Para tentar entender as nuances entre a Rio Claro de ontem e a Rio Claro de hoje, o Diário do Rio Claro procurou todos os ex-prefeitos vivos do município para comentarem suas experiências à frente do executivo e como avaliam a atual administração. Aceitaram participar da reportagem o advogado decano Álvaro Perin, o engenheiro civil e professor Kal Machado, o promotor aposentado Azil Brochini, o professor Claudio Di Mauro e o sociólogo e empresário Nevoeiro Junior. Foram realizadas as mesmas perguntas para os entrevistados.
Todos os entrevistados afirmaram que estão fora das próximas eleições municipais. Também não apontaram nenhuma liderança política existente na cidade. Confira a entrevista:
Seu primeiro mandato à frente do executivo tinha como proposta rever algumas ações do prefeito anterior. Quais foram as dificuldades encontradas?
Álvaro Perin – Eu sucedi o Augusto Schmidt Filho que foi um prefeito muito realizador, empreendedor. Ele deu novas direções ao desenvolvimento de Rio Claro. Eu acabei absorvendo aquele entusiasmo dele. Eu pregava a continuidade do governo Schmidt, ou seja, continuar as obras e projetos existentes e iniciar novos.
Kal Machado – Em relação à primeira parte, prefiro manifestar-me apenas parcialmente, pois, já decorridos mais de 30 anos dessa experiência, creio que detalhes de bastidores da época devem ser de pouca relevância para os atuais leitores, a não ser para aqueles que se interessarem por retrospectivas e memórias, tarefa essa que está sendo realizada pelas mãos do escritor rio-clarense Lucas Puntel Carrasco, a quem concedi mais de 20 horas de entrevistas, e, cuja divulgação e revelação do conteúdo, neste momento, poderia conspirar contra o ineditismo de sua obra.
Azil Brochini – Em nosso período à frente do governo municipal inúmeras leis foram implantadas em especial o Plano Diretor, elaborado com a participação efetiva dos vários segmentos da comunidade e direcionamento de pessoas capacitadas. Fizemos a implantação da primeira Conferência Municipal da Saúde, iniciamos o conselho tutelar, implantamos os primeiros passos para assistência ao adolescente com médicos e psicólogos…
Claudio Di Mauro – Em primeiro lugar, havia o projeto de rever a metodologia de governo. Minha visão sempre foi da implantação da Democracia Participativa. Para tanto, tivemos um longo período de amadurecimento para trabalhar em oito anos com o Orçamento Participativo; com a eleição dos subprefeitos nos Distritos; com a implantação das Conferências Temáticas e as Conferências do Município.
Nevoeiro Jr. – Todas as minhas propostas foram atingidas. Está aí o Centro Cultural, os Centros Sociais Urbanos, entre tantas outras obras importantes. Rio Claro teve um avanço importante, como o programa de industrialização. Os objetivos todos foram atingidos
– Em seu mandato, o senhor faria alguma coisa diferente? Comente.
Álvaro Perin – Eu poderia acrescentar mais se tivesse prorrogação no mandato. Cheguei a realizar o plano de governo que havia proposto. Em alguns casos, inclusive, houve acréscimo de ações ao plano original.
Kal Machado – Realizamos, em dois anos, mais de 200 obras e serviços sem ter feito um único empréstimo ou antecipação de receita. Durante e após o meu mandato, nunca houve pela Imprensa escrita e falada, Câmara Municipal, Ministério Público ou outros órgãos fiscalizadores, uma única denúncia, acusação ou simples ilação sobre qualquer indício de corrupção, superfaturamento, nepotismo ou algum ato suspeito em minha administração. Todas as minhas Contas, foram aprovadas pelo Tribunal de Contas e Câmara Municipal.
Azil Brochini – Talvez o erro maior foi que não fazia gasto com propaganda para que a população se conscientizasse do nosso trabalho. Até porquê os meios de comunicação não eram como os de hoje.
Claudio Di Mauro – Para facilitar o entendimento de como foi construído o nosso governo será muito importante consultar o livro do Dr. Ruy Pignataro Fina [Das Sementes e Raízes aos Primeiros Verdes Frutos] que tenho a honra de manter em meu site, no endereço: https://bit.ly/2MOOoO4. Em um novo mandato há necessidade de radicalizar na construção do Planejamento e da Gestão Participativa, manter os objetivos definidos, agora com maior credibilidade e bom relacionamento com a comunidade.
