Nesta edição o Diário do Rio Claro traz esclarecimentos sobre tratamento, tempo de internação e protocolos seguidos em pacientes positivados para COVID-19, em entrevista feita com a infectologista e diretora de Vigilância em Saúde da Fundação Municipal de Saúde de Rio Claro, Suzy Berbert. A especialista salienta a importância das pessoas se prevenirem com os equipamentos de segurança, observarem possíveis sintomas e respeitarem o isolamento social e distanciamento necessário para evitar o contágio.
MEDICAMENTOS
Suzy Berbert: Quanto aos medicamentos usados até agora, nenhum desses, pelo menos no Brasil, nenhum desses tiveram evidência de que realmente são eficazes no combate do vírus, não tem estudos, nem a Hidroxicloroquina mostrou evidências, Ivermectina não mostrou, o outro vermífugo também não mostrou evidências, provavelmente, eles agem in vitro mas não agem in vivo.
É essa a tendência atual da medicina a essas medicações. Tem muita gente que usou e curou, sim, mas também tem muita gente que não usou nada e se curou. A gente não pode esquecer que a cada 100 pessoas que têm coronavírus, 97 curam sem usar exatamente nada. Então é temeroso dizer que curou por causa de um remédio, porque provavelmente 97% teriam se curado com ou sem medicações.
USO COMPASIVO DE MEDICAMENTOS
Suzy Berbert: Fazíamos o uso compassivo de certas medicações para o paciente internado. A gente tinha protocolo para usar a Hidroxicloroquina. O uso compassivo é aquela situação em que você vê que o paciente está piorando e você não tem nada a oferecer, mesmo sem estudos, acaba optando por utilizar o remédio fora da bula que a gente chama. Essas medicações de uso compassivo, muitas já são consideradas cartas fora do baralho, para pacientes internados. Por exemplo, a Hidroxicloroquina não se mostrou eficaz, então isso já foi retirado da maioria dos locais, onde se fazia a Hidroxicloroquina para pacientes internados.
Hoje, a gente até deixa a critério médico o uso de medicações para uso compassivo em pacientes internados, mas não tem nenhum respaldo de literatura, não tem nenhum documento, ou estudo que realmente prove que algum deles funcione, não é protocolar. Também é importante ressaltar que os serviços que ainda deixam a critério o uso da Hidroxicloroquina ou Ivermectina, precisam explicar para o paciente que não existe dado nenhum confirmando a eficácia e deixar claro os riscos de efeitos colaterais, sobretudo com a Hidroxicloroquina. Esse é o tratamento antiviral.
PROTOCOLO PARA INTERNADOS
Suzy Berbert: Por outro lado, tem o tratamento do suporte ventilatório, todos os cuidados que a pessoa recebe quando é internada, a anticoagulação, remédios anti-inflamatórios, isso sim existe um protocolo, uma tendência dos serviços utilizarem esses protocolos, como eu falei o uso de anticoagulantes, o uso de corticoides que é um tipo de anti-inflamatório em determinadas fases da doença. Esses tratamentos e todo suporte, isso é bem padronizado e temos protocolos escritos que são utilizados para cada pessoa que interna.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO DO VÍRUS
Suzy Berbert: Qualquer pessoa que tenha tido contato com alguém suspeito ou confirmado de Covid deve ficar atenta. Normalmente, o período de incubação é de cinco dias, mas pode ser um pouco maior, então, pelo menos 10 dias ficar de olho se apresenta algum sintoma.
TIVE CONTATO, POSSO ESTAR INFECTADO?
Suzy Berbert: É importante a gente falar sobre o que é um contato. A gente considera um contato significativo, um contato próximo, você ter falado com uma pessoa com menos de um metro de distância sem máscaras por um período maior do que 15 minutos. Os residentes em domicílio também são considerados contatos próximos, então, temos outra regra.
Se tem alguma pessoa positivada ou com suspeita de Covid num domicílio, normalmente afasta as pessoas que moram no mesmo local, mesmo não apresentando sintomas, isso só não se aplica em algumas situações excepcionais. Se a pessoa trabalha em uma área essencial, poderá manter o trabalho desde que utilize máscaras e equipamentos de proteção, só que se tiver algum sintoma tem que ser afastada também. A ideia é essa, se teve contato próximo com alguém com Covid, preste atenção se vai desenvolver os sintomas e use todos os equipamentos e cuidado com a higienização das mãos para que não passe a doença.
