Falar ao microfone em uma emissora de rádio era sonho de menino. Antes, porém, deveria vir o estudo. Imposição do pai, ciente do talento do filho, mas preocupado com o seu futuro. O tempo mostraria que o pai estava certo. E a natureza também ao dotar Moacir Martins de um talento precoce e extraordinário para a comunicação no uso da voz.
Até realizar o sonho de menino levou algum tempo. Moacir completou os estudos, ingressou na ferrovia onde trabalhou durante muitos anos na área administrativa. Ali ganhou a vida, até que a oportunidade no rádio finalmente surgiu. E foi na emissora pioneira do rádio rio-clarense, a PRF-2 ou simplesmente Rádio Clube de Rio Claro. O início como locutor foi o abre-alas para o desfile de talento e versatilidade. Moacir atuou como repórter jornalístico, repórter esportivo e apresentador. Depois, surgiu o jornal e finalmente a TV em sua vida. Mas a história, como o próprio Moacir Martins relata em seu livro autobiográfico “Da Latinha ao Sucesso”, lançado em 2016, começa bem antes quando ainda menino. “Eu tinha 11 anos”, relata, “e já sentia, que um dia, eu iria ser locutor de rádio. Saía do grupo escolar Marcelo Schmidt onde estudava, sentava no banco do Jardim Público para ouvir o serviço de alto falante Primavera. Depois, em casa, ia para o meu quarto e brincava de locução com uma latinha de massa de tomate vazia, com a qual eu imitava um microfone e com as mãos em forma de concha em volta do ouvido, lia por diversas vezes um panfleto das lojas Pernambucanas e caprichava na interpretação do texto”.
Mas havia uma dificuldade a superar. Na casa de seus pais não havia rádio, então o jeito era colar o ouvido na parede do vizinho e escutar as notícias e ouvir as músicas. Tarefa nada fácil porque exigia que subisse em cima do guarda roupas para apreciar a rio-clarense Lúcia Helena apresentar o programa O Rei da Voz, com Francisco Alves, pela Rádio Nacional.
A oportunidade tão sonhada viria em 1953 quando conseguiu uma vaga de locutor no programa de calouros do Cine Teatro Variedades, apresentado pelo Olavo Marques, então ex-diretor da Rádio Globo de São Paulo. Moacir se recorda que nem dormira na noite de sua estreia de tanta satisfação. A latinha de massa de tomate vazia, enfim, havia se transformado em microfone.
Depois disso, para ingressar na equipe esportiva da Rádio Clube, única emissora de rádio de Rio Claro até então, fora um passo. A equipe esportiva da Clube, à época era chefiada por Sergio Carnevale e a rádio tinha sua sede no prédio onde hoje ainda se encontra a Associação Comercial e Industrial de Rio Claro, na Rua 3.
Contudo, não era o bastante. Moacir queria mais. Entre seus objetivos, tornar-se apresentador de programa de auditório, que fazia sucesso à época. É preciso dizer que no prédio citado, onde funcionava a Rádio Clube, havia um bonito e aconchegante auditório em que eram apresentados tais programas, sob a supervisão do sempre exigente e atencioso Mauro Martins Coelho. Àquele tempo, Moacir Martins já apresentava um jornal falado, das 8 e meia às 10 da noite. E também, uma vez por semana, um programa de músicas italianas com cantoras e cantores de Rio Claro, tudo ao vivo no auditório da Clube.
Com o dinamismo e o talento demonstrado e a aceitação do público, que rendia boa audiência à emissora, Moacir dedicou-se a outros projetos bem sucedidos na Rádio Clube, dentre eles o Calendário Social, no qual destacava aniversariantes e atividades sociais da cidade, que tinha a participação da saudosa Claudia Cláudio, nome artístico de Elaine Moncaio. Concomitantemente às atividades radiofônicas, Moacir Martins dedicava-se às suas atribuições na ferrovia, na qual cumpria sua jornada de trabalho habitual, dedicando-se aos programas de rádio no período noturno.
Na tevê com Silvio Santos
E veio o ano de 1969. A cidade de Rio Claro participou de três programas Cidade x Cidade, de grande audiência à época, duas vezes contra Jales e uma contra Guaratinguetá, saindo-se bem em todas, conquistando duas ambulâncias para a Santa Casa de Rio Claro. Como líder da equipe rio-clarense estava Moacir Martins que, com seu poder comunicativo, conseguiu mobilizar toda sociedade rio-clarense a fim de que fossem cumpridas as tarefas exigidas pelo programa. O sucesso valeu convite para assessorar a campanha do então candidato a deputado estadual Paulo Osório da Silveira Bueno, que igualmente foi bem sucedida.
