ismo. Um dos grandes aprendizados que tive foram as aulas práticas. Na Universidade, tivemos uma espécie de “Jornal Laboratório”, em que simulávamos uma redação por um dia. Lembro-me como fosse hoje do meu primeiro fechamento. Precisávamos de pautas e, após passear por alguns portais de notícias, vi uma nota a respeito de Edu Lobo: ele havia sido internado para tratar um aneurisma cerebral.
Ao sugerir o tema – e já com um texto pronto – para capa, um colega responsável pela edição perguntou-me: “mas quem é Edu Lobo?”. No momento, podia jurar que era uma zoeira, mas dada sua insistência, expliquei sobre o personagem e sua importância. O editor não se deu por convencido, e foi preciso aguardar a chegada do professor-orientador que respondeu apenas “lógico, vai pra capa”.
15 anos depois, novamente passeio em portais de notícias e encontro outra informação sobre um grande nome: desta vez, não era um internamento, e sim a morte. John Havlicek, ídolo do Basquete nos anos 60 e 70, um dos maiores jogadores da história do Boston Celtics, equipe com mais títulos na história da Liga de Basquete americana.
O título da pequena reportagem o chamava de “lenda”. Não um colega, mas um comentarista de internet proferiu a seguinte afirmação: “não deve ser tão lenda assim, pois nunca ouvi falar dele. Conheço Jordan, LeBron, mas este aí não”.
São duas passagens distantes em mais de uma década e que demonstram que algumas coisas não mudaram – e se mudou, foi pra pior. Lobo e Havlicek, em suas respectivas áreas, estão entre os 20 maiores nomes de todos os tempos. Não são os principais ícones da MPB ou da NBA, mas foram fundamentais para que cada uma dessas siglas se solidificassem.
Obviamente, meu propósito aqui não é apontar para o “grave problema” de muitos brasileiros não conhecerem a fundo esporte ou arte: embora sejam muito importantes, Basquete e Música não definem os rumos de nada nem ninguém. No entanto, há um padrão identificável nas respostas de meu ex-colega e do comentarista de internet: o desprezo pelo conhecimento, pela novidade, pela mudança de conceitos ou opinião.
Se em vez de Edu Lobo eu falasse de Heitor Villa-Lobos, e em vez de Havlicek a matéria fosse sobre Wilt Chamberlain – na opinião deste colunista os dois melhores de sempre da música brasileira e do basquete – haveria alguma mudança nas reações? É provável que não.
Mas e se as notícias falassem de Carlos Chagas e José Bonifácio, de Nise da Silveira e André Rebouças, ou de Niéde Guidon, César Lattes e Celina Turchi? Talvez um ou outro desses nomes você conheça por darem nomes a ruas, praças ou avenidas. Mas quem foram e o que fizeram é importante para estarmos hoje, aqui.
As recentes discussões sobre os investimentos governamentais nas Instituições Federais de Ensino – afinal, é corte ou é contingenciamento? – e as acusações da oposição (será mesmo que “nunca antes na história deste país”?) e as esquivas da situação (não temos dinheiro, mas para quê?) só comprovam um fato: no Brasil o conhecimento NUNCA foi prioridade.
O único alento para esse caso é que a ignorância não é preconceituosa: ataca igualmente a ricos e pobres, e pessoas de diferentes cores de pele, idades, gêneros e condições sexuais: a ignorância é um estado natural.
Vejam só: há quem não tenha acesso ao básico do básico e, por conseguinte, desconheça até mesmo que precisa conhecer; mas há quem tenha acesso a tudo, e mesmo assim opte por desconhecer – ignore, de fato.
Afinal, como diz o pensamento já milenar, “para o ser humano, aquilo que ele não conhece é como se não existisse”.