O estádio Benito Agnello Castellano completa neste 7 de setembro, 50 anos de inauguração. No último dia 17, o Diário do Rio Claro recebeu a visita de Cláudio Luis Neves Castellano, filho de Benito, para contar um pouco sobre a história que envolve Benito e o Velo, uma paixão em vermelho e verde, que é também título do livro de sua autoria, publicado em 2011. Foi uma conversa amistosa e bastante agradável. A partir de agora, o leitor do Diário Esportes vai conhecer um pouco mais sobre a história de Benito Agnello Castellano, o esportista, dirigente e ferrenho torcedor que dá nome ao estádio Benitão, a casa do Velo Clube.
Benito Agnello Castellano nasceu em Rio Claro, em 9 de junho de 1927, filho do italiano José com a sergipana Clara. Era professor, foi casado com Ivone, pai de Claudio Luis e Marisa. Trabalhou durante 23 anos no SESI no cargo de Educador Social, período em que conquistou o respeito e a admiração de educandos e colegas de profissão. Foi vereador em Rio Claro, entre os anos de 1956 a 1959, mas, conforme relata o filho Cláudio, não se deixou seduzir pela vida política, afastando-se dela, após cumprir seu mandato. Benito foi ainda cronista esportivo, correspondente do jornal A Gazeta Esportiva, o maior e mais completo noticioso esportivo da imprensa escrita de São Paulo e do Brasil, à época. Colaborou também com os jornais e as rádios locais, sempre levando as informações a respeito do Velo Clube. De 1959 a 1972, Benito Agnello Castellano foi assessor do irmão, José Felício Castellano, o Gijo, então, deputado estadual, quando destacou-se pela maneira atenciosa e amável no trato com as pessoas.
Benito Agnello Castellano, faleceu ainda jovem, aos 45 anos, no dia 31 de junho de 1972, em decorrência da diabetes. O sepultamento de seu corpo, foi dos mais concorridos da história de Rio Claro, mobilizando a coletividade velista e o grande número de pessoas que reconheciam o seu imenso valor, não apenas como dirigente esportivo e educador, mas, também, como pessoa humana.
Benito e o Velo
Entre 1940 e 1972, a história de Benito Agnello Castellano e do Velo Clube se confundem. Chegou ao Velo, pelas mãos de outro velista dos mais importantes, Maurício Chackur, então comerciante local e dirigente da agremiação rubro-verde. Foi amor à primeira vista. Sempre dedicado, ao clube do coração, conta Claudio Luís, que o seu pai, Benito, vendia rifas para ajudar as finanças do Velo. “O time viajava de Kombi para jogar em outras localidades” relembra Cláudio, à época ainda menino, mas que acompanhava atentamente os passos do pai. Outro fato pitoresco, era que a pessoa que ofertava a bola para o jogo, dava também o pontapé inicial. Estamos falando de um tempo das antigas, do futebol romântico, em que o amor pelo clube e pelo futebol, estava acima dos interesses financeiros.
Benito Agnello Castellano participou da transição do futebol amador para o profissional, ocorrido por força de lei, em 1948. Vinte anos depois, o Velo Clube formaria um de seus maiores esquadrões, até hoje lembrado com carinho por seus torcedores. Benito, a esse tempo, trabalhava em São Paulo, e cuidava da parte burocrática do Velo junto à Federação, recorda Cláudio. Era ele quem fazia as inscrições dos jogadores, registrava os contratos, e também se ocupava de comprar na capital paulista, uniformes, bolas e chuteiras, onde se obtinha preços mais razoáveis, além de, sempre que possível, viabilizar recursos financeiros para o Velo.
Um fato marcante, também relatado por Cláudio Luis, em seu livro Benito e Velo, uma paixão em vermelho e verde, foi que em 1967, na fase de preparação da vitoriosa equipe de 1968, Benito foi a Campinas, buscar para o Velo, o jovem artilheiro Bertinho Traina que estava mal aproveitado nos juvenis da Ponte Preta, prometendo que viria para jogar no profissional do Velo. Quis o destino que Bertinho Traina, 5 anos depois, faria o primeiro gol na história do estádio que levaria posteriormente, o nome de Benito Agnello Castellano. A Bertinho Traina vieram se juntar outros craques do futebol rioclarense como o eficiente volante Adilson Realli, o hábil meia Norberto Lopes o “Queijinho” e Walter Gama, zagueiro dos mais vigorosos que havia jogado em clubes como Prudentina e Inter de Limeira, antes de chegar ao Velo, para formar o time memorável de 1968, vencedor do dérbi mais importante daquele ano, e o último time velista a jogar no antigo estádio que cederia lugar ao Benitão.
