Recentemente, o Diário do Rio Claro completou 133 anos. O periódico, fundado em 1º de setembro de 1886, jamais cessou suas atividades. Trata-se da empresa industrial mais antiga ainda em atividade na terra de Dalva de Oliveira. A asseveração é da professora doutora Silvia Selingardi Sampaio, do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Unesp Rio Claro que, cordialmente, atendeu à reportagem com o intento de esmiuçar acerca deste fato.
De acordo com Silvia, o Diário é originário do bissemanário “O Tempo”, e é hoje a mais antiga indústria de Rio Claro. “Sua origem e primeiros tempos de existência inserem-se no contexto histórico do município de Rio Claro, marcado pela economia do complexo cafeeiro, capitaneado pelos grandes proprietários rurais de origem luso-brasileira, e por uma atividade industrial nascente, resultante, em grande parte, da iniciativa empresarial de imigrantes estrangeiros, em especial italianos e alemães. Essa foi a fase ‘pioneira’ da industrialização rio-clarense”, explicita.
A docente expõe que “a iniciativa do Major José David Teixeira, fundador do Diário, envolvia bom conhecimento da língua portuguesa, além de outras elevadas atividades intelectuais, e ainda um posicionamento político esclarecido, em face do momento histórico que o Brasil vivia (abolição da escravatura, Proclamação da República), atributos que faziam dele um empresário industrial muito diferenciado no meio local.”
A professora doutora assevera que o Diário do Rio Claro constituiu, juntamente com as Oficinas da Cia Paulista e com a Cervejaria Rio Claro (depois Skol), o trio industrial mais antigo de Rio Claro durante todo o século XX. “As duas últimas citadas não resistiram, contudo, a problemas administrativos e outros ligados à longevidade (obsolescência tecnológica, instalações inadequadas, perda de competitividade etc), e foram desativadas nos anos 1990 e 2000.”
E sacramenta: “Dessa forma, é o Diário do Rio Claro a indústria mais antiga do município e a única remanescente do século XIX.” E por que indústria? Silvia Selingardi Sampaio explica: “Porque empresa é uma unidade jurídico-financeira, uma firma oficialmente estabelecida, e ela pode ser de várias naturezas: industrial, comercial, hoteleira, de transportes etc. No caso do Diário, é uma empresa jornalística, editorial, mas também industrial, pois tem produção, recebe matérias-primas e as transforma em produtos.”
Segundo Silvia, uma prova inconteste de que soube vencer os obstáculos enfrentados ao longo de 133 anos de existência, e que não foram poucos. “Reestruturações produtivas (introdução de máquinas e equipamentos mais modernos) foram feitas ao longo dos anos e devem explicar grande parte de sua secular resiliência. Transformou-se em um ícone industrial de Rio Claro, sem dúvida”, finaliza.