Nas últimas semanas, os investimentos em pesquisa e educação foram amplamente discutidos na mídia. O contingenciamento de recursos e o debate sobre investir ou não em educação superior expuseram uma problemática que se estende há muito tempo: o que é produzido pelas universidades públicas?
Foi com o intuito de aproximar a sociedade da academia que surgiu o evento Pint of Science, nascido em 2012, da iniciativa de dois pesquisadores do Imperial College, de Londres, que recebiam em seus laboratórios pacientes e pessoas interessadas em suas pesquisas. Assim começava o maior festival de divulgação científica do mundo, que chegou ao Brasil em 2015, por iniciativa da pesquisadora Denise Cassati. Em 2019, o evento será realizado concomitantemente em 85 municípios brasileiros e, pela primeira vez, em Rio Claro. O Diário do Rio Claro conversou com Denise Cassati, que falou sobre divulgação científica, investimentos em pesquisa e a realização do evento. Confira!
Diário do Rio Claro: Estamos vendo a reprodução de um discurso de que as universidades não desenvolvem pesquisas relevantes. Você acha que isso é resultado de poucos esforços para a divulgação científica?
Denise Cassati: Na verdade, eu acho que isso é resultado de uma série de questões e entre elas eu acho que a questão não é o pouco esforço para divulgação científica, acho que a questão é a pouca valorização dentro da própria academia sobre a divulgação científica como uma prática natural, que deveria ser exercida pelos próprios cientistas e por toda a comunidade da universidade.
Tudo é muito voltado para uma valorização quantitativa da produção científica e pouca valorização para qualquer atividade de extensão, entre elas, a divulgação científica e eu acho que tem um problema com o nível de formação dos novos pesquisadores, porque se eles não sabem o que é divulgação científica, se eles não têm dentro da formação deles, não dá para gente cobrar isso deles. Não tem como valorizarem o que eles não sabem. Eu acho que isso também acontece na sociedade.
Eu acho que tem um abismo exatamente porque julga-se aquilo que não se conhece e ninguém sabe hoje nem como é que nasce uma pesquisa e qual é o processo de produção de conhecimento. É um abismo que é construído ao longo do tempo por uma série de fatores e tem a ver com uma história de que a universidade não consegue se comunicar adequadamente com a sociedade, em que ela fala muito para si e os cientistas falam muito com seus pares, porque isso sempre foi valorizado até aqui.
Mas acho que está tendo uma mudança, inclusive porque a partir do momento que temos os ataques pelo desconhecimento, acaba sendo natural a defesa. Então os próprios cientistas passam a falar, a se defender e aí é a chance que temos de mudar a visão da sociedade sobre a universidade. E o quanto eventos como o Pint of Science podem contribuir para isso, embora eu acredite que ele contribua, mas ele não é a única solução.
Diário do Rio Claro: Como tem sido a receptividade do Pint no Brasil?
Denise Cassati: Quando a gente trouxe a iniciativa para o Brasil pela primeira vez em 2015 aqui em São Carlos, a ideia era plantar uma sementinha para que isso se espalhasse e deu muito certo. Começamos em 2015 em São Carlos como única cidade, depois, em 2016, em sete; 2017, em 22; 2018 subiu para 56; e, agora, em 2019, são 86 cidades. Os números mostram o aumento do impacto do evento, o público cresce, então percebemos que existe uma receptividade extremamente positiva.
Nesse momento em que a gente está vivendo, de redução de investimentos em Ciência e Tecnologia, o evento ganhou um apelo ainda maior, porque ele se torna também um evento para defender a pesquisa e a ciência brasileira, porque é um momento que a gente percebe que não se sabe o que é feito de fato dentro das universidades e institutos de pesquisa.
O Pint é um evento que atinge uma camada da população que tem sede de ciência, que quer conhecer mais sobre a universidade. Mas é claro que não alcança todos os nichos dessa sociedade, é um evento que acaba alcançando muito o público universitário, que desconhece a respeito de pesquisas de outras áreas do conhecimento e isso gera, inclusive, novas possibilidades de desenvolvimento científico, mas tem muita gente da comunidade que vai e leva a família, as crianças, mas acho que você ainda não está alcançando a periferia, é preciso pensar em outros formatos de eventos.
Programação (20 e 22 de maio) – Rio Claro
► 20/05 – As múltiplas utilidades dos insetos, às 19h30, no Chopp & Cia.
► 20/05 – Uma introdução à teoria do Caos e fractais, às 19h30, no Fritz Cervejaria Artesanal.
► 21/05 – Dos buracos negros à supercondutividade, às 19h30, no Chopp & Cia.
► 21/05 – Uma visão geral da Astronomia: das Épocas Remotas à Era Espacial, às 19h30, no Fritz Cervejaria Artesanal.
► 22/05 – 30 milhões de anos que transformaram o planeta: Surgimento dos primeiros animais e impacto no Sistema Terra, às 19h30, no Fritz Cervejaria Artesanal.
► 22/05 – Queridos macacos, jardineiros das nossas florestas…, às 19h30, no Chopp & Cia.