O tabagismo é considerado, entre os cardiologistas, uma pandemia já que existem mais de 1 bilhão de fumantes no mundo e que estão expostos a inúmeras doenças, as principais delas as cardiovasculares. Os homens fumantes abreviam a expectativa de vida em 10 anos, enquanto as mulheres em 14 anos, conforme estimativas da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, com base em estudos nacionais e internacionais.
A especialista no assunto e conferencista do 42º Congresso da SOCESP, Jaqueline Scholz, lembra que a doença cardiovascular é a que mais mata fumantes, tanto do cigarro comum, quanto do eletrônico. “A nicotina libera adrenalina, acelera o coração e aumenta o consumo de oxigênio e a pressão arterial. Ela produz danos nas paredes das artérias, favorecendo aterosclerose, circunstâncias que podem levar ao infarto e à morte súbita”, explica. “Apenas um único cigarro – convencional ou eletrônico – já é suficiente para causar constrição da artéria. A nicotina é tão nociva que causa endurecimento de artérias, exigindo do músculo cardíaco mais esforço para trabalhar”, completa.
Mas o pulmão também é impactado com 20 vezes mais chances de provocar câncer no órgão. E uma série de outras doenças, como a infertilidade e a disfunção erétil entre os homens e para as mulheres, menopausa precoce e aumento de risco exponencial de AVC entre aquelas que também usam pílula anticoncepcional. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta.
Em média, ambos os gêneros fumam por 30 anos, mas começam sempre muito cedo, em 90% dos casos já na adolescência. Cerca de 70% dos usuários de cigarro eletrônico, atualmente, tem entre 15 e 24 anos. “O cérebro dos adolescentes está em desenvolvimento e a exposição à nicotina pode mudar a maneira como o órgão funciona, causando aumento da impulsividade e transtornos de humor, entre outros”, informa a especialista.
No Brasil, a produção, importação, publicidade e comercialização de cigarros eletrônicos são proibidas. Recentemente um relatório da Anvisa* analisa o impacto regulatório que a liberação dos dispositivos eletrônicos para fumar trariam a toda sociedade. “O documento mostra claramente que a legalização da venda será um ‘tiro no pé’ com amplos riscos para a saúde pública com a relação dos malefícios que poderiam trazer”, alerta Jaqueline Scholz. Mesmo com as restrições impostas pela legislação, os dispositivos são facilmente comprados pela internet, principalmente entre os jovens.
Jaqueline Scholz destaca que alguns modelos, inclusive, funcionam com o ‘sal de nicotina (pods)’, que produz dependência mais rápida que o cigarro convencional. Uma vez inalada, ela estimula a liberação de neurotransmissores como a dopamina, responsável pela sensação de prazer, bem-estar e relaxamento. “A ideia de os eletrônicos são ‘cigarros evoluídos’ só projeta uma cortina de fumaça sobre a verdade: apesar de não expor o usuário ao monóxido de carbono, uma vez que não ocorre combustão (o aquecimento é feito por bateria), o vape, como também é conhecido, traz a dependência de nicotina. Os eletrônicos emitem mais nanopartículas que os cigarros convencionais. Estas partículas ultrafinas (100 nanômetros) são responsáveis pela asma e também por agravos ao endotélio, corroborando para o infarto e o AVC. Portanto é ‘fake news’ que o eletrônico não faz mal à saúde”, completa Jaqueline Scholz.
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