Tarde das mais agradáveis viveu a redação do jornal Diário do Rio Claro na última quinta-feira (25) com a visita do rio-clarense Caio Pacheco, jogador profissional de basquete que atua na Espanha, defendendo com sucesso as cores do Clube Baloncesto Tizona de Burgos, Castela e Leão.
Revelado nas categorias de base do basquete rio-clarense, ainda muito jovem, Caio Pacheco foi atuar no exterior. Primeiro na Argentina onde se profissionalizou com 18 anos de idade. E depois, no México. Na temporada passada, o armador Caio Pacheco, que já vestiu inclusive a camisa da seleção brasileira em várias ocasiões, defendeu o Real Betis Baloncesto de Sevilha-ESP.
Acompanhado de seu pai, o ex-jogador Álvaro Pacheco, que defendeu com brilhantismo Rio Claro nos áureos tempo do basquete local, Caio Pacheco concedeu entrevista ao D’Esportes que reproduzimos:
Você já está na sua segunda temporada no basquete espanhol; já se adaptou bem por lá? Como é que tem sido pra você essa experiência?
Eu acho que já estou bem adaptado. É o meu terceiro ano na Europa. Eu lembro que no primeiro ano, foi um choque de realidade bastante grande para mim. Porque há uma diferença muito grande entre o basquete sul-americano e o que é jogado lá fora. Acho que hoje em dia, eu posso falar que estou bem mais adaptado e me sinto mais confortável com o basquete de lá. Obviamente que estou evoluindo a cada temporada
Qual foi a maior diferença que você verificou entre o basquete brasileiro e o espanhol, na maneira de jogar. Ou é mais ou menos igual?
Basquete é basquete em qualquer lugar. É um esporte mundial onde todos os países jogam e jogam cada vez melhor. Eu, particularmente, falando do basquete brasileiro, eu posso falar das minhas experiências com a seleção. Em relação à clube, eu não tive oportunidade de jogar como atleta profissional aqui no Brasil, então eu não posso falar. Comecei minha carreira de jogador profissional de basquete na Argentina. De modo, o basquete sulamericano tem uma diferença muito grande em relação ao europeu. O que acontece é que a Europa é um nicho muito maior. Tirando Estados Unidos e Canadá, todos os jogadores querem jogar na Europa. Quem não tem oportunidade de jogar na NBA quer ir pra Europa. A qualidade dos jogadores que atuam na Europa é realmente muito diferente, se comparado, por exemplo, com os que atuam na Argentina que foi o único país que joguei profissionalmente na América do Sul.
Como você viu a classificação do basquete masculino do Brasil para a Olimpíada, depois da ausência em Tóquio 2020?
Muito positiva. É muito bom o Brasil estar de volta a um palco tão grande como a Olimpíada. O Brasil não participava da Olimpíada desde 2016, quando foi país sede. Então, na verdade, desde Londres 2012, o Brasil não obtinha a classificação para uma Olimpíada jogando. Então, eu acho que é muito legal para o futuro do esporte. E tomara que o Brasil possa fazer uma ótima participação.
Você vê como boas as chances de classificação do basquete brasileiro masculino nos jogos olímpicos?
Eu acho que, como falei anteriormente, o basquete, hoje, ele está muito globalizado. Hoje, qualquer seleção pode ganhar de qualquer seleção. Acho que antigamente isso era um pouco diferente. E, hoje, isso é mais possível. Obviamente, a gente tem que entender que o Brasil caiu em um grupo muito difícil, onde tem duas das melhores seleções do mundo, sendo a última campeã mundial, a Alemanha, e a equipe sede, a França. Então é realmente muito difícil. Agora, como na Olimpíada, assim como no Mundial, ambos são torneios de jogos únicos, isso faz com que a chance do Brasil ganhar um jogo contra uma dessas seleções aumente muito. Se fosse uma série de playoffs com 3 jogos, 5 jogos, eu diria pra você que seria muito escassa a nossa chance. Mas como são jogos únicos vai depender muito de como a gente jogar naquele dia. Mas, como bom brasileiro, estou bastante esperançoso.
