“É um presente que Deus nos deu, mas eu ainda não posso pegar”, é com esta frase que o comerciante Délcio Norberto de Freitas Bull, de 62 anos, define o atual momento. A chegada da primeira neta em meio a pandemia. A pequena Theodora Bull de Lima nasceu no dia 26 de junho, mas os avós ainda não puderam acalentá-la em seus braços, tudo por uma boa causa: a prevenção, tanto deles, quanto a dos papais e, claro, da mais nova princesa da família. “Eu também cuido do meu pai que tem 90 anos, o bisavô da Theodora. Não pude pegar no colo minha neta ainda. Pegar no braço, fazer um carinho, de ver uma gracinha, um sorriso, ainda não podemos. Fica sempre faltando alguma coisa e está faltando pegar minha neta no colo, ver o sorriso dela, ouvir o choro. A gente vai ficando triste, de querer acompanhar esse momento e não poder, não sabemos até onde vai esse distanciamento, mas devemos tomar cuidado e preservar a vida. É a questão do amor que temos pelas pessoas e pela vida. Temos toda essa preocupação de infecção do vírus, então a gente preserva primeiro a vida. Queremos todos bem. É difícil, ver as notícias sobre Covid, traz uma grande insegurança. Graças a Deus a bebê está muito bem. Espero que a pandemia passe, porque tem muitos avós e pais que não podem ver netos e filhos. De tudo isso só falo que o homem esquece das coisas mais simples da vida e se apega em dinheiro ou luxo, esquecendo de uma neta, um pai, uma mãe. A Bíblia diz que temos que cuidar dos nossos familiares. O mundo sofre com este momento. Temos que esperar e eu estou esperando. Aprendi que temos que ter muita paciência na vida”, declarou o comerciante Délcio que viu a neta apenas de longe, ele na calçada e ela com a mamãe na garagem da casa.
Do lado paterno da Theodora também estão os avós Dermeval Aparecido de Lima, de 77 anos, e Maria Ines Prado de Lima, de 74 anos, que também têm os netos Davi com 16 anos e Daniel de 14 anos. Apesar de não poderem estar pertinho da neta, a empresária mantém a serenidade para o momento, priorizando a saúde de todos. “Quarentena não é sinônimo de solidão, estamos sempre em contato com os filhos e netos, usando a criatividade mesmo que longe, mantendo o relacionamento com as pessoas queridas. Isso faz a diferença nesse momento tão desafiador. Entendo a importância do distanciamento para a segurança e saúde de todos. O coração está acelerado e ansioso para tão logo carregar minha netinha Theodora que chegou durante a quarentena, trazendo alegria, paciência e gratidão! Estou contando os dias. Com a certeza e a esperança de tão logo carregá-la em meus braços. Assim conseguiremos no momento certo estarmos juntos fisicamente e curtir minha netinha com todo amor e cuidado. Theodora foi um presente que Deus nos deu nessa quarentena”, ressaltou Maria Ines.
Até que essa espera termine, do outro lado estão os papais Maurício de Lima e Jaqueline Nascimento Bull que se dedicam nos cuidados da primeira filha do casal, sem poder contar com a ajuda dos mais próximos, o que é comum na chegada de um bebê. A Jaqueline, está há 120 dias em isolamento, gostaria de ter a mãe Evanilde Aparecida do Nascimento e a sogra ao lado, mas entende que as medidas são necessárias. “Quando minha filha nasceu, ficamos seis dias internados, sem visitas, foi um sensação bem ruim, bem triste de não poder ter ninguém por perto. Esse sentimento massacrava a gente a todo instante. Quando saímos levamos para minha mãe e sogra vê-la de dentro do carro com os vidros fechados. Meu pai viu há dois dias da calçada e eu dentro da garagem com a minha filha, nós dois de máscaras, ele ficou muito tentado a pegar, mas não podia”, contou.
Cada dia tem sido de novas experiências e muita emoção. “Meus sogros choraram muito, nós também ficamos muito emocionados. Minha mãe também muito emocionada beijou o vidro do carro como se estivesse beijando o pezinho da bebê”, relata Jaqueline.
Para acompanhar o desenvolvimento da recém-nascida e amenizar o desejo de estarem perto, eles tentam driblar os desafios de um forma que tem sido muito comum atualmente para muitas famílias. “Enviamos fotos e fazemos vídeos chamadas, mas minha mãe não lida com a tecnologia, fica mais difícil. As chamadas deixamos no viva voz para a bebê acostumar com a voz de cada um e vamos falando de quem são. Temos driblado isso, indo de carro na frente da casa delas e vendo de longe. Até mesmo para nos protegermos porque eu sou de alto risco, passei por cesárea e tenho lúpus, a bebê ainda não tem imunidade, temos que tomar cuidado porque não sabemos muito desse vírus ainda. Os avós que seriam os primeiros a querer compartilhar tudo isso com a gente, até mesmo ajudar, minha mãe minha sogra, nesses primeiros dias, infelizmente não puderam. Deus me deu uma bebê muito boazinha, sou grata”, completou Jaqueline.
Enquanto a espera não termina, os corações são aquecidos de outra forma. “Isso tem abalado muito a gente psicologicamente, nos apegamos muito a fé, temos orado muito a Deus.”
Fotos: Divulgação