“Eu era um cinzeiro ambulante”.
É assim que o faturista Marcelo Martins se sentia, o que ficou no passado. Ele não faz mais parte das estatísticas dos fumantes. Há três anos, abandonou o vício que o acompanhou por 22 anos. “Sempre tinha pigarro, garganta coçava muito. Eu tentava e não conseguia parar de fumar”, conta.
Até que em 2015, Marcelo sofreu um acidente de moto e ficou nove dias internado. Tinha vontade de fumar, mas no hospital não podia. E quando saiu, tomou a decisão. “A vontade era enorme, mas, ao receber alta, pensei: se já fiquei quase dez dias, vou seguir sem cigarro e estou conseguindo”, relata.
Marcelo comemora as conquistas e benefícios para a saúde. “Antes, não conseguia subir uma escada que me faltava fôlego. Hoje, sinto mais resistência, os benefícios são muitos. A respiração melhorou e não tenho mais o mau cheiro que o cigarro deixa na pessoa”, afirma.
A estimativa é de que cerca de 20 milhões de pessoas façam uso do tabaco, 3% desses consomem mais de 20 cigarros por dia, o que aponta o levantamento Vitigel. A data foi criada para alertar sobre os danos à saúde e prevenir o uso do tabaco. Entre os malefícios, estão doenças que atingem coração e pulmões.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco mata metade de seus usuários. Outro malefício apontado é a doença pulmonar obstrutiva crônica, que mata em média uma pessoa a cada dez segundos. Os sintomas são falta de ar, tosse, catarro e cansaço.
Mesmo com os números de usuários apresentando redução, a OMS alerta que sete milhões de pessoas morrem por ano por causa do uso de tabaco.
PARAR É POSSÍVEL
“É possível, sim. Temos relatos de pacientes que fumaram muitos anos e conseguiram deixar de fumar. Qualquer tabagista poderá participar, desde que tenha acima de 18 anos e deseje parar seu consumo de cigarro”. A declaração é da coordenadora municipal do Programa de Controle do Tabagismo, Karen Batista.
Existe tratamento gratuito oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em mais de três municípios brasileiros. Rio Claro é um deles. O Programa de Controle de Tabagismo é oferecido no município há muitos anos. “Está ligado à Secretaria Estadual de Saúde de SP, que tem por objetivo oferecer tratamento motivacional e medicamentoso para as pessoas interessadas em parar de fumar”, diz a coordenadora.
A profissional explica que aqueles que querem parar de fumar devem se dirigir para o posto de saúde mais próximo de suas casas, manifestar seu desejo e informar seus telefones para contato. A unidade de saúde encaminhará o nome dos pacientes interessados, que irão para a lista de espera. A cada quatro meses é iniciado um novo grupo, onde são chamadas de 30 a 40 pessoas que deram o nome como interessadas.
Durante o período, os pacientes participam de grupos terapêuticos realizados na USF (Unidade Saúde da Família) do Jardim das Flores conduzidos por uma equipe multiprofissional composta por uma psicóloga, uma enfermeira e uma assistente social. “São convidados palestrantes como farmacêuticos e educadores físicos para os encontros com objetivo de orientar os usuários sobre o tabaco e práticas de promoção da saúde.
Os grupos terapêuticos têm por objetivo promover escuta e acolhimento daqueles que querem parar de fumar, oferecer informações científicas sobre o tabagismo e instrumentalizar os usuários do SUS sobre estratégias cognitivas comportamentais para redução do consumo de cigarro”, esclarece a psicóloga.
Aqueles que mantiverem seu interesse em parar de fumar, passam durante três meses por três consultas médicas com o clínico geral capacitado no Programa de Controle de Tabagismo.
O médico avaliará a necessidade do usuário receber algum apoio farmacêutico, que pode variar entre medicamentos como a bupropriona, adesivos de nicotina ou a goma de mascar de nicotina.
O apoio medicamentoso é oferecido gratuitamente pelo SUS nas farmácias do Cervezão e UBS 29.
“Ao terminar os quatro meses, os pacientes são convidados a participar durante um ano de um encontro mensal grupal de manutenção, com objetivo de prevenção de recaídas”, completa Karen.
Para quem ainda está precisando de incentivo, Marcelo, que hoje é ex-fumante, afirma. “A luta é diária para se livrar da dependência da nicotina. Mas eu alerto: pare de fumar o quanto antes. Os malefícios são enormes. Hoje, o cheiro do cigarro me dá ânsia de vômito”, afirma.