Hoje, por intermédio das páginas do Centenário, você, leitor, irá conhecer um pouco da vida e arte de Vitor Celoria Poltronieri, 42 anos, artista dedicado ao circo, nascido em Campinas, mas crescido e criado em Rio Claro. “Minha formação humana foi em Rio Claro. Então, sim. Sou rio-clarense”, diz. Inicialmente, havia optado pela Comunicação Social, conforme relata.
“Um dia decidi, por um caminho habitual, fazer faculdade de Comunicação Social e ali me formei. Porém, uma encruzilhada se colocou e o circo tornou-se uma (ins)piração para abrir mão de uma carreira num mercado de trabalho que, podemos dizer, ‘padrão’, para buscar um sonho, correr o risco e aceitar o que se apresentava verdadeiramente como vital para minha existência”, rememora Poltronieri.
O choque de realidade
O artista fala dos percalços com os quais se deparou – e se depara – a partir do momento que optou por trilhar o caminho da arte. “As dificuldades se explicitam cotidianamente diante de uma realidade brasileira que elege a arte e a cultura como descartáveis, mas sigo sem arrependimentos ou insatisfações por ter tomado esse caminho”, garante, a acrescenta que “o carinho pelos amigos, pelas pessoas, pelo público, por mim mesmo, são geradores de sentidos para esta insistência.”
Além da arte
De acordo com Poltronieri, a “família do circo”, os amigos, colegas e parceiros de trabalho e de vida lhe possibilitam viver o circo como um universo dos afetos e atravessamentos fundamentais para sua formação humana, mais do que profissional.
O nascer de uma paixão
O rio-clarense relembra que, há vinte anos, em 1999, quando frequentava uma disciplina no Departamento de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), teve seus primeiros contatos com o circo, conhecendo e experimentando técnicas como o malabarismo, as acrobacias, saltos, trampolim, equilíbrios e comicidade. “Desde então, mergulhei e nunca mais saí deste universo bastante particular”, admite.
O aperfeiçoar da arte
Poltronieri afirma que procurou expandir seus conhecimentos e se especializar através do contato com mestres e mestras, cursos e escolas. “Dentre outros, cursos de comicidade excêntrica, comicidade física, palhaço, máscara, voz e ação vocal, malabarismo experimental, improvisação e mestres como Leris Colombaioni, Carlos Simioni (Lume), Ricardo Pucetti (Lume), Tiche Viana e Esio Magalhães (Barracão Teatro), Fernando Sampaio e Domingos Montagner (La Minima), Avner Eisenberg, Julie Goel, Wes Peden e Patrick Elmnert marcaram minha formação de modo bastante especial”, conta.
Sinônimo de existir
O artista confidencia que, atualmente, o circo faz parte integral de sua vida e a dedicação a ele lhe traz a possibilidade de ver, descobrir e experimentar sensações novas, até mesmo no movimento aparentemente repetitivo das coisas. “O mesmo número, o mesmo espetáculo mil vezes apresentado carrega em si novos risos, novos riscos e aplausos, carinhos, olhares, gestos e toques (no sentido de tocar o coração, a alma das pessoas). Novos encontros comigo e com o mundo que me rodeia”, expõe.
Cia Los Circo Los
Artista e co-fundador da Cia Los Circo Los, que este ano celebra uma trajetória de 15 anos, Poltronieri assevera que, sem dúvidas, é o lugar que foi lhe indicando caminhos de estudos, pesquisas, criações e ensaios cotidianos para dar forma ao que se sonha e acredita.
Evolução e encantamento
Vitor Celoria Poltronieri pondera que, desses 20 anos para cá, a diversificação dos espaços conquistados pelo circo foi grande, ganhando as ruas, os palcos dos teatros, as escolas e na iniciativa privada. O artista diz que, com isso, pode conhecer inúmeros lugares e pessoas mundo afora e afirma que, hoje, pensa e sente o circo como uma sedução, um encantamento. “Estar debaixo de uma lona de circo é uma experiência particular, aconchegante, um lugar onde sons e cheiros se misturam.
O picadeiro – lugar sagrado para nós, artistas – é invadido pela beleza e virtuose, pelo riso e o risco, pelo sagrado e profano, um lugar onde as trocas acontecem. E nessa caminhada, sigo com o desejo de chegar num outro lugar, sempre. E não digo isso com insatisfação ou descontentamento, apenas sei que esta escolha de vida é que excita e incita o meu movimento, meus passos para estar em lugares, sejam eles físicos ou abstratos. Estar! Presente! Estar!”, sacramenta Poltronieri.
Por fim, deixa uma citação de John Cleese, de 1939: “O riso nos liga às pessoas. É quase impossível qualquer tipo de distância ou noção de hierarquia social quando estamos simplesmente perdidos de riso. O riso é uma força democrática.”