Nesta segunda-feira (29), é celebrado O Dia Mundial do AVC (World Stroke Day, em inglês).
A data tem o propósito de conscientizar as pessoas com relação às formas de prevenção da doença cerebral que mais mata no Brasil.
A Rede de Reabilitação Lucy Montoro, em virtude da ocasião, alerta a população sobre os riscos do Acidente Vascular Cerebral (AVC). A instituição identificou que, no último ano, 54% das vítimas de AVC atendidas têm menos de 60 anos e fazem parte da População Economicamente Ativa, sendo 55% mulheres. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada seis segundos, uma pessoa morre devido à doença, que atinge um sexto da população global.
A Rede de Reabilitação Lucy Montoro oferece reabilitação às pessoas com deficiência ou doenças potencialmente incapacitantes através de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos fisiatras, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, assistentes sociais e outros profissionais especializados em reabilitação.
Maria Eneida Batista dos Santos, de 56 anos, à reportagem do Diário do Rio Claro, relata que descobriu, em 2004, um cisto no cérebro. De acordo com ela, uma vez por ano realizava tomografia. Em 2009, contudo, estava maior. “Eu tinha convulsões, mas ninguém percebia. À época, somente esquecia onde eu estava”, conta. Quando do ano de 2012, seu médico decidiu operá-la. “Foi no dia 13 de março. Depois da cirurgia, já no dia seguinte, convulsionei muito e senti uma pressão sem igual na cabeça. Tive um AVC”, relembra Maria Eneida.
Ela rememora que quando saiu do hospital, parecia uma criança, já que deixou de ter ciência até mesmo do trivial. “Não sabia mais distinguir o que era um legume, uma fruta. De casa, a cama, a pia, uma cadeira, a água. Não me lembrava o nome de 90% das pessoas”.
Desde então, Maria Eneida conta com o amparo de uma fonoaudióloga e de uma psicóloga semanalmente. Afirma que segue sem se lembrar do nome de muitas pessoas, mas que, para isso, conta com o auxílio da tecnologia. “Eu ainda não me recordo o nome de diversas pessoas, mas o Facebook e o WhatsApp me ajudam muito neste sentido”, confidencia.
Neste processo todo após ter sido vitimada por um AVC, Eneida, como é mais conhecida, afiança que a música foi o que mais lhe ajudou. “Canto há 24 anos em uma igreja e sou salmista. Ensaio, gravo e leio a semana toda para cantar no sábado. Canto no Madrigal CorDaVoz. Lá, são muitas pessoas, meus anjos, que me aceitaram fazendo só o básico. Sem a pasta, só sei cantar ‘Parabéns pra você’. Eu lembro das melodias, mas as letras tenho dificuldades para memorizar”, expõe.
A despeito das dificuldades com as quais ainda é obrigada a conviver em virtude do AVC, Eneida procura enfrentá-las com muito bom humor. “Desisti de tentar lembrar nomes. Meus medicamentos, por exemplo, sei pela cor. Não lembro nome nenhum, e levo na brincadeira. Antes de tudo acontecer, pesava 68 quilos e fui para 49. Agora, já estou com 63 quilos, está ótimo!”, finaliza, bem-humorada, Eneida.
O Diário do Rio Claro procurou Fabricio Buchdid Cardoso, neurologista, a fim de elucidar a respeito do tão temido AVC às vésperas de uma data significativa no tocante à prevenção.
Cardoso explica que o AVC é uma injúria nos vasos cerebrais que levam à morte do tecido nervoso. De acordo com o especialista, em 80% dos casos, o AVC é do tipo isquêmico, ou seja, é causado pela obstrução de uma artéria que leva sangue ao cérebro. “Quando isso acontece, os neurônios começam a sofrer com falta de oxigênio e morrem em uma taxa de 1,9 milhão de neurônios por minuto. Outro tipo de AVC é o hemorrágico, situação em que há ruptura de um vaso cerebral, com inundação do tecido encefálico por sangue e lesão secundária”, explana.
CONSEQUÊNCIA
O neurologista faz menção aos danos que um AVC pode ocasionar, dentre eles, sequelas motoras, incapacidade em andar, enxergar e falar levam à necessidade de auxílio de terceiros para vida cotidiana, bem como cuidados básicos como higiene pessoal e alimentação. “O AVC pode incapacitar o paciente e impedir que ele volte à sua vida sem limitações, como seu retorno ao mercado de trabalho e sua contribuição com a sociedade. A depressão secundária também é um dos grandes ‘fantasmas’ desta patologia”, enumera Cardoso.
SINTOMAS
Segundo o profissional, há alterações como dificuldade com relação à fala, movimentação dos membros (geralmente unilateral), perdas visuais, desvios da face (boca torta), cefaleia, incoordenação e rebaixamento da consciência são os sinais mais comuns, embora, conforme ele, haja sintomas mais sutis. “A principal característica é o início súbito destes sinais, isto é, apresentação abrupta destes sintomas em pacientes que não apresentavam tais alterações previamente”, ilustra.
TRATAMENTO
O médico enfatiza que o tratamento do AVC dependerá de qual será o seu tipo. Nos casos de AVC hemorrágico, o tratamento será direcionado para sua causa, ou seja, quando ocorre uma ruptura de aneurisma, há a necessidade do tratamento deste. No caso de hemorragia por aumento da pressão arterial, é preciso um controle rígido desta pressão nas primeiras horas do evento e, em casos de tromboses cerebrais, é necessário seu tratamento específico. “Há inúmeras causas do acidente vascular cerebral hemorrágico e todas terão seus tratamentos dirigidos a elas. O tratamento em terapia intensiva é comum para todas as situações e consiste na estabilização do paciente, assim como manejar problemas comuns, como aumento da pressão cerebral, crises convulsivas secundárias, dentre outras”, explicita Cardoso.
O neurologista diz que no caso do AVC isquêmico, no qual há interrupção do fluxo sanguíneo cerebral, existem possibilidades terapêuticas que podem deixar o paciente livre de sequelas ou sequelas mínimas. Ele relata que estes tratamentos passaram por uma revolução nos últimos anos e continuam em constante aperfeiçoamento, tendo sido uma das áreas que mais evoluíram na medicina.
FAIXA ETÁRIA MAIS ATINGIDA
Cardoso assevera que a idade é um fator de risco, portanto, quanto maior, mais chances de desenvolver a doença. “No entanto, qualquer idade pode ser acometida pela patologia”, garante.
MENSAGEM
“Medidas de divulgação devem ser incentivadas a fim de levar a informação ao maior número de pessoas. Todos podem contribuir para que o paciente não tenha sequelas, reconhecendo de maneira rápida que uma pessoa pode estar sofrendo um AVC. Juntamente a isso, os serviços de saúde devem estar capacitados e atualizados para o melhor atendimento, possibilitando ao maior número de pessoas o tratamento específico do AVC, objetivando a reversão dos sintomas e a ausência de sequelas, contribuindo sobremaneira com o paciente, seus familiares e com toda a sociedade”, finaliza Fabricio Buchdid Cardoso.