Confesse, querido leitor, você se empanturrou de peru e panetone na noite de ontem. Assim espero. Acho que sobre a mesa, havia também a indefectível maionese e o salpicão, bem gelado, como opção. Não faltou ainda, a farofa doce, aquela com a qual se recheia o finado frango. E tudo regado à base do adorável espumante, indispensável para ocasiões especiais. Ou seria aquela boa e velha sidra que você, encontrou de repente, ao acaso, no fundo do armário da despensa, na última vez que, cedendo à insistência de Madame, fora limpá-lo.
A agradável surpresa lhe fizera lembrar do querido cunhadão. Aquele que comparece todos os anos à sua ceia de Natal, com a família a bordo e de mãos vazias. O mesmo que, às escondidas, reclama de tudo. Mas que não esquece de ocupar o melhor lugar na mesa, além da coxa direita do peru e a fatia maior do delicioso pudim de leite condensado, que dona Madame prepara pra você com tanto carinho.
Sinceramente, eu espero que tenha sido assim a sua ceia de Natal, querido e atencioso leitor. Porque, em tempos como esse que vivemos, o cenário descrito acima, talvez seja privilégio de poucos. Atravessamos, todos nós, um ano muito difícil, em que nossa fé, nossa boa índole, nossas virtudes morais que imaginamos possuí-las, entre elas, a coragem, o amor à vida, a esperança, foram colocadas à prova, dia a dia.
A situação, difícil para todos nós, ganha contornos de dramaticidade, em meio a tanta informação desencontrada, tanta desinformação, tantas autoridades batendo cabeça, tomando decisões equivocadas.
Observamos estarrecidos que nos faltam líderes, justamente no momento que mais precisamos deles. Alguém que se levante na multidão, e nos traga uma palavra de otimismo, que nos aponte um caminho a seguir.
Resta-nos desejar piamente, que as tais vacinas sejam de fato, eficazes e nos traga a proteção para os nossos corpos e o alívio para nossas almas.
Daqui a pouco, é bem provável, caro leitor que você irá se reunir com a sua família para o saboroso almoço de Natal. E desejo de todo meu coração que sobre sua mesa, haja fartura, e que em torno da mesa, não haja nenhuma cadeira desocupada.
Mas, se houver, lembre-se daquele que se acha ausente, com muito amor e carinho. Mais do que isso, agradeça a Deus, por cada dia de aprendizado, humano e espiritual, vivido neste ano tão difícil.
Ao final de cada dia, sempre tive dúvida, se deveria dizer: um dia a mais ou um dia a menos. Hoje, não tenho mais essa dúvida. Troquei os dias, pela certeza de estar vivo. Certeza que tenho, ao acordar pela manhã, ao chilrear dos passarinhos, ao admirar a imensidão do céu, do corredor pequeno e estreito lá de casa, ao sentir na minha pele, os primeiros raios de sol de cada manhã.
Agradeçamos pela capacidade de encontrarmos alegria nas pequenas coisas da vida, nas mais simples. Mais do que o comer e o beber, mais que a roupa bonita, o presente ou a viagem tão desejada, vamos celebrar a vida, com aqueles que amamos, e que ainda estão ao nosso lado, depois de um ano tão difícil como este.
Feliz Natal, leitor e leitora do Diário. Receba meu carinhoso abraço e a minha gratidão.