A educação no Brasil passou por diversas mudanças, desde que as primeiras escolas foram fundadas no país. Em 1549, na cidade de Salvador, e em 1554, em São Paulo, foi onde os primeiros professores – padres jesuítas – ensinaram a ler, escrever, calcular e rezar. Mas ao longo de todos estes anos, o ambiente escolar mudou.
Os relatos sobre a escola do século passado variam entre turmas únicas com idades diferentes, gestos de reverência quando o educador entrava em sala de aula, palmatória e outras formas de repreensão, e até professores fumando em sala de aula.
A questão, longe de ser moralista, mostra que hoje tudo está diferente. Algo que é reflexo da mudança de pensamento e costumes de cada época, como aponta a professora da rede municipal Terezinha Vinha, mestre e doutoranda em Educação pela Unesp de Rio Claro. “Cada época tem seus costumes, mas a cultura se transforma constantemente e precisamos acompanhar as mudanças.”
Não é difícil encontrar material apontando, ou até criticando, determinadas condutas dentro das escolas do passado, como em ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ – filme de 1989. Entre as transformações positivas do ambiente escolar, a especialista destaca o aumento da democracia e menos autoritarismo em sala de aula.
“A escola está mais democrática, menos autoritária. É importante se abrir a mudanças, estabelecer diálogo com a comunidade. Mas é preciso estabelecer regras e limites também, diálogo e respeito são essenciais”, afirma Terezinha Vinha. Para ela, o radicalismo em qualquer sentido é insensato. Como aponta na relação entre aluno e professores.
“Se antigamente havia palmatória, hoje quem apanha muitas vezes é o professor. Não me parece boa nenhuma dessas atitudes. O professor, assim como os pais, merece respeito. A autoridade dos pais e do professor são necessárias para educação dos filhos. Isso não é autoritário, é cultural.”
Não é difícil encontrar relatos, nos dias de hoje, sobre a falta de respeito de alunos para com os profissionais da educação. Para a professora, o ponto está em certa imposição de regras e alguns limites, a fim de tornar a escola um ambiente mais harmonioso e democrático.
A ESCOLA E OS ALUNOS
Da cidade de Auriflama, numa fazenda chamada São José, uma jovem professora rio-clarense, de 20 anos, ensinava numa escola em meio a um matagal de colonião (mato alto). Na escola, a classe era formada pelo que se chamava de ‘turma anexada’ – uma junção de alunos das antigas 1ª, 2ª e 3ª séries do atual fundamental.
“A escolinha ficava no meio de uma plantação de café. E a estrada onde o ônibus me deixava (no ponto), ainda tinha que andar mais um pouco a pé. Às vezes cruzávamos até com boiada”, relembra Sulamita Deiusti, professora aposentada, hoje com 82 anos. A professora, embora já de idade, mantém viva as lembranças, rememora algumas das escolas pelas quais passou, destacando o comportamento dos alunos.
“Os primeiros alunos que tive, em Auriflama, eram super respeitosos. Cuidavam da professora como se fosse da sua família. Em Limeira e em Cordeirópolis, também. No Dia dos Professores, eu chegava com meu fusquinha cheio de flores e presentes.”
Sulamita ainda se atenta para o fato de como as escolas tinham um ensino um pouco mais, como se diz popularmente, ‘puxado’. Segundo a ex-educadora, as crianças tinham muitas lições com acompanhamento disciplinar.
A modernidade, contudo, trouxe mudanças sobre a autoridade do professor. E orientada pelos diretores, Sulamita teve de mudar um pouco a postura. “Eu fui orientada a mudar. Antigamente, usávamos as famosas ‘palavras mágicas’ (por favor, obrigado, com licença). Para falar, tinha-se que levantar a mão. Hoje em dia as coisas mudaram um pouco e já não se usa isso mais”, conta.
Retomando, por fim, a especialista Terezinha Vinha, “a escola é o local de ensino”. Onde bem mais do que uma parede de tijolos, como ilustrada pela banda Pink Floyd – no grande hit Another Brick in The Wall -, o colégio ainda é local de encontro entre diferentes gerações. Entre tantas mudanças, positivas ou negativas, talvez a chave seja, como diz Vinha, o respeito. “O respeito é uma via de mão dupla. Não precisamos agir com violência para ser respeitados. Precisamos de diálogo e limites.”
Terezinha Vinha
“É difícil agradar a todos, por isso existem regras que todos precisam entender e respeitar.” – Terezinha Vinha, professora da rede municipal, mestre e doutoranda em Educação.
Por Samuel Chagas / Fotos: Arquivo Público Histórico do Município de Rio Claro