No ano de 1969, com o Velo licenciado das disputas profissionais, o antigo estádio, começou a ser demolido. Um ano depois, o esportista Nelson Araújo, de família tradicional em Rio Claro, assumiria a presidência do Velo, dinamizando os trabalhos de construção do novo estádio, que foi possível, graças ao trabalho árduo daquela diretoria e a união e esforço sem paralelo da coletividade velista. Para angariar mais recursos, foram lançados títulos patrimoniais e a venda de cadeiras cativas. A imprensa local teve participação ativa e decisiva para o sucesso dos empreendimentos, estimulando os velistas e os esportistas rio-clarenses, em geral, a aderirem à causa.
Mas o Velo não podia ficar ausente dos gramados, nesse período, de modo a não dispersar os seus inúmeros torcedores. Foi aí que surgiu novamente, Benito Agnello Castellano, o homem das ideias e das iniciativas, sempre disposto a colaborar com o seu Velão. Para manter uma equipe de futebol em atividade, durante o período de construção do novo estádio, Benito criou o time de “cadetes”, na prática, aspirantes ao profissionalismo, reunindo para formar nos quadros do Velo Clube, jovens talentos do futebol rioclarense.
Homem dinâmico, mas de hábitos comedidos, Benito Agnello Castellano tinha por costume, durante os jogos do Velo, no antigo estádio da Rua 3, a ficar sob o sol, atrás de um dos gols ou a andar junto ao alambrado, conforme relata com saudade o filho Cláudio Luis, na conversa prazerosa com a equipe de redação do jornal Diário, na ocasião de sua visita.
Mesmo já acamado, Benito não se furtava de colaborar com o Velo, dando sugestões e ideias, e estimulando seus pares a fazerem o mesmo. Foi o que fez, no período que antecedeu a inauguração do novo estádio, que depois levaria o seu nome, sugerindo maior empenho na divulgação dos preparativos para a grande festa que se preparava.
Benito não chegou a ver o estádio pronto e nem inaugurado. Sempre modesto, dando sempre muito mais de si, do que esperando receber algo em troca, talvez não imaginasse que, em 5 de janeiro de 1973, atendendo a sugestão do radialista Sergio Carnevale, velista de quatro costados e o maior nome da comunicação social de Rio Claro, à época, os associados do Velo Clube, reunidos em Assembleia Geral, aprovariam por aclamação, a entronização do nome Benito Agnello Castellano, ao novo estádio do Velo Clube, inaugurado no ano anterior. Homenagem das mais justas, eternizando na casa do Velo Clube, o nome de um daqueles que mais se dedicaram abnegada e voluntariamente à agremiação.
Estes são apenas alguns recortes da bonita história entre Benito e o Velo e o estádio Benitão, lembradas na conversa de seu filho Cláudio Luis, em visita ao jornal Diário, que também estão relatadas no livro “Benito e Velo – uma paixão em vermelho e verde” de sua autoria.
Curiosidades:
- A partida inaugural do estádio Benito Agnello Castellano, o Benitão, aconteceu no dia 7 de setembro de 1972, com o embate entre A.E. Velo Clube e S.E. Esportiva Palmeiras;
- À época, o Palmeiras era o campeão paulista e recebeu as faixas do time do Velo; depois, viria a ser também campeão brasileiro naquele mesmo ano;
- Um fato pitoresco contado pelos velistas mais antigos, presentes ao estádio naquele dia, foi que um paraquedista caiu no gramado, com o jogo em andamento, atingindo o lateral Eurico, do Palmeiras, que assustado, precisou ser substituído.
- O Palmeiras venceu o jogo por 4×1. Mas foi o atacante velista, Bertinho Traina que marcou o primeiro gol do estádio Benitão.
- Antes de receber o nome oficial de Benito Agnello Castellano, o então novo estádio do Velo, era conhecido como Gigantão do Copacabana, nome do bairro onde está localizado.
- O recorde de público do estádio Benitão é de mais de 15 mil pessoas, na partida Velo Clube 1 x 0 São José, no dia 17 de dezembro de 1978, pela fase final da Divisão Intermediária.
- Atualmente, segundo a Federação Paulista de Futebol, o estádio Benito Agnello Castellano comporta 8.136 espectadores.
- Até o dia 16 deste mês, uma exposição de fotos, no Paço Municipal, comemora os 50 anos do estádio Benitão.
Agradecimentos: O jornal Diário do Rio Claro agradece a Cláudio Luis Neves Castellano, filho de Benito e a José Luiz Pimentel, historiador do Velo Clube, pelas informações disponibilizadas para elaboração dessa matéria.
` Por Geraldo Costa Jr.