As escolas estaduais, outrora, eram sinônimo de excelência.
Há algumas décadas, o ensino por elas ofertado era tido como referência. Hoje, tal associação é feita com as escolas particulares, que passaram a denotar qualidade no tocante à educação. Rio Claro possui inúmeras instituições estaduais de ensino de vultuosa relevância. Dentre elas, duas que hoje o Centenário fará dar ênfase: a Escola Estadual Joaquim Ribeiro e a Escola Estadual Coronel Joaquim Salles.
Joaquim Ribeiro
Quando do ano de 1926, foi criado o Instituto “Joaquim Ribeiro”. À época, sob o comando do Coronel Joaquim Ribeiro dos Santos – falecido em 1954 –, que era jornalista, educador, presbítero, além de fazendeiro de café, e Augusta Balbina de Lima, com quem era casado.
Antes, situava-se no Casarão da “Baronesa de Dourado”, hoje, o Museu Histórico e Pedagógico “Amador Bueno da Veiga”, atingido, em 2010, por um incêndio e que, desde então, passa por processo de restauro.
À população, eram oferecidos os cursos primário, ginasial e comercial. Por uma década – de 1940 a 1950, o Estado é quem esteve à frente do estabelecimento de ensino, período em que passaram a ser disponibilizados os cursos normal, científico e clássico.
No ano em que findara a Segunda Guerra Mundial, 1945, Fernando Costa foi o responsável pelo lançamento da pedra fundamental da edificação localizada na região central de Rio Claro, mais especificamente na Rua 6, entre as avenidas 13 e 15, onde situa-se desde então. O edifício do Colégio Estadual e Escola Normal “Joaquim Ribeiro”, de modo oficial, teve sua inauguração ocorrida em 1949, no dia 8 de outubro. Na oportunidade, a cerimônia contou com a presença do então governador, Adhemar de Barros.
Hoje
A Escola Estadual “Joaquim Ribeiro”, não esporadicamente, tem sido alvo de queixas por parte de alunos com relação à ausência de professores e substitutos que não correspondem às expectativas. O Diário do Rio Claro contatou a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo que, por intermédio de sua assessoria de imprensa, acerca desta indagação, se absteve. Tendo em vista o que foi informado ao Centenário, atualmente a escola, que atende alunos do Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), conta com 21 salas de aula que funcionam em três períodos: manhã, tarde e noite. De acordo com a secretaria, a escola possui atualmente 652 alunos, além de 33 docentes.
Melhorias
À reportagem, a pasta afirma que a unidade está recebendo obras de reparos hidráulicos, elétricos, reforço nas estruturas e pintura. “Esse serviço está em fase de finalização”, garante.
Ideb
O Diário do Rio Claro interpelou a secretaria sobre a nota obtida pelo Ribeiro em 2017 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgada recentemente. Conforme afirma, a “Escola Estadual Joaquim Ribeiro não foi avaliada pelo exame”. O porquê, no entanto, não foi informado. Todavia, salienta que “é importante destacar que o índice geral das escolas da rede estadual em Rio Claro, 7,5, ficou 1,3 ponto acima da meta, de 6,2, e acima da média estadual”.
Aluno ontem, docente hoje
Verner Everton Carmona, 43 anos, sociólogo e professor de filosofia, foi aluno no Joaquim Ribeiro e hoje leciona na instituição. Carmona também ministra aulas na rede municipal de ensino de Santa Gertrudes. Em sua concepção, o maior problema enfrentado pelas escolas públicas estaduais, hoje em dia, é a falta de identificação dos alunos com os prédios onde estudam, além da desvalorização crescente dos profissionais da educação, tanto no aspecto financeiro, quanto moral .
“Se por um lado a universalização do ensino tornou-se uma realidade, de outro percebe-se a falta de conscientização de quem estuda nas escolas públicas, atualmente ‘abandonadas’ pelas autoridades constituídas, com infraestrutura precária e um cotidiano de violência, dentro e fora dos seus prédios”, pondera o docente. Para Carmona, o corpo gestor faz o que pode na escola, atua com responsabilidade, mas depara-se com a falta de funcionários, bem como com a burocracia do governo, que inibe novos projetos e limita a sua capacidade de atuação.
“Não falta boa vontade de parte expressiva do funcionalismo para requerer e aplicar a melhora dos índices de conhecimento dos educandos. Mesmo assim, parte da imprensa tenta desqualificar os trabalhos prestados por estes servidores, taxando-os de ineficientes ou irresponsáveis. Ou seja, notícias ‘sensacionalistas’ parecem camuflar o heroísmo de quem enfrenta uma realidade cruel dentro das salas de aula”, opina.
O Ribeiro
O professor ajuíza que observa-se que as unidades escolares, hoje em dia, recebem um público bastante heterogêneo, oriundo de locais muito distantes de onde seus espaços físicos se encontram. O “Joaquim Ribeiro”, situada na área central da cidade de Rio Claro, não foge a esta regra, segundo Carmona. “Conhecida no passado como Instituto de Educação ‘Joaquim Ribeiro’ e fundada oficialmente no ano de 1926, essa unidade escolar passou por diversas mudanças ao longo de todo o período de sua existência.
