com o primo João Eduardo deu prosseguimento à trajetória do estabelecimento, relata que a Louçadada foi uma loja de varejo especializada em presentes, louças, porcelanas, utensílios em inox, eletrodomésticos, brinquedos, e outros. “Foram 51 anos de funcionamento e, no final, foi comandada por mim e por meu primo. Então, em 1999, optamos por encerrar a empresa para que pudéssemos investir em novos empreendimentos”, confidencia.
Fatores
Kleiner falou a respeito do fechamento de lojas tradicionais não só em Rio Claro, mas em todos os municípios. Conforme ele, são vários os fatores. “Primeiro, é a falta de interesse, em muitos casos, dos herdeiros que, em grande parte, cursou faculdades e prefere trabalhar em suas áreas. Depois, tivemos a entrada de grandes magazines com concorrência muito forte e que possuíam um poder de compra muito acima do nosso.
Outro fator é a dificuldade de adaptação dos mais velhos para os métodos atuais de mercado, e desconfiança na nova tecnologia, hoje a arma mais poderosa do mercado varejista. E, ainda, afora os custos de uma loja física, temos a internet, com as compras online, um valoroso concorrente que, com certeza, nos tira uma grande fatia do mercado”, avalia Kleiner.
Sindicato
O Diário do Rio Claro entrou em contato com Célio Simões Cerri, presidente do Sindicato dos Comerciários de Rio Claro (Sincomércio) que, sobre o fechamento de tradicionais estabelecimentos genuinamente rio-clarenses, afiança enxergar “com grande pesar essas lojas tradicionais encerrarem suas atividades após uma existência profícua que as destacaram”.
“Sabemos que nada é eterno e que as mudanças existem e nos cobram. Esta é a dinâmica da evolução”, expõe Cerri, que finaliza: “há tempos em que ficamos estáticos por infinitos problemas, o que nos leva inexoravelmente à finalização, infelizmente.”