CONTÁGIO
Suzy Berbert: Essa questão do contágio é muito importante falar, a pessoa diz que teve contato com alguém que teve contato com outra com suspeita de Covid. Tem uma noção de que a doença se propaga de uma maneira muito mais intensa do que realmente é. Então, para eu pegar a doença eu tenho que respirar perto da outra pessoa que está com vírus ou tocar em gotículas, tocar em partículas contaminadas e a seguir eu tocar a minha boca, os meus olhos e a minha mucosa.
Tem alguns estudos mostrando que a taxa de contaminação dentro de um domicílio fica em torno de 20%, então não é uma sentença que, eu tive contato com alguém com Covid e vou pegar. Tem um estudo grande também de profissionais de saúde que atenderam casos, sem máscaras, lá no começo da pandemia, e o contágio foi de 30%. Tem casos inclusive em que o marido pega e a esposa não, ou vice e versa. São coisas que não temos ainda uma explicação completa, mas a taxa de transmissão não é tão alta assim que todo mundo que tenha contato vai ter a doença.
SEM CURA
Suzy Berbert: Quando a gente fala em cura, falando em cura virológica, pensamos em algum remédio que iniba a multiplicação viral. Estudos, por exemplo fora do Brasil, mencionam um antiviral que não é licenciado aqui, mostrou um efeito, mas está longe de dizer que é definitivo que é a cura. Quando fala em cura, falamos de remédio que atacou o vírus e se mostrou eficaz, e isso não temos.
Tem os protocolos de assistência ao paciente, isso já tem coisas bem definidas, como usar o tipo de ventilação, o tipo de posição que o paciente vai ficar, ou usar anticoagulação em uma determinada fase, tem o estudo que mostrou que o uso do corticoide, que é um anti-inflamatório, a partir do sétimo dia em pacientes internados que tem determinados critérios, diminuiu as chances de óbitos, mas nada definitivo que fale que vai fazer diferença, não temos isso ainda.
PROCEDIMENTOS PARA INTERNAÇÃO
Suzy Berbert: Isso também temos protocolos escritos. Chega o paciente no Pronto Atendimento público ou privado é feita uma classificação de risco que leva em consideração a taxa de oxigênio no sangue, leva em consideração se tem alterações radiológicas, como no Raio-x e tomografia, então existe uma classificação de risco que fornece uma pontuação e à partir disso o médico avalia se é necessário internar ou não.
GRAVIDADE
A média da internação vai depender da gravidade, recebemos pacientes com todo tipo de gravidade, claro que a internação não é feita para casos leves, mas para casos moderados a graves, e tem pessoas que já chegam numa situação de maior gravidade. Então, essas internações de Covid de maior gravidade levam semanas para se resolver, o que dificulta ainda mais a questão da disponibilidade de leitos, mas tem casos que em três ou quatro dias já se tem alta, vai depender do estado inicial e a resposta da pessoa.
TIVE COVID, POSSO TER NOVAMENTE?
Suzy Berbert: Alguém curado, apesar da medicina não ter 100% de certeza, tudo indica que quem teve Covid está protegido de ter novamente pelo menos nos próximos anos, é uma evidência que até agora não foi desmentida, não tem coisas ao contrário falando que uma pessoa pode pegar duas vezes, então quem teve a doença a gente pode deduzir com certa segurança que está protegido e não terá de novo.
A pessoa que não teve sintomas, fez o exame e descobriu, por exemplo, que tem anticorpos, mas não teve sintomas, tem uns estudos mostrando que com o passar do tempo a quantidade desses anticorpos cai, mas isso também não significa que a pessoa terá a doença, eu posso ter poucos anticorpos e serem suficientes para me proteger. Ainda não é uma conclusão, não existe uma evidência disso, só tem estudo mostrando que essas pessoas que não tem sintomas tendem a ter uma queda mais rápida de anticorpos, não significando que ela não esteja protegida, é preciso observar essas pessoas para uma conclusão final.

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