Narrador do tribunal do júri
O bom radialista deve estar preparado para toda e qualquer circunstância, mesmo as mais inusitadas. O fato pitoresco aconteceu por duas ocasiões na carreira radiofônica de Moacir Martins, quando narrou do Fórum local duas sessões de tribunal do júri, quando já trabalhava pela Rádio Educação e Cultura. Por sinal, seu ingresso nessa emissora merece destaque. Vamos a ele…
No ar a Rádio Educação e Cultura de Rio Claro!
Foi no ano de 1972 que o empreendedor e visionário Orlando Fratucelli abraçou o desafio de lançar a segunda emissora de rádio em Rio Claro. E a primeira voz a surgir no microfone da nova emissora foi a de Moacir Martins. Era 17 de novembro de 1972. Na Cultura, Moacir Martins permaneceria até o ano de 2013, sempre apresentando com grande sucesso de audiência o programa Jornal do Meio Dia, que tinha o bordão “A notícia do tamanho da verdade” e começava com o famoso Editorial, a opinião do redator chefe que destacava algum fato relevante da política local.
À beira do gramado
As transmissões esportivas foram também um marco na carreira do radialista Moacir Martins. Na década de 1970, que muitos afirmam ter sido a época de ouro do futebol profissional rio-clarense, ele atuou como repórter de campo da equipe “Craque de Bola”, ao lado do narrador e amigo Edmundo Silva e do comentarista Tarcis Bortolozzi.
Samba do bom!
Certamente um programa apresentado por Moacir Martins na Rádio Educação e Cultura que marcou época e deixou saudades em seus inúmeros ouvintes foi o “MM Show”, onde o samba era o destaque. O programa ia ao ar das 20 às 22 horas e tinha participação dos ouvintes. Como patrocinador máster, a concessionária de veículos Rival, de propriedade do empresário Geraldo Zanello, também dono do jornal Diário. Moacir lembra com carinho e gratidão o apoio recebido naquele período, que permitiu que o programa se mantivesse no ar por mais de 10 anos.
Na máquina de escrever
As redações dos jornais locais, ao tempo da máquina de escrever e suas teclas barulhentas e ritmadas, também fizeram parte da trajetória de Moacir Martins na imprensa, paralelamente ao seu trabalho no rádio. Martins atuou como colunista esportivo do Jornal Cidade e no jornal Diário do Rio Claro, dividiu as laudas da redação com as memoráveis e saudosas jornalistas C. Cy e Mara David, Paulo Jodate e Benoni Ribeiro.
Havia uma tevê no caminho
Moacir Martins já era um nome consagrado na radiofonia local quando, em meados da década de 1990, surgiu o convite do prof. Aldo Zotarelli Jr e do padre Firmino para trabalhar na então TV Rio Claro, canal 19 UHF, que depois passaria a se chamar TV Claret, nome que ostenta até hoje.
Mestre de cerimônia e Esquina do Veneno
A trajetória de Moacir Martins na imprensa rio-clarense, seja no rádio, no jornal ou na tevê, certamente daria um livro de 300 páginas, uma matéria de 200 linhas, um documentário de duas horas e meia. E tudo isso ainda seria pouco para relatar suas experiências, a maioria vitoriosas, das quais, aos 90 anos, se lembra com orgulho e carinho. Moacir Martins atuou como mestre de cerimônia em eventos sociais memoráveis da comunidade rio-clarense e era frequentador assíduo da saudosa Esquina do Veneno na Rua 5 com Avenida 1, onde coletava através de suas fontes informações preciosas de bastidores. No rádio, trabalhou ainda em emissoras de cidades vizinhas, como a Educadora de Limeira e a de Piracicaba.
Momentos agradáveis na redação
Recebê-lo para uma conversa tão agradável na redação deste jornal Diário, que rendeu inclusive essa matéria foi um prazer imenso e a certeza de que durante quase duas horas, estivemos à frente a ouvi-lo com carinho e atenção, de um dos maiores nomes da comunicação social rio-clarense, que merecerá sempre de seus inúmeros ouvintes e leitores toda admiração e respeito. E gratidão. Parabéns MM, você é o show!
Por Geraldo Costa Jr. / Foto: Hércules Marcos