“Eu queria ser civilizado como os animais.
” Frase da canção “O progresso”, de Roberto Carlos, imortalizada em 1976, é uma das mais impressionantes da carreira do artista tendo em vista as suas seis décadas de carreira. E poderia facilmente ser utilizada pela equipe do Departamento de Proteção Animal de Rio Claro que, cotidianamente, se depara com inúmeros casos de maus-tratos e barbáries, o que expõe a deprimente realidade explicitada pelas palavras robertocarleanas: os civilizados, definitivamente, não somos nós.
Alessandro Almeida (Defensor dos animais), gerente do Departamento de Proteção Animal e engajado na causa desde 2013, falou ao Centenário com o propósito de, sobretudo, prestar serviço, uma vez que o momento é bastante preocupante no tocante ao desrespeito para com os animais. Almeida salienta que a primeira coisa que as pessoas devem saber é que os animais são seres sencientes.
“Dizer que um ser é senciente é reconhecer que ele é capaz de sentir, de vivenciar sentimentos como dor, angústia, solidão, amor, alegria, raiva, etc. A partir disso, conseguimos falar que bicho não é ‘coisa’ e merece ser tratado como ‘ser não humano’, ser que é capaz de sentir”, enfatiza.
Adoção
Almeida lembra também que os animais domésticos são totalmente dependentes de nós. Portanto, antes de adotar um cão, por exemplo, é preciso fazer uma autoanálise. “Tenho tempo para dar atenção para esse animal? Passear, brincar? Eu tenho condições financeiras para manter esse animal? Veterinário, vacina, ração? Minha casa tem o conforto devido para eu abrigar esse animal? Abrigo contra chuva, abrigo contra sol, abrigo contra frio, abrigo contra calor? Todas as pessoas que moram comigo gostam de animal? Todas as pessoas estão de acordo com essa adoção?”, pondera.
Maus-tratos
De acordo com Almeida, quando se fala de maus-tratos, principalmente de animais domésticos, é preciso considerar as liberdades que estão atribuídas a cada espécie: serem livres de medo e estresse; serem livres de fome e sede; serem livres de desconforto; serem livres de dor e doenças; e liberdade para expressar seu comportamento natural. “Quando algumas dessas liberdades não são respeitadas, podemos considerar que o animal está em maus-tratos. Hoje, posso dizer que estamos vivenciando uma epidemia de maus-tratos, e a maior causa se dá pela falta de conhecimento da população, um sério problema cultural que vem de pai para filho”, expõe.
O defensor dos animais faz menção a um exemplo que constata muito: cães que vivem presos em correntes. Conforme ele, infelizmente é muito comum. “Esse fato vem de uma cultura de que o cão deve viver no quintal e não pode estar em convívio direto com os humanos e são realmente tratados como ‘coisas’. Voltando, então, às cinco liberdades, podemos ver que ele está infringindo várias, podemos caracterizar um caso de maus-tratos”, ajuíza Almeida.
E quando constatados os maus-tratos?
Caso sejam detectados os maus-tratos, a pessoa pode responder por crime ambiental: Art. 32 da Lei de Crimes Ambientais – Lei nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências; Art. 32 – Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Pena – detenção de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Segredos para promover o bem-estar animal
Alessandro Almeida, ao Centenário, enumera alguns segredos que fazem a diferença. Confira!
• Castre seu animal, seja fêmea ou macho. Com isso, você evita câncer do aparelho reprodutor e de mama, além de crias indesejadas.
• Passeie com seu cão diariamente usando coleira e guia. Nunca solte seu animal na rua. Animais soltos sem supervisão do tutor podem ser atropelados e estão vulneráveis a acidentes.
• A partir do segundo mês de vida, cães e gatos devem tomar três doses de vacinas polivalente (uma por mês). A vacina contra a raiva deve ser aplicada aos quatro meses de idade em ambas as espécies. A vacinação deve ser repetida todos os anos em doses únicas.
• Nunca abandone seu animal devido a viagens ou mudanças. Evite deixar os cães sozinhos por longas horas.
• Ofereça alimentação de boa qualidade e água fresca em potes limpos. Verifique a ração específica para cada espécie e idade e a quantidade necessária.
• Procure socializar seu filhote com outros animais e seres humanos desde a segunda semana de vida. Assim você evita agressividade ou medo.
• Identifique seu animal com uma medalha e microchip.
• Reserve um local amplo e limpo, protegido do sol, da chuva e do vento. Nunca prenda seu animal em corrente.
• Mantenha a higiene do animal, mas não exagere nos banhos. Cães devem ser escovados diariamente e banhados a cada 15 ou 20 dias com água morna e xampus apropriados. Já os gatos só devem ser banhados quando necessário.
• Visite o médico veterinário regularmente. Vermifugue o animal uma vez por ano e utilize produtos adequados contra pulgas e carrapatos a cada três meses.
Para Almeida, somente o poder público não consegue suprir uma missão tão ampla. “É preciso ter a união e colaboração de todos, tanto do terceiro setor como das ONGs e da própria população. Temos que fazer nossa parte dentro de casa, ser um multiplicador de informações e um fiscalizador de nossa rua. Com essa união, quem sairá ganhando serão os animais, pois eles não têm voz e temos que ser a voz deles nessa luta”, finaliza.
Sobre o Departamento de Proteção Animal
É vinculado à Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Rio Claro, tem atribuição legal para o resgate, tratamento, abrigo e manutenção dos animais, em sua maioria cães e gatos. “Atualmente, a população de Rio Claro conta com o serviço de ouvidoria para denúncia de maus-tratos, a qual deve ser feita através dos telefones 3526-7105 e 9.9495-9124 (WhatsApp, via mensagem de texto) ou site, o http://www.rioclaro.sp.gov.br/ouvidoria/ e, após realizada, uma equipe do Departamento vai averiguar”, explica a diretora do Departamento de Proteção Animal, Giselle Pfeifer, acrescentando que, além da ouvidoria, há o serviço de resgate 24 horas para animais atropelados, que deve ser acionado pelo telefone 3532-4115.