Pensando bem, é uma época em que a gente fica meio diferente, assim lá na alma. Não é? Há quem não goste do Natal e sinta-se triste inundado pela saudade de um ente querido que se foi há algum tempo e deixou um vazio no coração, na mesa, na vida. Outros aproveitam para beber e comemorar. Outros ainda, para pensar. Cada um na sua, mas é fato: a gente fica meio diferente no final do ano.
As crianças adoram. O Natal, com sua decoração kitsch importada dos EUA, excessiva no vermelho e verde, suas músicas, os programas de televisão e, principalmente, a febre criada em torno do comércio. Bom para gerar empregos e renda, com certeza o comércio é uma parte importantíssima nesse combo de coisas a acompanhar a palavra Natal.
É como se estivesse em nosso DNA, e isso nem tem nada a ver com religião. No fundo a gente sabe, sente e percebe a eficácia de certas condutas. Se adotadas nos farão verdadeiramente felizes, humanos por definição. O perdão, por exemplo. Na vida talvez o mais difícil seja perdoar alguém que nos fez mal, ainda que esse alguém seja nós mesmos. Coisa difícil é a gente se perdoar. Quem dirá perdoar os outros! Mas, algo fala dentro da gente, mexe com nossos sentidos simplesmente quando se fala a palavra ‘perdão’.
Algo fala aí dentro de você, grita às vezes, que o verdadeiro e bom caminho para ser feliz está em tentar fazer os outros felizes. Não é? Isso não te provoca? Parece baboseira, mas pense mais um pouquinho. Algo de muito errado deve haver em nossa época, onde vendem ideias como ‘seja feliz agora’, ‘pense em você primeiro’, ‘seja feliz em dez passos’, ‘a arte de ligar o F…-se’, e ao mesmo temo nunca houve tanta gente deprimida, com pânico, sofrendo as amarguras da solidão.
Há, é claro, a inegável condição clínica da depressão e dos transtornos de ansiedade motivadas por desequilíbrios químicos no cérebro e todos estamos passíveis de adquirir.
O que a sua vida precisa ter para ser de fato feliz? A resposta está dentro, sopra nos ouvidos, mesmo você fingindo não ouvir: a vida que importa mesmo é a vida verdadeiramente dedicada ao outro.
Ouvimos que o sucesso está em nosso lucro, em nosso ganho, na busca pelo conforto, por riqueza e poder. Porém vivemos em geral deprimidos e ansiosos, com pílulas e gotas que prometem acalmar a alma, mas tratam apenas os sintomas. E no peito tentamos sufocar a dor de saber que o caminho é a entrega, é permitir ao outro o sorriso ainda que você não sorria, o abraço ainda que não seja abraçado e a ajuda que se não fosse você não aconteceria.
É enxergar na alegria do outro o resultado de sua ação. Ajudar, alegrar, acolher e entender, sem julgar. Quanta gente hoje espera apenas por isso. Muitas por anos. Ainda que você esteja cercado de conforto, riqueza, aprisionado em sua gaiola de ouro. O Império Romano durou mais de quinhentos anos. Foi o maior império de todos os tempos em poder e conquista. Sob seu regime passaram milhões e milhões de pessoas. Muitos imperadores poderosíssimos, riquíssimos. Mas o nome que ficou daquela época é de um menino, diz a História, que nasceu num estábulo, pobre e excluído e que cresceu falando que a vida boa é aquela que você vive para o outro.
E não fundou nenhuma religião. Não é religião, é essência, é humano. É muito mais do que a fôrma das religiões e suas teologias conflitantes nas quais nos tentam enquadrar para seus interesses. Apesar de muitos outros terem dito coisas parecidas antes, que mistério é esse que lembramos de seu nome antes do nome de qualquer imperador romano ou outro poderoso da Terra? No fim de tudo, o que vamos levar daqui e aqui deixar é o Amor que a gente se permitiu sentir. Permita-se. Feliz Natal!