“Quando se vê, já é Natal. Quando se vê, já terminou o ano. Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê, passaram 50 anos!”. Tinha razão o genial Mario Quintana.
Quando éramos crianças, as tardes pareciam eternas. Um ano parecia uma eternidade. Esperar pelo próximo aniversário era uma tortura. E as férias que nunca chegavam? E quando chegavam, passavam rápido demais.
Aí a gente cresce, envelhece e se absorve em rotinas repetitivas, o tal do tempo parece voar. Veja, já estamos no primeiro terço do mês de agosto de 2019! Mas não é o tempo que mudou, mas a nossa percepção da passagem dele.
Na natureza, o tempo, junto com o espaço, é uma espécie de pano de fundo para todos os fenômenos.
O palco da natureza é o espaço-tempo. Um não está separado do outro. Com o Big Bang, espaço e tempo passaram a existir. Antes? Não se sabe.
E explicar a real natureza do tempo ainda é um dos grandes desafios da Ciência. Seria ele contínuo? Ou é divisível infinitas vezes? Porque o tempo sempre “corre” para o futuro? Veja que as grandes questões da Ciência são aquelas que uma criança faz.
Lembro eu numa ligação de Roma, cinco horas à frente do Brasil no fuso horário, para Cecília, minha filha, então com 7 anos. Quando disse que eram cinco da tarde lá, ela, depois de olhar no relógio aqui no Brasil e ver que ainda eram meio-dia, não teve dúvidas: “Mãe, mãe, o papai está no futuro!”, disparou para minha surpresa.
A teoria da relatividade restrita, descoberta por Einstein em 1905 estabelece que nada pode se mover no universo a uma velocidade acima a da luz. E diante dessa constatação, comprovada à exaustão experimentalmente, é fácil entender os resultados espantosos que dela derivam. Se velocidade é espaço percorrido por unidade de tempo, para que a velocidade da luz se mantenha constante então é preciso que o espaço se contraia ou o tempo seja dilatado. Por isso, a partir dessa descoberta toda uma nova Física nasceu, complementando mais de 400 anos da mecânica de Isaac Newton. Esta na verdade, funciona, e muito bem, para velocidades baixas em relação à velocidade da luz.
Das poesias, que falam mais ao coração que a frieza dos números, tempo é aquele que “põe cabelos brancos nas cabeças e umidade nas paredes”, nas palavras de Fernando Pessoa.
Compositor de destinos, senhor de todos os ritmos, nos diz Caetano na linda canção “Oração ao Tempo”.
Vivemos brigando com o tempo, sempre apressados, “na correria”, e ao fim temos a sensação de que ele está passando muito rápido. Só que não, nós é que estamos acelerados, sempre pensando no que vamos fazer mais tarde, amanhã, no fim de semana, nas férias. Vivendo com a cabeça sempre no futuro que ainda não existe, nos concentramos pouco no presente.
É, quando se vê tudo pode se acabar. E o tempo, esse mistério que nos ronda e nos aprisiona, que nos assombra e nos envolve, no fim das contas vence uma luta já vencida no útero de nossas mães.
Talvez a única arma contra a passagem do tempo seja o amor. Amor que buscamos, que vivemos, que deixamos. Sem medida, sem espaço-tempo que lhe faça caber.