A posição de goleiro sempre foi a mais destacada no futebol. Seja para o bem seja para o mal. Alvo de elogios e críticas, responsável por vitórias ou derrotas, o guardião da meta, é sempre o que mais chama a atenção, a começar pelo uniforme que veste, diferente de seus companheiros de equipe. E também, pelo fato de ser o único entre os 11 jogadores de um time que tem o privilégio de tocar a bola com as mãos sem infringir a regra.
Entre as crianças que apreciam e praticam o futebol, difícil encontrar alguma que não tenha, ao menos por um momento, cogitado a ideia de jogar como goleiro. O caminho até chegar à posição de goleiro, muitas vezes, pode ser atuar antes em uma posição de linha. Foi o caso do nosso entrevistado, como o leitor verá mais adiante.
O D’Esportes, sempre incentivando e valorizando o esporte local, bateu um papo muito interessante e agradável com Renato Scopinho, goleiro que teve uma carreira vitoriosa e muito digna, tanto no profissional como no amador, que lhe valeu inúmeros títulos e amizades construídas ao longo do tempo, com respeito e lealdade.
Casado com Ana Lúcia, filho de Armando e Luíza, Renato Cesar Dezan Scopinho encerrou ano passado, aos 52 anos, sua trajetória no futebol, que durou 34 anos. Renatinho, muito gentilmente, respondeu às perguntas do D’ESPORTES. Vamos à elas:
Como foi o início da sua carreira no futebol?
Comecei na base do Juventude FC com o Sr. José Guarino, em 1989 e na posição de zagueiro. Fizemos um amistoso contra a Internacional de Limeira, o goleiro faltou e eu o substitui. E me saí bem no jogo. A Inter gostou da minha atuação e me fez o convite. Então, eu fui pra Inter, e já no ano seguinte, me profissionalizei, pelas mãos do Prof. Levir Culpi. Na Inter, joguei nos anos de 1991, 1992 e 1993 até o começo de 1994. Depois, em março de 1994, vim para o Rio Claro FC, que era treinado pelo saudoso técnico Tonho. Em 1995, voltei pra Inter, que era detentora do meu passe. E fui emprestado naquele ano para a Votuporanguense. Mas senti uma lesão em decorrência de uma cirurgia que eu havia feito em 1992. Então, resolvi parar de jogar profissionalmente, com receio de ter que fazer uma nova cirurgia. Algum tempo depois, comecei a jogar no amador e atuei em várias equipes de Rio Claro: Estrela de Monte Carlo, Paulistão, Juventude, Juventus, Santana, Corumbataí, UPU, Pisos Nice e, finalmente, Boa Vista.
Quais títulos conquistou ao longo da carreira de 34 anos?
Conquistei os títulos de campeão amador jogando por equipes de Rio Claro, Limeira e Conchal. Tenho alguns títulos também da Copa Gazeta de Limeira, que era muito disputada, e tenho também títulos regionais por clubes de Rio Claro, Santa Gertrudes, Limeira e Corumbataí,
O que o futebol lhe proporcionou de mais valioso?
Foram as amizades que fiz ao longo do tempo. Tive oportunidade de conhecer vários lugares, mas foram as amizades o que o futebol me proporcionou de mais valioso.
Cite um momento inesquecível na sua carreira como goleiro?
Foi o primeiro jogo que fiz pela Inter de Limeira, no Limeirão, contra o aspirantes do São Paulo FC. Nesse jogo, eu peguei um pênalti. Foi o primeiro jogo que meu pai e minha mãe estiveram presentes nas arquibancadas, me acompanhando, isso para mim foi inesquecível.
Quais as principais qualidades um goleiro deve ter?
Primeiro, muita vontade, pra se dedicar bastante. Tem que ser o primeiro a entrar em campo para o treino e o último a sair. É uma profissão que requer um empenho, um esforço muito grande.
Quais pessoas foram importantes na sua carreira no futebol?
Foram várias. José Guarino, Hugo Geometti e Casemiro no Juventude FC. Dentre os meus familiares, o meu irmão Armandinho, que é um ano mais velho que eu, que sempre me acompanhou e sempre me ajudou bastante. E minha esposa, Ana Lúcia, que, até hoje, me incentiva a fazer o que eu gosto.
Qual a importância da família na carreira de um jogador de futebol?
A família é a base de tudo para um jogador. Na minha carreira profissional, encontrei muitos jogadores de ótima qualidade técnica, mas que não tinham uma base familiar e isso fez com que eles abandonassem a carreira muito cedo.
