Coluna MAMÃE Profissa por Janaína Moro
Em um diálogo, eu disse a João Lucca, de 5 anos: “Acho que vou precisar sair e ir ao mercado”. A resposta foi enfática: “Mamãe, se esqueceu que não pode sair por causa do Coronavírus?” Sim, estamos seguindo à risca recomendações da quarentena, sem sair de casa, já que estou conseguindo trabalhar em Home Office. A única vez foi essa mesmo para ir ao mercado, compras sem exageros e se virando com o que tem.
Alguns amigos chegaram a perguntar como eu estava abordando o cenário atual com ele, se falamos do coronavírus, o que é, os cuidados e o motivo pelo qual estamos em casa. A resposta é SIM. E neste dia, se caso precisasse sair, veio outro diálogo explicando que nem todos conseguem ficar em casa, quais são os serviços essenciais e que não pararam, assim por diante.
Expliquei sim o que é a doença e o que ela vem causando, mas claro, tive dúvidas se estava levantando a questão de forma correta para a idade dele. Para ajudar a todos nós, pais e responsáveis, recorri à psicóloga Hellen Covre Trovó, CRP 06/110746, que destacou que o diálogo é sempre de extrema importância. “Neste novo cenário envolvendo a pandemia de COVID-19, todos nós fomos convidados a repensar as nossas relações.
E acredito que, para muitos, este tem sido um momento de angústia, incerteza e insegurança, mas este também pode ser um momento de aprendizado, resiliência e ressignificação. O primeiro ponto que eu gosto de orientar os pais é que uma conversa honesta, levando em consideração o amadurecimento emocional de cada criança, é muito importante. As crianças não estão de férias. Não dá para achar que a criança não percebeu ou não vai entender o que está acontecendo. Comece descobrindo o quanto ela já sabe sobre o assunto e siga a partir daí”, orientou.
Segundo a especialista, a explicação precisa ser feita de forma simples, de modo que a criança entenda o que está sendo explicado, lembrando sempre de abrir espaço para que a criança esclareça suas dúvidas.
E alerta. “Às vezes, na ânsia de orientá-las, nós fornecemos muito mais informações do que elas precisam. Então, invista em uma comunicação clara, honesta e responda todas as dúvidas que surgirem. É importante lembrar de não minimizar os sentimentos da criança”, recomendou.
APROVEITE O TEMPO PARA REFLETIR
O momento é também para refletir e incentivar seres humanos melhores com os outros e o universo. “A gente tem corrido tanto, a gente tem um dia a dia que muitas vezes não nos permite olhar para o desenvolvimento humano das nossas crianças. Será que este momento não pode contribuir para uma reorganização neste sentido? Aproveite este momento para ensinar conceitos valorosos para os seus filhos, por exemplo: a empatia, a resiliência, o respeito, a paciência, o limite, a responsabilidade, a generosidade. Nós só não podemos nos esquecer que, mesmo os nossos filhos absorvendo o que nós dizemos, não adianta muita coisa quando o nosso discurso vai na direção oposta ao nosso comportamento.
O que dizemos e o que eles nos veem fazendo precisam estar alinhados. Não será muito eficiente dizer aos nossos filhos que precisamos ter paciência e sermos impacientes com todos à nossa volta, não dá para ensinar sobre respeito e ser desrespeitoso com as pessoas. O nosso discurso orienta, mas o nosso exemplo ‘arrasta’. Sabe aquele futuro que a gente deseja que seja melhor? Ele depende diretamente da maneira como nós estamos contribuindo para a construção das nossas crianças”, observou.
Uma outra dica é aproveitar o tempo extra e investir no fortalecimento do vínculo através de brincadeiras, atividades artísticas, atividade física, rotina do dia a dia, leitura, qualidade de tempo, etc. Mas, não esqueça que os momentos de ócio e tédio são momentos importantes para o desenvolvimento dos pequenos.
Opte por uma rotina que contemple tanto os momentos de atividade, quanto os de não fazer nada. “O distanciamento social foi uma imposição, mas a maneira como nós iremos vivenciá-lo está em nossas mãos. Que apesar de toda angústia e incerteza a gente possa ressignificar uma porção de coisas. Nós, adultos, também sentimos medo, não temos todas as respostas, nós também precisamos lidar com as nossas frustrações, não podemos controlar tudo.
Utilizem esse convite para ressignificar a sua relação com o trabalho, a relação familiar, as prioridades, as suas vulnerabilidades. Seja responsável, generoso e afetuoso com todos à sua volta, mas não esqueça que essa mesma responsabilidade, generosidade e afeto precisam ser direcionados a você próprio. E que quando isso tudo passar a gente tenha ensinado algo e aprendido muito”, destacou a psicóloga Hellen Covre Trovó.
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