Como normalmente acontece a cada novo pleito eleitoral, o Brasil passa por uma divisão no tocante à política.
Mas, desta vez, os ânimos andam exaltados de um modo nunca antes presenciado. Claramente, há dois lados que praticamente não se toleram. Em função de pensamentos distintos, discussões calorosas tornaram-se rotineiras, seja pessoalmente ou pela internet, por intermédio das redes sociais. Nunca se falou tanto de política. Nunca houve tamanha inflexibilidade. Tornar pública a opção de voto passou a ser uma afronta aos que pensam de forma diferente.
No último dia 7, quando ocorreu o primeiro turno das Eleições 2018, um assunto, de certo modo recorrente, voltou à tona: o separatismo, especialmente em razão da região Nordeste ter sido determinante para que houvesse segundo turno objetivando a Presidência da República. Muitas ofensas foram proferidas à região e ao seu povo, sobretudo nas mídias sociais.
Embora o 1º artigo da Constituição Federal brasileira seja explícito ao apontar que o Brasil é formado pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, surgiram no país movimentos que buscam separar os Estados do governo federal através de processos de independência. Os movimentos separatistas em atuação no Brasil alcançam todas as unidades da federação.
Há diversos, inclusive, que ambicionam tornar o Nordeste independente. Atualmente, pelo menos 27 grupos estão em atividade. Alguns possuem páginas formais na web, ao passo que outros criaram apenas perfis em redes sociais. O Sul é o Meu País (que engloba Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), é um dos mais antigos, conhecidos e atuantes. No Estado de São Paulo, há também o SPL (São Paulo Livre), o maior movimento separatista paulista
Flávio Rebelo, empresário, jornalista, pesquisador de história paulista, palestrante e escritor, é quem o preside. Ele falou ao Diário do Rio Claro acerca do movimento por ele idealizado. “O São Paulo livre é uma organização não governamental, democrática e inclusiva, que tem por objetivo debater com a sociedade paulista a possibilidade de São Paulo se tornar um país independente. Para nós, do SPL, todos que moram atualmente no território do estado de São Paulo são paulistas, se não de berço, de coração”, explicita Rebelo.
Para ele, “são quase 45 milhões de pessoas que merecem viver num país melhor, mais moderno, democrático e rico”. No entanto, assevera ser difícil viver num país assim quando há, de acordo com suas palavras, “um parasita gigante sugando nosso esforço, nosso dinheiro e nosso futuro: Brasília”.
Rebelo conta que, por isso, em 29 de outubro de 2014, apenas três dias após a reeleição de Dilma Rousseff à Presidência da República, lançou, com mais dois “patriotas paulistas”, o movimento que, hoje, depois de quatro anos, já alcançou mais de 25 mil afiliados em quase todas as cidades de São Paulo.
“O país que queremos construir, para todos os paulistas, será democrático, rico e moderno. São Paulo não ‘seria’ um país de primeiro mundo se fosse independente. São Paulo já é um país de primeiro mundo que está, infelizmente, ainda preso numa ‘gaiola terceiro-mundista’ chamada Brasil”, enfatiza.
Rebelo expõe que os índices de educação do Estado são melhores do que a média brasileira, assim como os índices econômicos. “Temos um povo educado, trabalhador, pontual e que preza o capitalismo, o desenvolvimento pessoal e a iniciativa privada, ou seja, tudo o que o Brasil não tem”, garante.
E QUANTO AOS DEMAIS ESTADOS?
“Veja só que coisa absurda: nesta ‘federação brasileira’, há 13 estados que estão sempre no vermelho. Esses estados todos não conseguem juntar dinheiro com impostos e com sua economia local, nem mesmo para pagar suas contas. E aí, o que acontece? Quem você acha que vai ter de bancar a conta? São Paulo, é claro”, avaliza Rebelo. Conforme ele, dos impostos arrecadados em São Paulo, mais de 90% vão direto para Brasília, ao passo que apenas 10% do que se arrecada aqui permanece para melhorar a vida dos paulistas. “Então, com a independência paulista, esses 13 estados, por exemplo, terão que ‘fazer a lição de casa’, encolher o estado, demitir funcionários fantasmas e afastar gente que está apenas inchando os órgãos públicos locais”, certifica.
RECEPTIVIDADE DOS PAULISTAS
Rebelo afirma que os paulistas sabem que Brasil “pesa” e, por isso, jovens, empresários, universitários, trabalhadores, muita gente apoia aquilo que o movimento vislumbra, “ainda que não fale em voz alta”. “Tanto é que fizemos uma pesquisa em formato de votação em 19 cidades, envolvendo quase 50 mil votantes, todos do estado de São Paulo. O resultado dessa consulta, feita em 2016, mostrou que a maioria dos paulistas é favorável à independência e à criação de um país chamado República de São Paulo. Mais de 58% votaram a favor dessa proposta”, destaca.
O BRASIL, COM UMA EVENTUAL SEPARAÇÃO, SERIA PREJUDICADO?
“Por incrível que pareça, o Brasil ganharia muito com a saída de São Paulo dessa federação. Além de ser obrigado, por falta do dinheiro paulista mesmo, a fazer reformas profundas e diminuir o tamanho do estado, além de acabar com as mamatas, mordomias e corrupção. Brasília seria obrigada a repensar tudo, visto que passaria a não mais contar com o dinheiro fácil vindo do bolso dos paulistas”, elucida Rebelo.