Seu pai, Álvaro Pacheco, foi um grande jogador de basquete e foi vitorioso defendendo Rio Claro. O que você aproveitou dele para o seu basquetebol? O que você conseguiu incorporar daquilo que ele tinha de bom, dentro e fora de quadra para aperfeiçoar, inclusive, o seu basquete?
Meu pai sempre teve uma influência muito grande na minha vida, como jogador e como pessoa. Na parte de jogo, aprendi com ele muitas coisas, os fundamentos do jogo de basquete, por exemplo. Mas, o basquete que é jogado hoje em dia, é muito diferente daquele que era jogado na época dele. E temos, também, eu e ele, características muito diferentes enquanto jogadores. Ambos jogamos na mesma posição, mas, meu pai, era um estilo de jogador e eu tenho um estilo um pouco diferente do dele. O que eu mais aprendi com ele e levo isso comigo por toda minha carreira é a perseverança, a intensidade como ele treinava, como ele se esforçava e tão guerreiro como ele sempre foi durante sua carreira como jogador e segue sendo agora como técnico.
Mesmo estando distante da nossa realidade, aqui de Rio Claro, você que é prata da casa, inclusive, na sua opinião, o que falta para o basquete profissional de Rio Claro voltar às disputas e com o destaque que já teve?
Tenho, na verdade, pouca informação sobre o basquete nacional e local. Saí muito novo do Brasil. Sou prata da casa, cresci jogando aqui em Rio Claro, e depois tive que sair da cidade pra jogar em outros clubes, mas, eu, quando era pequeno, gostava muito de ir ao ginásio Felipão, e ver a equipe daqui jogar, mesmo que não jogando mais em tão alto nível, como antigamente. Ouço muitas histórias. Mas, na verdade, eu não era ainda nascido, quando Rio Claro estava na elite do basquete paulista e brasileiro e competia pra ganhar títulos e não apenas pra disputar. Não sei o motivo pelo qual Rio Claro está ausente das disputas. Mas, o que posso falar é que a cidade de Rio Claro merece ter uma equipe de basquete. Porque é uma cidade que ama o basquete, tem uma história linda no basquete e merece ter uma equipe que dispute de igual para igual com outras cidades que tem tradição no basquete como Franca e algumas equipes da capital.
Rio Claro continua revelando talentos para o basquete. E seu pai, como técnico de categorias de base, com a escolinha e os projetos dele, tem contribuído muito para isso. Você entende que seria possível, por aquilo que você conhece do basquete, por sua experiência, você acha que seria possível Rio Claro montar um time formado em sua maioria por atletas locais, aqui revelados?
Acho que sim, é possível. Embora difícil. Porque, sendo bem realista, quanto mais alto o nível de exigência, quanto mais perto do profissional, tornam-se mais difíceis os desafios. Na minha época, lembro que, daqui da cidade, provavelmente, fui o único que me tornei jogador profissional. Tinha garotos, da minha idade, que jogavam até melhor que eu, quando mais novos, mas, deixaram de evoluir. Eu acho que é muito complicado você formar uma equipe profissional saindo desde a base. É óbvio que você pode revelar talentos, se houver um bom trabalho de base, que tenha incentivo e que os garotos tenham vontade. Porque se não tiver talento e vontade, da parte dos meninos pra chegarem a ser profissionais, só o incentivo, não é suficiente. Precisa ter vontade, talento e objetivo, também.
Falando agora, um pouco sobre sua carreira, quais os seus próximos objetivos? Você pretende continuar jogando na Espanha ou vislumbra outro mercado?
