Uma dos mitos que circundam o mundo científico é a de que todo físico é ateu. Essa falsa ideia de físico que se preza não acredita em Deus soa estranho quando vamos de fato atrás de opinião de grandes e famosos cientistas da área. Comece por Galileu Galilei e depois siga em direção a Isaac Newton.
O primeiro, que negou suas descobertas diante do tribunal da Inquisição, para não morrer, dizia “Não consigo acreditar que o mesmo Deus que nos deu inteligência, razão e bom senso nos proíba de usá-los.”
De Newton, é conhecida sua declarada castidade e toda dedicação que tinha à sua religiosidade.
O que se deve levar em conta entre pessoas que fazem Ciência é a crítica em ceder para uma crença excessivamente institucionalizada, com suas teologias e interpretações.
Quando perguntam ao famoso astrofísico Neil DeGrasse Tyson se ele acredita em Deus, imediatamente responde com outra pergunta: “Qual Deus, o Deus do Cristianismo, do Judaísmo, do Islã, etc?”
Ferrenho crítico do rumo que a Mecânica Quântica havia tomado, na qual átomos e partículas subatômicas só podem ser descritas por meio de probabilidades e amparada no Princípio da Incerteza de Heisenberg, Albert Einstein virava e mexia se referia ao “Senhor”. Em uma de suas mais conhecidas manifestações dizia “O Senhor é sutil, mas não malicioso. Deus não joga dados com o Universo”.
Judeu não praticante, Einstein sempre foi crítico das religiões muito radicais e institucionalizadas, mas cultivava uma profunda religiosidade. Numa outra entrevista publicada em forma de diálogo com o polímata indiano Rabindranath Tagore, Einstein não escondia sua crescente admiração por Jesus Cristo. “Quando criança eu recebi instruções da Bíblia e do Talmud. Sou um judeu mas estou fascinado pela luminosa figura do Nazareno”, disse Einstein.
Há exemplos também de físicos que seguem a religião mais institucionalizada, como o físico inglês John Polikinghorne. Professor de física-matemática na prestigiosa Universidade de Cambridge de 1968 a 1979, abdicou de sua cátedra e foi em busca de se tornar sacerdote da Igreja Anglicana. São conhecidos seus excelentes livros sobre a relação entre ciência e religião.
Vale ainda lembrar de Geroge Lemaître. Físico belga, foi ele o primeiro a propor em 1927 que o Universo havia surgido a partir de um evento no qual toda a matéria e espaço estavam concentrados em um único ponto de temperatura e densidade infinita. O mundo conhecia pela primeira vez a Teoria do Big Bang, e que a cada dia que passa ganha mais e mais comprovações experimentais. Lemaître era padre católico.
Em maior ou menor nível, a briga dos cientistas é contra o obscurantismo, contra a autoridade das igrejas e seitas que tentam impor suas regras e interpretações impedindo nosso maior dom, que é o de nunca parar de questionar, e ir em busca de conhecer livremente.
Nunca é demais lembrar que a ciência só pode negar de maneira definitiva a existência de algo após a observações absolutamente conclusivas. Assim, qualquer radicalismo, seja do lado da crença cega e limitante em Deus ou mesmo do ateísmo mais renhido, em nada tem a ver com fazer ciência.
Crente e ateus radicais tem uma posição inconsistente com o método científico, este baseado em evidências. Crer ou não crer, opções muito pessoais e que devem ser respeitadas, são dois lados da mesma moeda. Afinal, ateísmo é crer na não crença, é a simples negação da existência de Deus. Sem provas experimentais.
Ciência é a mais humana das atividades, a mais preciosa para nos tirar da escuridão da irracionalidade e nos fazer transcender em nosso papel de humanos. É o Universo que desperta em forma de consciência para assim poder se conhecer.
É a amplidão do conhecimento científico que nos dá um real sentimento de humildade diante da imensidão do Cosmos, com bilhões e bilhões de galáxias, e a Terra sendo menos do que um grão de poeira suspenso no espaço-tempo orbitando uma estrela média na periferia da Via Láctea.
E Deus, por seu lado, talvez seja mesmo improvável, no sentido de que não pode ser provado, colocado em uma caixa de testes e observações. Para os que não creem, Deus não existe. Para os que acreditam, Deus é.