ATAQUES AO NORDESTE NESTAS ELEIÇÕES
Indagado quanto aos ataques ocorridos ao Nordeste e aos nordestinos quando do primeiro turno das Eleições, Rebelo diz que o Nordeste está em peso a favor do PT, do Lula, e que divisões de esquerda não são surpresa, nem algo novo para quem acompanha política nos últimos anos. “A verdade, é que faz até sentido: locais com economia não tão desenvolvida são alvos fáceis da esquerda, que montam seus ‘currais eleitorais’ por lá. Se você parar para ver, os eventuais ataques dos quais nordestinos estão sendo vítimas vêm de eleitores raivosos do Bolsonaro. Não temos nada contra o Brasil, contra o Nordeste, contra parte alguma do país. Só não somos mais parte do Brasil. Somos paulistas, moramos em São Paulo. Então, para nós, a eleição de algum governador do Nordeste é tão importante quanto a eleição do próximo presidente do Haiti, do Equador, ou da Guiné Bissau”, assegura Rebelo.
O QUE PENSAM AUTORIDADES LOCAIS?
Acerca do tema separatismo, o Centenário procurou algumas autoridades locais para que pudessem opinar a respeito.
O ex-prefeito Nevoeiro Junior (DEM) afiança ser integralmente contra. “Sinceramente, sou contra qualquer esquartejamento do Brasil. Entendo, sim, serem necessárias providências para diminuir as desigualdades entre todos em nosso país. Essa ideia separatista não seria tangível, por ser de interesse de grupos inexpressivos, falta de amparo legal e, sobretudo, em face da opinião pública”, acentua Nevoeiro.
Para ele, o Brasil ficaria enfraquecido sob todos os aspectos. O ex-prefeito garante não haver, em verdade, fundamento. “É um grupo extremamente inexpressivo. Somos um único povo, com uma mesma postura religiosa e unidos pela mesma língua. Não creio, pois nossa história como país remonta há mais de 500 anos. Salvo duas inexpressivas revoluções, que ocorreram na década de 1930, o país sempre manteve-se unido. Apenas por hipótese, uma separação teria como consequência o enfraquecimento geopolítico que temos hoje”, aponta.
Sobre as ofensas dirigidas ao Nordeste, Nevoeiro entende ter sido uma divisão de opiniões e não um conflito. “As razões desta dicotomia de comportamento foi tão somente econômica”, acredita.
Olga Salomão (PT), ex-vice-prefeita de Rio Claro, segue a linha de Nevoeiro e garante ao Número 1 não ser a favor. “Quem fala que o Brasil está dividido em função das eleições são os mesmos que sempre usaram a mão de obra nordestina, dos negros e dos mais pobres para aumentar seu patrimônio pagando salários irrisórios.
A petista salienta que o povo brasileiro sempre foi acolhedor e solidário e que os meios de comunicação influenciam com relação à ideia de separatismo. “O clima de ódio disseminado pelos meios de comunicação é que traz essa onda separatista. Entendo que, desde o império, se batalhou para o Brasil estar unido e não acredito na viabilidade da separação”, finaliza Olga Salomão.
O Diário do Rio Claro ouviu também o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Rio Claro, Mozart Gramiscelli Ferreira. Sobre o tema, avalia que o Brasil é um país republicano, com uma divisão geopolítica bem definida e que assim deve ser mantida. “Movimentos como este sempre surgem diante das discrepâncias sócio-político-econômico dos estados mais desenvolvidos com os estados que têm uma menor representatividade em termos de arrecadação, por exemplo. Realizar uma separação não é a solução, existindo outros instrumentos para deixar mais equilibrada as forças dos estados”, ajuíza Mozart.
Para o jurista, uma reforma política e tributária amenizaria bastante estes efeitos. Ainda sobre movimentos separatistas, acredita haver fundamento quando se pensa nesta relação desproporcional. Ele explica. “O Acre, por exemplo, tem o mesmo número de senadores que o estado de São Paulo, que tem uma população infinitamente maior que a daquele estado e, por isso, se fala tanto da força política do Norte e do Nordeste, pois são vários pequenos estados que dominam politicamente o congresso sem ter representatividade numérica”, explana Mozart.
O advogado pondera não ser possível, justamente por esta força política existente no Norte e no Nordeste. “Seria necessário um confronto de outras proporções e não vejo esta possibilidade”, mensura.
Por fim, sobre os muitos insultos direcionados ao Nordeste por ocasião do primeiro turno das Eleições, Mozart se diz triste, pois a diversidade precisa ser respeitada. “A palavra de ordem é respeito. Não é aceitável que se crie um ambiente de ódio porque o outro não tem a mesma escolha que a sua. A democracia é isto, é respeitar a divergência”, finaliza.
“Interesses nacionais”? A que interesses nacionais serve ficar preso a Brasilia e pagando impostos a burocratas que para nada servem?
Que interesse nós temos de nos digladiar por diferenças políticas entre todos os estados sendo que cada um poderia seguir seu caminho?
Onde foi que o Brasil chegou até hoje com toda essa união?
O Brasil é um país unificado em todos aspectos e falar em separatismo é de uma estupidez grande porque vai contra todos os interesses nacionais. Temos a mesma língua, mesma colonização, somos um mercado comum invejável que na condição de nações individuais jamais poderíamos ter tantos benefícios assim. Quem pensa o contrário é porque esqueceu a história, cultura, língua e ainda não fez as contas. Países lutam pra criar um mercado comum e nós já nascemos como mercado comum, isto nos faz grandes e não somos maiores por falta de uma política competente.