Eu renovei o meu contrato na Espanha pra essa próxima temporada. Em breve, deverei estar viajando pra lá. Meu objetivo pra essa temporada é estar bem pra poder jogar a temporada completa e fazer um ótimo campeonato. Depois a gente vê o que acontece. A Espanha é um país que eu gosto muito de viver. E o estilo de basquete que se joga lá, também me agrada muito. Então, pretendo continuar por lá. Mas, quanto ao amanhã, nunca se sabe.
A convivência com o povo espanhol tem enriquecido você culturalmente? O que isso acrescentou de bom na sua vida pessoal?
Com certeza. Ter a oportunidade de conhecer novas pessoas, outras culturas, outros países, é sempre algo muito importante que, enriquece a gente como pessoa e não apenas como jogador. Inclusive, ter a oportunidade de jogar com jogadores de vários países, várias etnias é muito legal. Joguei também na Polônia, Itália, México e tomei contato com a cultura desses povos, e aprendi um pouco como eles são.
Na posição de armador que você atua, quais as principais características, na sua opinião, que um jogador deve ter para ser bem sucedido?
São muitas. E, hoje em dia, acho que são até mais do que na época em que meu pai, por exemplo, jogava. Hoje, o mais importante, o mais primordial, é o físico. Porque, sem um bom preparo físico, você não consegue jogar em lugar nenhum, a realidade é essa. O armador, que é a posição que eu jogo, atualmente, se fala muito, que é o segundo técnico de uma equipe em quadra. É ele que vai comandar as ações da equipe. Precisa ter uma mentalidade boa, um raciocínio lógico rápido e bom, e fazer com a equipe jogue bem. O armador, além de jogar, tem que estar pensando o jogo o tempo todo.
Você ainda tem por objetivo voltar à seleção brasileira?
Sim. Com certeza. Tenho vontade e tenho o objetivo de voltar à seleção brasileira. Sou ainda muito novo. Tenho pelo menos mais 10, 12 anos de carreira pela frente
Considera a possibilidade de se tornar técnico, assim como seu pai?
Não. Acredito que não. Ainda é muito cedo pra falar sobre isso. Mas, convivendo com vários técnicos, percebo que é uma profissão muito desgastante e muito estressante. Talvez, até aconteça. Não sei se estarei envolvido com o basquete depois que eu parar de jogar.
Na sua opinião, o que é mais difícil ser jogador ou treinador?
Ambas. E cada uma de um modo diferente. O jogador pensa no seu desempenho, no melhor contrato possível. Já o treinador trabalha para o time vencer e para que os jogadores tenham bom desempenho. Ambos trabalham sob muita pressão. Como jogador, posso dizer que, quanto maior o nível de desempenho atingido, maior a exigência, maior a pressão e assim por diante.
Daqui de Rio Claro, o que mais você tem saudade?
Sem dúvida, da família e dos amigos. E de poder visitar o ginásio de esportes. Rever meus avós, meus tios, os amigos de infância, e os meus cachorros.
Qual mensagem você deixa para o garoto que gosta de jogar basquete e pretende seguir a carreira profissional?
Primeiro de tudo, que no começo, ele se divirta com o esporte. O esporte é alegria, e muda muitas vidas. Então, que ele se divirta no começo e desfrute desse processo. Porque vai chegar o momento em que terá de fazer muitos sacrifícios pra que ele possa chegar aonde quer chegar. E que ele treine muito. Porque não é algo fácil. A porcentagem de garotos que chegam ao profissional é muito pequena. Uns tem mais talento e outros menos. Mas, se ele realmente quer e realmente trabalhar pra isso, ele vai conquistar.
Caio Pacheco, a palavra é livre para você acrescentar o que quiser.
Agradeço a oportunidade. Agradeço ao jornal Diário e a todos os eleitores. Fico muito feliz sempre que posso ao terminar a temporada na Europa, voltar pra casa, estar com minha família. É sempre bom estar na cidade onde nasci e cresci.
Terminada a entrevista, Caio Pacheco e seu pai, Álvaro despediram-se, deixando um abraço a todos os leitores do jornal Diário do Rio Claro.
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Rede Social