De quando começou a jogar futebol até o término de sua carreira, quais as principais mudanças você verificou na posição de goleiro? E se foi difícil de se adaptar a elas.
Da minha época, de quando comecei a jogar, aos tempos de hoje, muita coisa mudou. Quando comecei, goleiro tinha que ter como principal virtude saber sair do gol, ter uma boa impulsão e uma boa colocação. Hoje, não. O futebol de hoje, requer que o goleiro seja tipo um líbero, que saiba sair jogando com o pé, saiba ter o senso de cobertura. Mas, isso, no meu modo de ver, está fazendo com que o goleiro deixe de ter aquela essência da posição. No meu modo de ver, a primeira coisa que um goleiro tem de saber fazer é defender, e, depois, jogar com o pé. Prefiro o goleiro à moda antiga.
Em sua opinião, como o goleiro pode intervir positivamente na atuação da equipe durante o jogo e nos vestiários?
Goleiro é o jogador que mais tem que pensar dentro de campo. Ele, no vestiário, tem que ter aquela palavra certa. É ele que tem a visão total do jogo. Goleiro tem que ter bom senso na hora de intervir com seus companheiros. Penso que, por esse motivo, o goleiro deveria ser sempre o capitão do time.
Torcida ganha jogo?
Torcida ganha jogo, sim. Eu fiz um jogo na Fazendinha (estádio Alfred Schurig), contra o Corinthians, pelo aspirantes, era preliminar do profissional, ali, defendendo a Internacional, eu senti um arrepio muito grande, aquilo se transformava em um caldeirão fervendo, quando a massa corinthiana começava a gritar, a incentivar o Corinthians. Ali, se o cara não tiver uma estrutura, ele sucumbe.
Como você vê o atual futebol brasileiro?
Vejo o futebol brasileiro hoje tentando se reerguer. Antigamente, o futebol brasileiro era copiado. Hoje, o futebol brasileiro, está querendo copiar o futebol que se joga lá fora. Prova disso, você vê a seleção brasileira como está difícil de engrenar, está difícil até de aparecer um novo ídolo. Qualquer jogador que faz uma, duas partidas boas já é taxado como craque, como ídolo, e não é bem assim. Antigamente, tinha jogadores de muito mais técnica, muito mais qualidade.
Qual foi o melhor time profissional pelo qual você atual?
Foi a Internacional de Limeira, em 1991, quando disputamos o campeonato de aspirantes e chegamos nas quartas de final. Um time que tinha uma obediência tática muito grande, tinha uma força física enorme e uma união fora do comum. Era como se fôssemos irmãos, um corria pelo outro. Era até bonito de se ver.
E qual a principal característica desse time?
Era um time muito bem sincronizado, muito bem disposto taticamente.
Cite um técnico que marcou sua carreira
Tive vários técnicos que marcaram minha carreira, mas, acho que o principal deles, foi aquele que me alavancou, foi o Levir Culpi. Foi ele que deu o aval para a minha trajetória na Internacional de Limeira, tirando-me do aspirantes e colocando-me no profissional, pedindo a minha profissionalização. Pessoa boa demais, o Levir.
Mais alguma coisa que queira acrescentar, fique à vontade
Renatinho disputou o Amadorzão da L.M.F por várias equipes ao longo da carreira.
Agradeço ao D’Esportes, pela oportunidade. E a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, fizeram parte da minha trajetória no futebol. Foram 34 anos vestindo a camisa 1 com amor e dedicação. Também agradeço a todos os clubes pelos quais joguei, seus dirigentes que me abriram as portas dos clubes e os torcedores dessas equipes que sempre me apoiaram e me incentivaram. Agradeço a minha família, aos amigos e ao futebol por tudo o que me proporcionou de mais gratificante, que foram as amizades que fiz ao longo dos anos e atravessaram gerações. E a prova disso é você, Geraldo. Tive a oportunidade de conhecer o seu pai. Trabalhei com ele, pouquíssimas vezes, no futebol, ele técnico e eu jogador, acho que duas ou três vezes. E, através dele tive oportunidade de te conhecer e estamos agora tendo essa conversa agradável, recordando um pouco da minha carreira. Então, eu só tenho mesmo a agradecer. E obrigado pela oportunidade.
Em uma das muitas finais do Amador, que disputou.
Como profissional, na Inter de Limeira, em 1991.
Campeão da Copa Gazeta com a AA Santo Antonio 2009.
Revendo velhos amigos no Master do Independente FC de Limeira.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Divulgação