O ano de 2019 começou com uma perda irreparável para Rio Claro.
No último dia 6, aos 83 anos, faleceu na cidade Fernando Guilherme Leonardo, um dos mais importantes comerciantes da Cidade Azul. Panqueca, como era carinhosamente chamado e deste modo bastante conhecido, foi responsável por estabelecimentos que marcaram uma época e fizeram história, em especial o Panqueca’s Bar, além da Gruta e do Choppinho.
Ele deixa a esposa Aparecida de Souza Nogueira Leonardo, mais comumente conhecida como Fátima, os filhos Fernando Paulo e Rodrigo, e a nora Lilian, casada com Paulo. Apesar do momento difícil pelo qual a família atravessa, Paulo atendeu à reportagem do Diário do Rio Claro para contar um pouco do muito que seu pai fez pelo município, em especial no tocante ao entretenimento. Nesta edição, o Centenário presta uma justa homenagem ao inesquecível Panqueca.
1955: o início.
Paulo Leonardo e Emilia Barsotti, os pais de Fernando Panqueca, abriram um barzinho na Rua 1, entre avenidas 5 e 7, para que o filho pudesse dar início às atividades como comerciante. De acordo com Paulo, um pouco antes disso, seu pai trabalhava como entregador de mercadorias de um pequeno armazém e também em um cartório.
“Já com um dom especial para os negócios, montou no quintal da casa de seus pais uma pequena lanchonete onde fazia pizzas e sorvetes com aproximadamente 20 mesas”, conta. Conforme Paulo, os primeiros frequentadores da época faziam parte da chamada “society” de Rio Claro e as festas de aniversários começaram a ser realizadas no local. “Neste período, Aurea Dias era quem incentivava a juventude a participar dessas reuniões e encontros”, relembra.
O crescimento
A partir de então, Panqueca (apelido “obtido” ainda nos tempos da Escola Joaquim Ribeiro) passou a colocar discos de vinil em sua vitrola. Deste modo, o estabelecimento rapidamente se tornou um “point” e passou a ser o bar dançante mais frequentado e cobiçado, local de encontro obrigatório da juventude de várias gerações.
A respeito deste período, João Eli Cassab, através de uma rede social, rememorou que, aos domingos, ainda adolescente, costumava ir ao local para comer pizza. “Uma delícia na época. Depois, vieram as transformações, as mesas, a pista de dança. Panqueca e seu pai estavam sempre atentos. Passávamos depois das aulas e o Panqueca nos atendia sempre com muito carinho e nos respeitava muito, embora fôssemos crianças ainda. É muito bom relembrar essas coisas.
Acho que nunca mais veremos”, recorda-se. Panqueca foi o pioneiro em se tratando da arte do entretenimento. Segundo Paulo, “nada igual ou parecido existia ou sequer ouvia falar, ainda mais para uma cidade do interior”. “Toda a criatividade, energia, talento e amor, dedicou à criação do Panqueca’s bar”, acrescenta.
Ampliação
O sucesso da casa nos anos 60 fez com que Panqueca ampliasse as instalações, até chegar na estrutura existente na época de ouro, com quatro pistas de dança, cachoeira artificial de cinco metros de altura, 450 mesas e diversos ambientes. “A demanda ficou tão grande que, em 1977, foi inaugurada uma nova casa, a Gruta (construída com seis toneladas de gesso), onde um dos acessos era pela Avenida 7 e funcionava às quintas-feiras e sábados, das 23 às 5 horas”, relembra Paulo.
Nos anos 60 e 70, o Panqueca’s bar era o ponto de encontro dos jovens ao som de ritmos variados: Nat King Cole, Jovem Guarda, Bee Gees, Abba, Beatles e muitos outros artistas. As músicas que eram tocadas eram cedidas em parceria pela A Musical Braguinha, onde o saudoso Braguinha e Neide, sua esposa, compartilhavam as melhores e as mais lindas músicas para toda a juventude.
“Muitas pessoas se conheceram, começaram a namorar, noivar e casar através desse ponto de encontro. A casa funcionava às quintas, sextas, sábados, domingos e feriados, só não abria na Sexta-Feira Santa. O bom atendimento e entretenimento ajudavam a atrair os clientes”, ressalta.
Ilustres frequentadores
Referência em toda a região, o Panqueca’s bar teve frequentadores ilustres, às vezes, somente de passagem para conhecer, como Chiquinho Scarpa, Fátima Scarpa, Pierre Cardin, políticos, artistas e até um príncipe da África.
Na quaresma, todas as pistas de dança se fechavam ao som de músicas lentas. “Roberto Carlos, Julio Iglesias e muitos outros. Era proibido dançar e o sistema de correio elegante ajudava as paqueras da juventude da época até o Sábado de Aleluia”, recorda. Após anos de extremo sucesso, o Panqueca’s bar encerrou suas atividades em 1990.
Em dezembro de 2012, muitas pessoas e amigos queridos daquela época de ouro realizaram uma grande festa no Clube de Campo de Rio Claro em homenagem ao Panqueca. “Muitas lembranças e recordações ocorreram naquela linda noite”, afirma Paulo.
Choppinho: 1985 a 1995
Foi um choperia especializada em petiscos e porções. Outro grande sucesso do inesquecível Panqueca. O prefeito de Rio Claro, João Teixeira Junior, o Juninho da Padaria, ao lado de seu irmão Jander, atuou como garçom nesse estabelecimento, sendo um dos primeiros empregos dos “garotos”. “Muitos clientes das ‘antigas’ e novos foram conquistados no Choppinho, onde a casa tinha uma bela estrutura térrea e de um andar”, descreve.
Tião D’Ávila, ator, também por intermédio de uma rede social, acerca do amigo Panqueca, disse o seguinte: “querido Fernando Panqueca, obrigado por tudo que você fez pela noite rio-clarense. Quantos namoros, paqueras. Quantos beijos trocados, quantas juras de amor.
Algumas, inclusive, duram até hoje. Fica com Deus, meu amigo. E você sabe que o show não pode parar. Emocionado e agradecido, me despeço de você, meu querido Panqueca. Beijão”, escreveu, comovido. O ex-prefeito Dermeval Nevoeiro, o Nevoeiro Jr., também prestou homenagem ao comerciante. “Aos familiares do nosso lendário Panqueca, meus pêsames.
Foi um empreendedor notável. Deu alegrias a jovens de Rio Claro e de outras cidades. Lembro-me das referências que faziam do Panquecas. Local lúdico e romântico. Fez história. A Deus, que creio e sirvo, peço orações para recebê-lo com alegria no Seu regaço. Aos familiares, o conforto. Vá com Deus, querido Amigo.”