Nevoeiro Jr. – Eu não alteraria nada do que fiz no meu último mandato. Tivemos sete assassinatos durante um ano, o que provou que diminuímos muito a violência, com lazer, cultura e aumento do efetivo da Guarda Municipal.
– O senhor se recandidataria? Rio Claro pode esperar seu nome na próxima eleição? Se não, quem seria uma boa liderança política para as próximas eleições?
Álvaro Perin – Estou afastado, não estou enfronhado na política.
Kal Machado – Embora tenha muito orgulho de ter servido a minha comunidade, exercendo os cargos de Vice-Prefeito, Prefeito e Deputado Estadual, descarto qualquer projeto ou iniciativa com vistas a uma eventual candidatura a qualquer cargo eletivo. Aproveitando o clima da Copa, afirmo, categoricamente, que “pendurei as chuteiras”.
Azil Brochini – Não sou eleitor em Rio Claro e sim em Florianópolis. Não mais tenho atividade política. Caso volte para Rio Claro não me candidataria.
Claudio Di Mauro – Há quem se candidate por exclusiva vontade própria. O ideal é que haja uma demanda local, o que não está demonstrado e que seja construído um projeto coletivo. Não pode haver um projeto individual e pessoal. Este nem seria o melhor momento para tratar dessa questão. Essa pretensão não se apresenta em meu horizonte, pelo menos por agora.
Nevoeiro Jr. – Eu não me recandidataria. Estou em um momento que passo muito tempo fora da cidade. Não tenho nenhum projeto de disputar eleição de qualquer natureza. Prefiro não opinar sobre uma boa liderança para Rio Claro, pois estou de fora. Tenho passado grande parte do meu tempo em São Paulo. Mas eu espero que melhore.
– Consegue observar diferenças no seu período de governo com o atual?
Álvaro Perin – Administração é definida pela liderança do administrador. É ele que dá o tom. Eu não gosto de burocracia. Claro que temos que estar atentos com a legalidade da situação. Desta forma o administrador tem que inovar sempre, tem que ter visão.
Claudio Di Mauro – O controle social é muito maior, o que é bom. Sempre estimulamos o fortalecimento dos Conselhos Municipais com independência, o acompanhamento das atividades administrativas por parte do Ministério Público que precisa ter protagonismo. Nunca nos furtamos a dialogar com o Poder Judiciário. Havia boa vontade mútua. Esse é um componente que reduz os riscos do cometimento de equívocos administrativos.
Nevoeiro Jr. – O que eu vejo é que a administração ficou extremamente burocratizada, cara e ineficiente. O poder público é um péssimo prestador de serviço.
Nota do editor: Azil Brochini e Kal Machado não responderam esta questão.
– Como o senhor avalia a atual administração? Em sua opinião quais os principais erros? O que faria de diferente?
Álvaro Perin – Não acompanho. Minha vida é minha família, minha casa e o escritório.
Kal Machado – Em relação à atual administração, como cidadão, estou plenamente satisfeito com o trabalho até aqui desenvolvido pelo Prefeito Juninho, coadjuvado pelo Presidente da Câmara Municipal, André Godoy e equipes. Eles construíram um projeto político vencedor e estão entregando o que prometeram aos seus eleitores. Evidentemente, que as demandas são muitas e os recursos são escassos, o que sempre dará margens a crítica de opositores, no entanto, em termos de transparência, dedicação e sensibilidade social, só tenho elogios.
Azil Brochini – Estou longe de Rio Claro por volta de dez anos. Nada posso dizer sobre esse tempo todo.
Claudio Di Mauro – A inexperiência e o envolvimento com setores que desejam usurpar o poder municipal são problemas irreversíveis. Para governar é preciso ter base teórica, metodológica, conhecer as boas experiências existentes no mundo. Infelizmente, neste momento vivemos uma situação de falta de perspectiva.
Nevoeiro Jr. – Em primeiro lugar eu vejo que há um desejo do prefeito de acertar, mas o principal erro é a máquina pública inchada. O próximo prefeito deve caber dentro de um fusca com todo seu secretariado. Cometeu-se uma injustiça contra os funcionários municipais ao revogar a lei que permitia apenas funcionários de carreira serem nomeados em cargos de confiança.
[Best_Wordpress_Gallery id=”9″ gal_title=”Ex-prefeitos analisam a Rio Claro de ontem e a de hoje”]