Elas aproveitam os dias que antecedem o feriado de Finados para ganhar uma renda extra, oferecendo serviços de lavagem e roçagem de túmulos no Cemitério Municipal São João Batista, em Rio Claro.
Na reportagem especial deste domingo (23), o Diário foi conhecer a rotina de lavadoras de sepulturas, que há muitos anos estão à frente do trabalho manual, debaixo de sol ou de chuva.
Carregando um carrinho de supermercado com meia dúzia de baldes com água, sabão e camisetas velhas – que servem de esfregões – dona Catarina Teodoro, de 80 anos, que mora nas proximidades, foi uma das que intensificou os trabalhos, para deixar tudo em ordem quando as famílias visitarem seus entes queridos, no próximo dia 2 de novembro.
Com dificuldades para andar por conta de um problema na coluna, que diz ter adquirido trabalhando por aqui, ela contou que nesta época do ano costuma lavar entre 75 e 80 túmulos por mês. A renda vai para uma paixão de criança.
“Com esse dinheiro, eu uso para cuidar dos gatos abandonados que estão aqui. Compro ração, levo eles no veterinário para castrar e guardo para alguma urgência que eles precisam. Em casa eu tenho quatro que acabei levando daqui, pois estavam doentes – e dependendo da causa – é preciso dar remédio na hora certa”, conta.
Aposentada, dona Catarina faz esse serviço há 15 anos. Antes, trabalhava como faxineira em casas de família. No entanto, a liberdade que encontra limpando os jazigos a fez trocar de ‘segmento’.
“Bem mais perto de casa. E, se forma uma chuva muito forte, consigo andar depressa para casa e me proteger. No outro serviço não tem como. Aqui eu não prejudico ninguém. No outro serviço tem que ficar 8h e, se faltar, a gente acaba prejudicando”.
Sobre os netinhos – a qual o chama carinhosamente os gatos – a mulher diz que os educa o tempo inteiro. “Vem com a vovó, sai daí de cima, a vovó acabou de lavar, desce daí. O dia inteiro é assim. No meu carrinho eu tenho um pote com a comida deles. Eu deixo em vários pontos aqui dentro antes de eu ir embora”.
‘Estou levando uma vida gostosa’
À reportagem, dona Catarina diz que as árvores garantem a sombra nos dias muito quentes, e que adora acordar cedo e se preparar para a labuta. Ela gosta de ter o que fazer e de ser útil para as pessoas e os animais.
“É preciso ter um porquê. Eu gosto do que eu faço. Tenho amizade com todos aqui, nos damos muito bem. Quando chega no fim do dia eu tomo um banho, do jeito que dá, mando um arroz feijão para dentro, e cama. É uma beleza. Se todo mundo tivesse a vida que eu tenho…”, finalizou sorrindo.
Duas décadas de trabalho com amor
O barulho fraco da torneira caindo no balde denuncia Ana Cristina da Silva, de 40 anos. Com muita paciência, ela enche vários baldes transportados também em um carrinho.
Com a profissão que herdou de uma amiga, criou as filhas uma de 12 e outra de 23 anos. Mesmo grávida, nunca se afastou do Cemitério. “Mesmo barriguda eu subia em cima e limpava tudo. Foi deste lugar que tirei o sustento para eu criar minhas meninas”, conta.
Lavando os jazigos há 20 anos, a mulher se considera ‘dona’ de vários túmulos – no bom sentido – claro. É que por dia são mais de 40 sepulturas. “Com essa quantidade, consegui contratar algumas meninas que me ajudam. Os baldes são pesados e eu preciso de ajuda para manter essa quantidade de túmulos limpos”.
Conforme a administração municipal, o único cemitério público da cidade conta com cerca de 14 mil túmulos. No Dia de Finados, o horário de funcionamento será normal das 6h às 18h.