Em comemoração aos 90 anos da Comunidade Luterana de Ferraz e ao 107º ano do início da Missão, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana de Ferraz e o Grupo de Pesquisa “Davatz – Sangbaul” realizam o encontro “Educação, cultura e religião: povos de língua alemã em Ferraz”, no próximo dia 26, às 19 horas, no Salão da Igreja Luterana de Ferraz, com o objetivo de valorizar e resgatar as origens dos povos de língua alemã que constituíram o Distrito de Ferraz.
Tendo as origens no século XIX, Ferraz tem seu processo de formação histórica ligado à construção da ferrovia nas terras do Fazendeiro João Batista Ferraz, em 1883, constituindo seu povoado. Atualmente, constitui uma área urbana isolada, um distrito de Rio Claro. A comunidade é formada principalmente por descendentes de povos de língua alemã e de italianos, população remanescente de antigas colônias de fazendas da região e do Núcleo Colonial “Jorge Tibiriçá”.
Segundo dados da dissertação de Mestrado em Geografia do pesquisador Éder Rodrigo Varussa, junto à Unesp Rio Claro, as primeiras terras de Ferraz foram compradas por imigrantes alemães que se situavam no antigo Núcleo Colonial Jorge Tibiriçá, em Corumbataí. Em seguida, esses imigrantes passaram a comprar outras propriedades rurais provenientes da divisão da antiga propriedade do senhor João Batista Ferraz devido à proximidade com a estação ferroviária, facilitando o escoamento da sua produção agrícola.
A comunidade alemã de Ferraz originou-se do desmembramento destas fazendas e de núcleos coloniais em falência. Os imigrantes alemães que tinham economias reservadas aproveitaram a crise cafeeira para adquirir terras por preços mais baixos, passando a ser donos das propriedades. Em 1871, os imigrantes alemães representavam uma parcela significativa de proprietários rurais, devido à aquisição de bens.
Assim, o processo histórico de chegada dos imigrantes alemães nas propriedades rurais de Ferraz possibilitou que essas pessoas estabelecessem raízes, criando laços de pertencimento e expondo as características físicas que favoreceram a ocupação.
Segundo Éder Rodrigo Varussa, a fixação das famílias alemãs em Ferraz foi impulsionada pela questão de busca pela terra que propiciasse condições sustentáveis e onde pudessem iniciar novas culturas e garantir a subsistência, adotando-a como lugar de morada e atribuindo-lhe uma relação identidade-sociabilidade-grupo.
De acordo com dados do pesquisador, Ferraz recebeu imigrantes alemães de diferentes regiões do Estado de SP. Eram trabalhadores vindos da Fazenda Ibicaba, de Limeira, das fazendas de Rio Claro ou, ainda, integrantes da comunidade de Kirshdorf, em Leme. Cada família trouxe consigo a experiência de vida adquirida nas lavouras e os costumes do país de origem. A meta principal dessas famílias de imigrantes alemães era fazer da terra sua morada e garantir o sustento de sua prole.
As principais famílias alemãs que estabeleceram raízes e fazem parte da história de Ferraz são Grossklaus, Habermann, Lahr, Lautenschlager, Mackey, Schrank e Schneider. Vale evidenciar que essas famílias integraram o grupo de pioneiros que vieram trabalhar nas fazendas de café do interior paulista, no ano de 1847, em colônias alemãs diferenciadas e migraram para as terras de Ferraz.
A forte presença dos alemães impulsionou o surgimento dos encontros religiosos luteranos em 1911, dirigidos pelo Pastor Theodor Koelle e do Grupo Escolar Alemão, em 1912, nas Propriedades Rurais de Matão, em Ferraz, pelo Professor Paulo Scholtz, e posteriormente a fundação da Igreja Luterana, em 1928, no vilarejo, tornando-se um importante elemento para a preservação da cultura, dos hábitos e da memória dos antepassados. Sua participação, aliada ao convívio harmonioso com outras religiões, principalmente a católica, permitiram que a comunidade alemã de Ferraz permanecesse integrada ao longo dessas nove décadas.
Portanto, o encontro na sexta-feira (26) será aberto a toda comunidade, coordenado pelo Grupo Davatz-Sangbaul, reunindo pesquisadores e historiadores, tendo como palestrante principal o mestre em Geografia Cultural pela Unesp, Éder Rodrigo Varussa, que contará, em detalhes, a partir dos resultados de sua pesquisa, a biografia de todas estas famílias alemãs tradicionais no lugar, resgatando a memória e identidade destas famílias, expondo entrevistas com descendentes mais antigos, revelando a preocupação das famílias alemãs com a educação dos filhos e os aspectos religiosos da propagação da fé, pois foi assim que as famílias alemãs imigrantes e pioneiras na ocupação de Ferraz deixaram legado histórico e cultural aos seus descendentes.