Foi o referencial, até bem pouco tempo, na formação de inúmeros profissionais de gabarito, tais como médicos, desembargadores, professores universitários, professores da educação básica, advogados, engenheiros, dentre outras profissões de relevo. Consagrou, também, por ter um imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), o saudoso João de Scatimburgo, como um dos seus alunos”, expõe.
Carmona relembra que ingressou nesta unidade escolar no ano de 1991, no antigo curso Inciso (hoje, chamado de ensino médio) e recorda-se que, para estudar, era necessário a realização de um vestibulinho (prova de conhecimentos gerais, em matemática e língua portuguesa), o que incentivava os alunos a, efetivamente, abraçar a causa dos seus estudos. “Me formei em 1993 com uma turma composta, basicamente, por amigos rio-clarenses, cujas famílias residiam próximas daquela unidade pública de ensino.
Eu e mais uma leva de outros alunos nos deslocávamos da vizinha Santa Gertrudes para estudar e aprender junto da comunidade ribeirense. A escola era um incentivo natural ao verdadeiro ‘conhecimento’”, relembra. O professor destaca que havia um sentimento de respeito pelos funcionários da educação, uma mentalidade menos individualista da vida, bem como um espírito de preservação do patrimônio público onde realizava-se os estudos. Segundo ele, existia uma consciência do que ali se fazia e a educação era considerada um fator bastante relevante na possibilidade de ascensão social e profissional.
“Tanto isto é verdade que, da minha turma, muitos, hoje, são profissionais bem sucedidos, formados em universidades públicas bastante conceituadas. Eu mesmo realizei a graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) só com o conhecimento adquirido através dos inesquecíveis mestres ao longo dos anos em que estudei no Joaquim Ribeiro”, recorda-se. Carmona enfatiza que, como professor de filosofia nesta mesma unidade escolar, percebe a luta diária de seus colegas de categoria em tentar manter ou ampliar o ensino público de qualidade. “Não é tarefa das mais fáceis nestes difíceis tempos de intolerância e ignorância pelo qual o Brasil vem passando”, finaliza.
Joaquim Salles
Criado por decreto de 17 de fevereiro de 1900, o Grupo Escolar “Coronel Joaquim Salles”, quando da ocasião, foi organizado pelo inspetor escolar João Von Atzinguen. No dia 2 de junho do mesmo ano, se deu a inauguração, que contou com a presença do presidente (denominação à época da República Velha, de 1889 a 1930) do Estado, Rodrigues Alves, acompanhado de seus secretários.
No princípio, as classes masculinas e femininas desenvolviam suas atividades separadamente, já que as meninas ficavam no prédio estadual, localizado à Rua 2, número 9, ao passo que os meninos estudavam na Praça da Liberdade, número 59, em edifício particular.
Posteriormente, houve a junção numa só unidade, essa situada na Avenida 1, número 10. Já no ano de 1904, dia 22 de abril, findaram-se as obras do prédio próprio, à Rua 7, cuja cerimônia de inauguração ocorreu no dia 3 de maio, oportunidade em que houve a transferência de classes para a nova edificação. O prédio da entidade escolar integra um conjunto de projetos de autoria de José Van Humbeeck.
Interessante salientar que as salas de aula destinadas aos 1º e 2º anos são maiores se comparadas às demais, fato que se deve, muito provavelmente, à evasão escolar que havia depois das primeiras séries. Ressalta-se, também, a inclusão de uma biblioteca, algo que não se encontrava nos projetos de edifícios que eram construídos propostos a grupos escolares.
A Escola Estadual “Coronel Joaquim Salles”, juntamente com outras 122 escolas públicas da capital e do interior, tem seu edifício tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) devido a seu alto valor histórico na evolução educacional, conforme publicação do Diário Oficial do Estado de São Paulo do dia 7 de agosto de 2002, páginas um e 52.
Hoje
A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, através de nota enviada ao Centenário, diz que a Escola Estadual “Coronel Joaquim Salles” atende os anos finais (6º ao 9º Ano) do Ensino Fundamental. “Atualmente, possui 19 salas de aula, que funcionam nos períodos matutino e vespertino, totalizando 791 alunos. Trinta e cinco professores fazem parte do quadro de docentes”, enumera.
Melhorias
De acordo com a secretaria, no próximo mês, a escola irá receber serviços de recuperação da estrutura. “São reparos na cobertura, piso, revestimentos e pintura. Além disso, está em andamento na FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) um processo que compreende obras de melhoria para o prédio”, afiança.
Ideb
Quanto à nota obtida pela instituição no Ideb, a pasta informa que foi atingida a meta estipulada para 2017, com média 5,9.
Por Murillo Pompermayer